Quem é Luke Skywalker?
Uma das fontes de inspiração para George Lucas foi a obra do mitólogo norte-americano Joseph Campbell The Hero with a Thousand Faces (1949) – na trilogia original, Luke Skywalker faz o caminho do herói. Da sua vida banal, que contraria o seu desejo de aventura, parte ao encontro de forças sobrenaturais e opositores fabulosos, passando por testes que o impulsionam até à vitória. Estas são as muitas caras de Luke Skywalker e do actor Mark Hamill.
A estrela da novela
Um filho do Exército, o futuro actor Mark Hamill cresceu em bases norte-americanas nos EUA e no Japão. Em Los Angeles, começa a arriscar tornar-se actor. Entra como personagem regular na soap opera/telenovela General Hospital em 1972 depois da sua primeira grande oportunidade em televisão – uma participação no Bill Cosby Show em 1970.
A mão de Freddy Krueger
Em 1975 tem uma mãozinha do futuro Freddy Krueger: dividia casa com o actor Robert Englund, que lhe falou das audições que George Lucas e Brian De Palma estavam a fazer para Guerra das Estrelas e Carrie. O casting mudou a sua vida.
I'm Luke Skywalker. I'm here to rescue you.
Na casa de Mark Hamill moram o seu sabre de luz, herdado de Obi-Wan Kenobi, e o capacete com que salvou a Princesa Leia. Depois de filmagens atribuladas e muitas dúvidas sobre o invulgar produto que estavam a fazer, o loiro de olhos azuis foi catapultado para a fama. Era o herói, o rapazinho do planeta dos sóis gémeos de Tatooine que dava tiros em womp rats com o seu T-16 e que acabaria por dar o tiro certeiro que destruiria a Estrela da Morte.
O herói com um novo rosto
Em Janeiro de 1977, antes da estreia do Episódio IV em Maio, Hamill guiava o seu novo BMW numa auto-estrada na Califórnia. Um acidente destruiu-lhe os ossos do nariz e das maçãs do rosto. No muito criticado Especial de Natal Star Wars de 1978, ainda estava em recuperação de cirurgias, coberto de maquilhagem e sob o efeito de medicação. O seu rosto não seria mais o mesmo.
"Nãããããooooo"
Em 1980, estreava-se um novo Star Wars e um novo Luke Skywalker. Mais maduro, mais conhecedor. Primeiro na base rebelde no planeta gelado de Hoth – atacado por um peludo wampa que lhe “feriria” o rosto e ajustaria o olhar do público - depois nos pântanos de Dagobah, o herói passa por um novo ordálio. Aprende com o mestre Yoda, tem alucinações com Vader e acaba por descobrir quem é o seu pai.
Há outro Skywalker
Depois de ter participado em peças na Broadway e de ter filmado com Samuel Fuller em The Big Red One (1980), Mark Hamill volta ao papel que seguramente, no futuro, encimará o seu obituário: Luke, uma figura mais confiante (premonitoriamente) vestida de negro salva Han Solo e Leia Organa, confronta o vilão dos vilões (O Imperador) e, no meio de farfalhudos Ewoks, celebra com os espectros dos seus mentores o restabelecimento da liberdade na Galáxia e um novo membro da sua família.
A voz e o trickster
“Nunca poderia ser Harrison”, disse Hamill há 14 anos aos leitores da revista de cinema Empire sobre o percurso da sua carreira, menos estelar do que a de Ford. Um apaixonado por comics e um dotado actor de vozes, tornou-se um dos mais prolíficos trabalhadores na área, desde as séries animadas e videojogos de Batman à série The Flash, onde é The Trickster.
O fantasma do sabre de luz
Em Jay and Silent Bob Strike Again, do fã de Star Wars e autor do cinema slacker Kevin Smith, Hamill volta ao cinema como Cocknocker, um vilão com um sabre de luz. Em 2013, Lucas sentou-o à mesa e disse-lhe que haveria mais filmes Star Wars. “Fiquei em estado de choque… não consegui dizer sim ou não. Mas mais tarde pensei ‘Não é uma escolha. É como se tivesse sido recrutado para o serviço militar. Imaginem que, por alguma razão, tinha dito que não queria fazê-lo?”, perguntou a fãs numa convenção. “Seria a pessoa mais odiada entre os fãs”.
Um homem numa ilha remota
Em Julho de 2014, na longínqua ilha de Skellig Michael, ao largo da Irlanda, um homem de barba aparecia com uma equipa hollywoodesca em Portmagee. Esse homem era Mark Hamill e pediu, segundo conta o New York Times, conselhos aos locais sobre como subir as perigosas e escarpadas escadas de 618 degraus de pedra íngremes e desiguais que já mataram pessoas. “Nunca, nunca olhe para baixo”, disseram-lhe. Terá sido útil para o regresso a Star Wars?
O Despertar da Força
Um dos pontos de partida para O Despertar da Força foi a pergunta “Quem é Luke Skywalker?”, feita pela produtora e presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, ao realizador J.J. Abrams. A terceira trilogia faria essa pergunta e, no filme realizado por Abrams, revelar-se-ia que uma personagem pode ser tão poderosa quanto a sua ausência. Luke Skywalker é aquele que todos procuram, um Jedi eremita dilacerado pela traição do sobrinho e um possível mentor para a jovem Rey. Na cena final, surge pela primeira vez num filme Star Wars depois de 32 anos. Luke está sob um capuz, o seu rosto marcado pelo tempo. O que diz? Nada.
