Os estaleiros de Hoboken

No final do século XIX, Hoboken transformara-se numa fervilhante plataforma portuária e intersecção de vários transportes na ligação a Nova Iorque. Além de porta de entrada na Big Apple para os americanos vindos de outras áreas do país, tornou-se um importante porto transatlântico onde se fixaram delegações de várias companhias de navegação europeias.

Essa estrutura atraiu diversas comunidades imigrantes, europeias e asiáticas, que procuravam emprego nos portos. A Grande Depressão tornaria ainda mais difícil a sobrevivência dessas já fragilizadas comunidades. Frank Sinatra tinha 13 anos quando, em 1929, se deu o “crash” em Wall Street que espoletou os anos de miséria e ruína económica

Sinatra na prisão

Foto tirada quando da prisão de Frank Sinatra a 27 de Novembro de 1938, acusado de sedução de uma mulher até então de moral impoluta.

Uma das mais icónicas fotos do jovem Frank Sinatra foi tirada pela polícia a 27 de Novembro de 1938 e é ainda hoje olhada como símbolo da rebeldia que associamos ao seu percurso. Porém, ao contrário de um Johnny Cash, preso por espatifar carros ou por carregar consigo comprimidos traficados desde o México, a prisão de Frank Sinatra aos 22 anos diz mais sobre a hipocrisia puritana dos Estados Unidos de então que sobre a rebeldia do cantor.

"Prisioner of Love"

Sinatra passou 16 horas atrás nas celas da prisão de Bergen County acusado de “sedução”, ou seja, de ter tido relações sexuais com uma mulher de reputação impoluta sob a falsa promessa de casamento. A queixa cairia, mas, um ano depois, Sinatra via-se de novo a braços com a justiça. Descobrira-se que a queixosa era, afinal, casada e a acusação passou de “sedução” a “adultério” – queixa que acabaria também por cair, sem consequências para Sinatra.

The Rustic Cabin

Os 3 Flashes, depois Hoboken 4, primeira experiência musical séria de Frank Sinatra, actuavam regularmente no Rustic Cabin, restaurante e bar em Englewood Cliffs, New Jersey. Seria nele que Sinatra teria a sua primeira experiência profissional. Trabalhava como cantor e empregado de mesa, mas via mais longe que as quatro paredes daquele edifício.

Era a partir do Rustic Cabin que se emitia o Dance Parade Show, programa da rádio nova-iorquina WNEW, e Frank Sinatra era a voz protagonista. Foi numa emissão do programa que o trompetista Harry James o ouviu pela primeira vez. Pouco tempo depois, confirmou ao vivo o talento que intuíra pela rádio e contratou Sinatra para a sua big-band.

“All or Nothing All”, gravado com Harry James, seria um dos primeiros grandes sucessos de Sinatra. Quando escalou nos topes, em 1941, o cantor já trocara a banda de Harry James pela de Tommy Dorsey, o então todo-poderoso trombonista. Passaria três anos enquanto vocalista principal de Dorsey, no decorrer dos quais se tornou maior que a banda que acompanhava. Em 1942, iniciou o seu percurso a solo. Frank Sinatra, the Voice, anunciava-se definitivamente.

Emigrantes

Na ressaca da Guerra Civil americana (1861-1865), que acumulou cerca de meio milhão de mortos, os Estados Unidos precisavam de mão-de-obra para reconstruir o país. Entretanto, o turbulento processo de unificação da Itália, o Risorgimento, completado em 1870, resultou na imigração em massa da empobrecida população do sul do país. Entre 1880 e 1920, quatro milhões de italianos, cerca de 80 por cento deles vindos do sul, atravessaram o Atlântico para procurar novas oportunidades nos Estados Unidos. Dois deles foram os pais de Frank Sinatra.

Enrico Caruso - "Una Furtiva Lagrima" (1904)

Dolly, nascida Natalina Maria Vitora Garaventa, em Génova, no dia 26 de Dezembro de 1896, imigrou com a família dois meses depois de nascer. Anthony Martin Sinatra, nascido Saverio Antonino Martino Sinatra, em Lercara Friddi, pequena localidade a 45 quilómetros de Palermo, a 4 de Maio de 1892, viu a Estátua da Liberdade em 1903, quando viajou de Itália com a sua mãe e irmãs para se reunir ao pai, que fizera o mesmo percurso anos antes. Dolly e Anthony casaram-se em 1913.

O Nascimento

Frank Sinatra nasceu a 12 de Dezembro de 1915 num apartamento do número 415 de Monroe Street, em Hoboken, New Jersey. Recordaria esse momento todos os dias da sua vida. Bastaria olhar-se ao espelho para ver, no lado esquerdo do rosto, as cicatrizes que os fórceps utilizados no parto lhe deixaram no pescoço e na orelha.

A I Grande Guerra marcou a geração dos pais de Sinatra, que viram os seus novos concidadãos americanos partirem para combater no continente que haviam deixado em busca de melhores condições de vida".

Logo após o nascimento, o médico concentrou-se na mãe enfraquecida, deixando de lado o bebé que não respirava e que, julgava ele, não sobreviveria. Seria a avó de Frank Sinatra a salvar-lhe a vida, reanimando-o ao banhá-lo em água fria. O sentimento de abandono seria recordado várias vezes por ele ao longo da vida. “Não se preocuparam comigo, apenas com a minha mãe. Rasgaram-me cá para fora e atiraram-me para um canto”.

Dolly

O jovem Frank Sinatra, diziam os seus amigos das ruas de Hoboken, era o miúdo mais bem vestido da cidade. A responsabilidade era de Dolly Sinatra, que fazia questão de utilizar as poupanças na elegância do filho. Mulher de armas, extremamente influente no crescimento do filho, dominadora, tornou-se uma figura influente em Hoboken.

Trabalhava como parteira e, durante a Grande Depressão, terá também dirigido uma clínica de abortos ilegal. Geria um pub familiar, o Marty O’Brien’s (baptizado com o pseudónimo do marido enquanto pugilista), e, dada a sua facilidade nas dezenas de dialectos italianos, tornou-se uma figura influente na comunidade, ajudando a acolher e legalizar os imigrantes italianos chegados a Hoboken. Foi a primeira mulher imigrante a tornar-se representante local do Partido Democrata. Dolly Sinatra morreu a 6 de Janeiro de 1977, quando se despenhou o avião em que viajava para assistir a um concerto do filho em Las Vegas.

Anthony Martin

Homem de poucas palavras, o oposto em temperamento da extrovertida e muito activa Dolly Sinatra, sua mulher, Anthony Martin Sinatra aprendeu o ofício de sapateiro à chegada aos Estados Unidos, aos 11 anos, em 1903. A sua primeira profissão seria, porém, a de pugilista (Peso-Galo, ou seja, até 55,3 quilos). Não como Anthony Sinatra, mas enquanto Marty O’Brien, pseudónimo necessário devido a discriminação que os italo-americanos sofriam num desporto dominado pela comunidade irlandesa. À carreira breve e de pouco sucesso seguiu-se, por intermédio de Dolly, o trabalho enquanto bombeiro no regimento local, no qual atingiu a posição de capitão.

Descontente com o desejo do filho Frank em seguir uma carreira na música, expulsa-o de casa em 1936, atirando-o definitivamente para os braços da fervilhante Nova Iorque. Sinatra recorda que, apesar de nunca ter ouvido do pai um elogio à sua carreira, o surpreendeu, já adulto e no topo do mundo, a barbear-se em casa. O armário da casa-de-banho estava totalmente coberto de recortes de jornal assinalando os sucessos do filho.

A rádio a tocar

Billie Holiday – “Autumn in New York” (1952)
Bing Cosby – “Swinging on a star” (1944)

A rádio, o grande media de massas que irrompeu com estrondo nas primeiras décadas do século XX, foi fundamental para a formação do jovem Sinatra aspirante a músico, a par, claro, dos clubes da 52nd Street de Nova Iorque onde viu os grandes nomes do jazz dos anos 1930. Modelou-se em Bing Crosby, a primeira estrela pop da canção americana, que idolatrava ao ponto de, durante algum tempo, lhe imitar a pose com cachimbo no canto da boca. E retirou de Louis Armstrong e de Billie Holiday, dois gigantes do jazz, lições fundamentais de fraseado e técnica musical.

Frank e Nancy

Frank conheceu Nancy Barbato numas férias de Verão em Long Branch, New Jersey, quando tinha 19 anos. Ambos de ascendência italiana, casariam cinco anos depois, a 4 de Fevereiro de 1939. Nancy conheceu o antes e o depois, ou seja, o jovem Sinatra aspirante a cantor de sucesso e a estrela cujas fãs provocavam motins à porta das salas de espectáculos em que actuava. Tiveram juntos três filhos, Nancy, Frank Sinatra Jr. e Tina, esta já nascida em Los Angeles.

“Love and marriage” (1955)

Os próximos de Sinatra afirmam que este via Tina, com óbvios contornos misóginos, como a típica mulher italiana, ou seja, aquela que cuidaria do lar, do bom spaghetti na mesa e dos filhos. As relações extraconjugais de Frank, principalmente a muito publicitada com Ava Gardner, com quem depois se casaria, conduziram ao divórcio em 1951. Nancy Barbato, hoje com 97 anos, nunca voltou a casar-se.

“Nancy (with the laughing face)” (1945)

Os 3 Flashes e os Hoboken 4

Os Hoboken 4, o primeiro grupo de Frank Sinatra. Ao centro, Major Bowes, o promotor do concurso de talentos Major Bowes’ Amateur Hour que os Hoboken venceriam em Setembro de 1935

Primeiro existiam os 3 Flashes. Depois apareceu um miúdo de 19 anos que o trio achou interessante pelo facto de ser proprietário de um carro e, portanto, poder transportar James Petrozelli, Patrick Principe e Fred Tamburro para os concertos fora de Hoboken. A insistência do miúdo, Frank Sinatra, em juntar-se ao grupo deu frutos em 1935 e os 3 Flashes passaram a ser os Hoboken 4.

Foi com esse grupo que Sinatra sentiu o doce sabor do sucesso pela primeira vez, quando o quarteto saiu vitorioso do concurso de talentos Major Bowes Amateur Hour. Da actuação emitida pela rádio resultaram 40 mil votos dos ouvintes, um pagamento de 12,5 dólares e o primeiro prémio: o contracto para uma digressão de seis meses pelos Estados Unidos. Frank não a completaria. À medida que esta avançava, tornou-se o vocalista principal do grupo e alvo de todas as atenções do público feminino, o que, aliado às difíceis condições logísticas da viagem e às saudades de casa, o levou a abandonar o grupo e regressar a Hoboken.

Frank e Ava (e um copo no clube)

Frank Sinatra e Ava Gardner (sem data)

Ava Gardner e Frank Sinatra conheceram-se quando ela estava casada com o também actor Mickey Rooney e ele com o amor da adolescência Nancy Barbato. Quando os apresentaram, Frank terá comentado: “Porque é que não te conheci antes? Terias casado comigo em vez de casar com o Mickey”. A mais bela actriz do seu tempo, protagonista de “The Killers”, “The Barefoot Condessa” ou “Mogambo”, e o mais sedutor cantor da sua era acabaram mesmo por casar, em 1951, e por criar a história de um dos mais míticos romances da era moderna.

“I’ve got you under my skin”, do álbum “Songs for swingin’ lovers” (1956)

Impetuosos e temperamentais, eram demasiado parecidos para conseguirem manter uma relação minimamente estável. Atacados pelos meios conservadores quando do casamento (Ava acusada de destruidora de lares, Sinatra de ter abandonado mulher e três filhos), nunca viveram verdadeiro idílio, a não ser em alguns dos momentos em que partilhavam mesa e copos, duas paixões de ambos, em clubes como o Tropicana.

"In the wee small hours of the morning”, do álbum “In The Wee Small Hours” (1955)

Separaram-se em 1957, quando já não eram verdadeiramente um casal, e deixaram para trás um sem fim de discussões e desencontros, de cortes e reatamentos, de afastamento declarado – o dela, que entretanto vivia um romance com o toureiro espanhol Luis Miguel Dominguín – e de doloroso desespero – o dele, que por duas vezes tentou o suicídio, mais para chamar a atenção dela, diz-se, que por verdadeiro desejo de morrer.

Columbia Records

A Columbia Records foi a casa da primeira fase da carreira de Frank Sinatra, aquela em que a estrela adorada por adolescentes (tinha mais de mil clubes de fãs espalhadas pelos Estados Unidos) mostrou à indústria que havia mercado, muito mercado, para os fãs juvenis de música. Conseguiu fazê-lo, e isso é medida do seu génio, patente na sua voz e capacidade interpretativa, mas também na escolha daqueles com quem trabalhava, gravando música que se erguia bem acima do descartável para mascar e deitar fora.

“Farewell, farewell to love” (1951)

Com o orquestrador Axel Stordahl, dois anos mais velho que Sinatra, filho de emigrantes noruegueses, Sinatra assinalou o fim da era das big bands e abriu caminho para a canção jazz de apelo pop. No estúdio, enquanto Stordahl dirigia com a orquestra os arranjos sofisticados que compunha para se adequarem na perfeição ao cantor, Sinatra encantava com o alcance e precisão da sua voz e mostrava-se um músico de vastos recursos, tão admirador do talento alheio quanto implacável para aqueles que não sentia à sua altura – “já sabes onde vais tocar na próxima semana?”, lançava, sobrancelha erguida, quando, entre as dezenas de elementos da orquestra, identificava um erro, por mínimo que fosse, a um dos músicos.

“Hello, young lovers” (1951)
“I fall in love too easily” (1945)
“I’m a fool to want you” (1951)
“Walking in the sunshine” (1952)

Madison Square Garden, 1974

Em 1971, perante o espanto geral, Frank Sinatra anunciou a sua retirada dos palcos e dos estúdios. Pretendia, disse na altura, dedicar mais tempo à família e à escrita. Não suportou muito tempo a reforma. Três anos depois, The Voice regressava para um concerto no Madison Square Garden. 20 mil viram-no no histórica sala nova-iorquina, milhões assistiram à actuação na televisão.

O palco foi desenhado à imagem de um ringue de boxe: Sinatra apresentado como o campeão dos campeões. No mesmo ano, foi editado o álbum do concerto, “The Main Event - Live”. Frank Sinatra renascia novamente, tornando-se acima de tudo um artista de palco percorrendo o mundo para celebrar o seu riquíssimo legado.

Ícones

Um ícone nova-iorquino, o Empire State Building. Outro: Sinatra, o das canções.

Frank Sinatra e Tom Jobim editaram em 1967 o álbum “Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim”. Vemo-los aqui numa actuação conjunta na televisão americana.
-“New York, New York” (1979)
-“I get a kick out of you” (1954)

Paramount Theater, 1943

Frank Sinatra deixara a banda de Tommy Dorsey em Setembro de 1942. Três meses depois, perceberia com estrondo que a sua carreira mudara. A lenda do “The Voice” nasceria na noite de passagem de ano de 1942/1943 no Paramount Theater. Benny Goodman, porventura o mais célebre dos líderes de big bands da era do swing, terminara o seu set. Quando Sinatra é apresentado erguem-se cinco mil vozes em gritos e aplausos. Benny Goodman vira-se de costas para o público e sussurra: “Que raio foi isto?” Aquilo fora Frank Sinatra entronizado como estrela pop idolatrado pelas “Bobby soxers”, designação atribuída às adolescentes que seguiam com fervor nada discreto as estrelas da canção.

O sucesso foi tal que a actuação, inicialmente pensada como única, se transformou em residência de dois meses, durante as quais Sinatra dava cerca de seis espectáculos por dia, o primeiro às 8h10 da manhã – num dos dias terá dado mesmo onze concertos, o primeiro iniciado às 8h10, o último encerrado às 2h30 do dia seguinte.

Todas as madrugadas, repetia-se o cenário às portas do Paramount: centenas de adolescentes alinhadas, indiferentes ao frio e à neve, para conseguir um lugar no concerto do ainda “young blue eyes”.

Sinatra não vai à guerra

Frank Sinatra foi a voz que embalou os americanos durante a Segunda Guerra Mundial, serenando o ruído ensurdecedor das batalhas na Europa e as agruras de um país em combate com as suas doces baladas (“I’ll never smile again” tornou-se canção de eleição para os casais separados pelo conflito). Acontece que Sinatra, ao contrário de estrelas como James Stewart ou Clark Gable, não participou nos esforços de guerra, nem se voluntariou para um lugar no exército, qualquer lugar, como Glenn Miller.

Sofreu por isso a crítica de soldados que se queixavam de estarem a combater enquanto ele, em segurança, roubava os corações das americanas, e enfrentou a fúria da imprensa tablóide e da mais conservadora, que chegou a acusá-lo de ter escapado ao alistamento no exército com um suborno de 40 mil dólares. A verdade, porém, é que fora declarado inapto devido a um tímpano perfurado, sequela, para além das cicatrizes no rosto, deixada pelos fórceps nele aplicados nele durante o parto.

Capitol Records

“I get along without very well”, do álbum “In the Wee Small Hours” (1955)

Quando em 1953 Frank Sinatra ganha o Óscar de Melhor Actor Secundário pela interpretação do soldado Maggio em “Até à Eternidade”, tal não assinalou simplesmente o seu regresso à ribalta depois dos anos em que fora dado como acabado, nada mais que um ex-ídolo para adolescentes que seria rapidamente esquecido. Meses antes, assinara contrato com a Capitol. E seria na Capitol, incluindo os míticos estúdios que a editora construiu de raiz em Los Angeles, em 1956, que registaria os mais esplendorosos anos da sua carreira.

Unindo-se a Nelson Riddle, um orquestrador de excepção que trabalhara anteriormente, por exemplo, com Nat King Cole, encontrou um par para o seu génio. No compositor Jimmy Van Heusen e no letrista Sammy Cahn, amigos desde tempos anteriores, teve os parceiros ideais para a sua passagem à idade adulta, quer na forma como cantou a solidão, o desencanto e o desgosto de amor, quer como deu continuidade à sua tradição jazz de coração pop – isto sem esquecer Gordon Jenkins que, quando Sinatra já fundara a Reprise Records, orquestrou o magnífico “September of My Years” (1965).

“(Love is) the tender trap”, da banda-sonora do filme “The Tender Trap” (1955)

Primeiro surgia o título, que sugeria todo o ambiente musical do álbum – upbeat em “Songs for Swingin’ Lovers”, nocturno e melancólico em “In the Wee Small Hours”. Depois, criava-se ou procurava-se repertório (nos indispensáveis Cole Porter, George Gershwin, Irving Berlin ou Rodgers and Hart), Nelson Riddle trabalhava as orquestrações, Frank Sinatra colocava-se no centro da orquestra no estúdio e libertava a sua magnífica voz. Nascia o melhor Sinatra de todos, o “poeta laureado da solidão”, a voz de álbuns como “Close to You”, “A Swinging Affair” ou “Only the Lonely”, sem esquecer os dois supracitados, “In the Wee Small Hours” e “Songs for Swingin’ Lovers”.

“Nice’n’easy”, do álbum homónimo (1960)
“Only the lonely”, do álbum homónimo (1958)
“What is this thing called love”, do álbum “In the Wee Small Hours” (1955)
“You make me feel so young”, do álbum “Songs for Swingin’ Lovers” (1956)
“Accidents will happen” (1950)

Ahmanson Theater, 1971

“Watertown”, álbum conceptual editado em 1970, tinha sido um verdadeiro flop comercial, vendendo meras 30 mil cópias. O mundo estava a mudar rapidamente e Frank Sinatra sentia-se cansado por não quererem ouvir as suas novas canções e por ter que repetir, noite após noite, os mesmos velhos standards. No ano seguinte, uma bomba: Sinatra iria abandonar a carreira artística para se dedicar a um longo descanso, depois de mais de três décadas vividas freneticamente no coração do “showbiz”.

O concerto de despedida teve lugar no Ahmanson Theater, em Los Angeles, e entre o público, além de todos os seus companheiros do mundo do espectáculo, estavam Ronald Reagan, Henry Kissinger ou Grace Kelly, a estrela de Hollywood que se tornara princesa do Mónaco. Frank Sinatra arrancou com “All or nothing at all”, “onde tudo começou”, disse desde o palco, passou por “I’ve got you under my skin”, “That’s life”, “Fly me to the moon”, “My way” ou “Lady is tramp”. A décima primeira e última canção do concerto foi “Angel eyes”. Cigarro na mão, iluminado a contraluz, saiu de palco ao sabor dos últimos versos: “Excuse me while I leave”.

O concerto de despedida, à volta do qual se estrutura o óptimo documentário de quatro horas “All or Nothing at All”, realizador por Alex Gibney e agora editado em DVD, pretendia assinalar a reforma de Sinatra, mas Sinatra não se sentiu bem na pele de aposentado. Três anos depois, estava de volta aos palcos.

“Luzes, câmara, acção!”

Bing Crosby tinha apontado o caminho, ao aumentar a sua popularidade para níveis estratosféricos quando juntou a carreira cinematográfica à discográfica. Frank Sinatra seguiu-lhe caminho tão cedo quanto 1944, quando tem a sua estreia como protagonista, interpretando-se a si próprio em “Higher and Higher”. Esta primeira fase seria marcada pela presença em musicais como “Anchors Aweigh” ou “Um Dia em Nova Iorque”, onde, com o incentivo do co-protagonista Gene Kelly, começa a levar mais a sério uma arte para a qual não se julgava talhado (e para cujos lentos ritmos das rodagens demonstrava pouca tolerância).

Genérico de abertura de “O Homem do Braço de Ouro”, música de Elmer Bernstein, arte gráfica de Saul Bass

Seria na década de 1950, depois do despedimento da Metro Goldwyn Mayer durante o período mais negro da sua carreira, que se revelaria um óptimo intérprete de papéis dramáticos. “Até à Eternidade”, de Fred Zinnemann, em que interpreta Maggio, temperamental mas de bom coração, que via como fotocópia de si próprio (a seu lado, Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr e Donna Reed), foi o primeiro – e valeu-lhe um Óscar de Melhor Actor Secundário. Seguiram-se “The Man With The Golden Arm”, de Otto Preminger, actuação notável na pele de um viciado no jogo e em heroína que tenta recomeçar a vida enquanto baterista (Kim Novak e Eleanor Parker são as protagonista femininas). Outros títulos de destaque neste período são “O Enviado da Manchuria”, de John Frankenheimer, ou, em plena fase Rat Pack, “Oceans 11”, de Lewis Milestone.

Trailer de “Até à Eternidade”, de Fred Zinnemann (1953)

A relação de Frank Sinatra com o cinema, apesar de longa e produtiva (participou em cerca de 60 produções), foi inconstante. Deixava-se conduzir pelos realizadores que respeitava, como Zinnemann ou Preminger, mas, à medida que os anos e o seu poder aumentaram, a sua tolerância para com as exigências das rodagens tornou-se cada vez menor. O cinema passou a ser apenas uma necessidade para manter o seu estatuto de grande celebridade, cumprida sem paixão ou labor. Não por acaso, era conhecido como “one take Charlie” por se recusar habitualmente a gravar mais que um take de cada cena, o que, na verdade, não era simplesmente capricho de estrela, mas também reflexo da sua insegurança enquanto actor: acreditava que a intuição o guiava bem nesse primeiro momento e que não conseguiria repetir depois a mesma intensidade.

A canção “New York, New York”, de “Um Dia Em Nova Iorque”, com Frank Sinatra, Gene Kelly e Jules Munshin (1951)

Bogie, Bacall e Sinatra

Frank Sinatra e Lauren Bacall (sem data)

Frank Sinatra não era simplesmente amigo de Humphrey Bogart, o grande actor que achava piada àquele cantor magro de voz maravilhosa e pose tão elegante quanto agradavelmente insolente. Frank Sinatra idolatrava o protagonista de “Casablanca” e ícone da era dourada do cinema americano. Humphrey Bogart era casado com uma outra lenda, então em construção, Lauren Bacall.

“The lady is a tramp”, do álbum “A Swinging Affair” (1957)

Amigo próximo de ambos – foi durante uma das pândegas habituais na casa do casal Bogart-Bacall que esta cunhou a expressão “Rat Pack” -, Sinatra sofreu intensamente a morte de Bogie, vítima de cancro no esófago em 1957, aos 57 anos. Se já em vida de Bogart corriam nos bastidores rumores de um romance entre Sinatra e Bacall, estes tornaram-se bem mais ruidosos após a sua morte.

Nas suas memórias Bacall, 32 anos quando da morte de Bogie, refere que era inevitável ter-se aproximado de Sinatra, sempre presente e preocupado com o seu bem-estar, após a morte do marido. Este, por sua vez, sentia que era seu dever assegurar que a mulher do homem que via como modelo, mulher que, para além do mais, muito admirava, não se perderia em desgosto e solidão. Este é o contexto contado. Os factos são que se tornaram um par romântico com casamento marcado para 1958, união que nunca se concretizou – o facto de certa noite ter cantado para Bacall, não sem perversidade, a acabada de gravar “The lady is a tramp”, talvez fosse um sinal do que se seguiria.

Um dia, Sinatra acordou para ler nos jornais a notícia do seu noivado, questão difícil de gerir mediaticamente dado o pouco tempo que passara desde a morte de Bogart. Culpou Lauren Bacall, cancelou o noivado e desapareceu da sua vida durante vários anos.

“Fly me to the moon”, do álbum “It Might as Well be Swing” (1964)

Estádio das Antas, 1992

Estádio das Antas, comemoração do centenário do Futebol Clube do Porto, domingo, 7 de Junho de 1992. O dia em que Frank Sinatra, então com 76 anos, tocou em Portugal. Um concerto pago a peso de ouro, ou não fosse Sinatra, Sinatra (133 mil contos, ou seja, cerca de 665 mil euros). O preço dos bilhetes variava entre os 15 mil (75 euros) e os 30 mil escudos (150 euros), na zona VIP com direito a mesa e serviço de bar, e os 4 e os dez mil escudos no resto do estádio (entre 20 e os 50 euros).

“Come fly with me”, do álbum homónimo (1958)

Extensão de uma digressão de cinco datas em Espanha, abençoado pelo bom tempo, apesar dos receios de chuva alimentados nos dias que o antecederam, o concerto valeu, a julgar pelo relato do mesmo no PÚBLICO, pela possibilidade de ver e sentir Sinatra próximo (a qualidade da música, escreveu-se, deixou muito a desejar).

Frank Sinatra interpreta “One for my baby” num concerto em Barcelona, dias antes da sua única actuação em Portugal, no Porto, em 1992

Depois de Herman José abrir a noite, o Old Blue Eyes subiu a palco com a sua orquestra de 45 elementos, dirigida pelo filho Frank Sinatra Jr., para interpretar clássicos como “Strangers in the night”, “Fly me to the moon”, “I’ve got you under my skin”, “My way” ou “New York, New York”. A voz já estava fragilizada, a memória traía-o, mas os gestos eram os de sempre. Como quando pegou no copo de Jack Daniel’s para elogiar o seu whisky predilecto, ou quando, antes de “One for my baby”, pediu uma pausa para acender um dos cigarros Camel sem filtro que faziam parte da sua lista de exigências. A voz já não era “The Voice”, o corpo estava envelhecido, mas havia ainda Sinatra dentro do Frank que assomou no palco montado no antigo Estádio das Antas.

Igualdade, já!

Quando ninguém, branco, entenda-se, o fazia no mundo do espectáculo, Frank Sinatra erguia a sua voz contra a segregação racial e contra o racismo. Classificava a discriminação como uma doença, “a mais indecente forma de viver”, e não se limitava às palavras. Quando em 1952 convidou o Will Mastin Trio (formado por Will Mastin, Sammy Davis Sr. e o seu filho, e futuro amigo para a vida, Sammy Davis Jr.) a actuar na primeira parte dos seus concertos no Tropicana, exigiu aos promotores que o cachet do trio fosse o mesmo pago aos artistas brancos, ao contrário do que era prática na altura.

“The House I Live In”, curta-metragem com que Frank Sinatra foi distinguido com Óscar honorário (1945)

Em 1945 recebeu a sua primeira distinção pela Academia de Hollywood, um Óscar honorário por “The House I Live In”, curta-metragem que protagonizou e que servia de alerta contra o anti-semitismo, e contra o racismo no geral, no estertor final da Segunda Guerra Mundial.

Conta-se também que, certa vez, num concerto de beneficência da associação afro-americana de defesa dos direitos civis NAACP (National Association for the Advancement of Colored People), deixou Martin Luther King comovido até às lágrimas com a sua interpretação de “Ol’ man river”. Primeiros versos: “Here we all work ‘long the Mississipi / Here we all work, while the white boys play / Gettin’ no rest from the dawn til the sunset / Gettin’ no rest til the judgement day”.

Frank Sinatra interpreta “Ol’ Man River” no filme “Till the Clouds Roll By” (1946)

Em Las Vegas, quando era dono e senhor da cidade florescente, causou furor nos bastidores do negócio quando, perante a proibição imposta aos músicos negros de se alojarem nos hotéis da cidade, atirando-os para os subúrbios, ameaçou regressar imediatamente a Los Angeles caso essa prática continuasse, o que deixaria a capital do entretenimento órfã do seu maior e decisivo atractivo. Não regressou a Los Angeles. Os músicos negros abandonaram os subúrbios.

“O Padrinho”

A ligação de Frank Sinatra à máfia foi empolada e usada contra ele desde os seus primeiros anos. Logo que se tornou a maior estrela do país, ídolo para milhões de adolescentes, começaram a surgir notícias das suas amizades com líderes mafiosos, italo-americanos como ele. Foi muito publicitada a sua viagem a Cuba, em 1947, na mesma altura em que, em Havana, decorria um grande encontro da máfia americana – que, antes da revolução liderada por Fidel Castro, dominava os clubes e casinos da capital cubana.

A cena de “O Padrinho” inspirada, sem base factual, na forma como Frank Sinatra conseguiu o papel de Maggio em “Até à Eternidade”

Nessa altura, já era conhecida a sua relação com Lucky Luciano, um dos “pais” do crime organizado nos Estados Unidos (e, curiosamente, homem nascido em Lercara Friddi, a mesma vila italiana em que nascera o pai de Frank Sinatra). Mais tarde, também seria muito falada a proximidade com Sam Giancana, líder da máfia de Chicago que exibia num dos dedos um anel de safira oferecido por Sinatra.

Las Vegas foi, de certa forma, criada por Frank Sinatra: foi ele, com as suas actuações na cidade desde os anos 1950 e com as multidões que ali atraiu na década seguinte, liderando o famoso Rat Pack, que a transformou na capital do entretenimento. Nessa época, era possível encontrar, na administração sombra de cada um dos clubes e casinos da cidade, um elemento da máfia americana. A relação de Sinatra com a máfia é, porém, feita de várias nuances. Como explicou Sam Kaplan, biógrafo de Frank Sinatra, na última edição do Ípsilon, o cantor “via aqueles homens como italo-americanos com poder”. Ele, italo-americano que sentira na pele a discriminação de que era alvo a sua comunidade “idolatrava-os” por esse poder, “mas fazia-o da mesma forma que um miúdo idolatra cowboys ou heróis do desporto”.

Balada para Frank, Mia e uma piscina

“Something Stupid”, com Nancy Sinatra (1967)

Ele tinha 51 anos. Ela tinha 21. Ele era estrela maior da música americana (e do cinema e do entretenimento no geral), ela uma actriz a dar os primeiros passos e que acabara de se tornar uma celebridade televisiva através da série “Peyton Place”. Frank Sinatra e Mia Farrow. Casaram-se a 19 de Julho de 1966, em Las Vegas, naturalmente, na casa de Jack Entratter, conhecido como “Mr. Entertainment” pela gestão do Sands Hotel and Casino, em Las Vegas, ou do Copacabana, em Nova Iorque.

Frank Sinatra e Mia Farrow no dia do seu casamento (1966)

A pressão mediática, devido à diferença de idades entre ambos, e o fosso geracional do casal exerceram rapidamente o seu efeito. Sinatra queria que Farrow desistisse da sua carreira como actriz, o que ela aceitou inicialmente. Sinatra, moldado pela realidade da Segunda Guerra Mundial, não aceitava as manifestações contra a guerra no Vietname, que via como um ataque aos soldados combatendo no terreno. Mia Farrow opunha-se ao conflito e abraçava a contracultura que emergia, que Sinatra abominava.

Trailer de “A Semente do Diabo”, com Mia Farrow (1968)

Em 1967, Mia Farrow decide retomar a sua carreira, aceitando o convite para protagonizar “A Semente do Diabo”, de Roman Polanski. Sinatra queria-a consigo em “The Detective”, filme onde surgia como protagonista. Quando a rodagem de “A Semente do Diabo” se prolonga por mais tempo do que o previsto, colidindo com o plano de trabalhos para “The Detective”, Sinatra exige a Farrow que abandone o projecto de Polanski e se junta a ele. Quando tal não acontece, envia um advogado ao set de “A Semente do Diabo”. Mia Farrow assina ali mesmo os papéis para o divórcio.

Rock’n’Roll

Frank Sinatra e Elvis Presley (1960)

Nos anos 1940, Frank Sinatra foi alvo de uma adulação e histeria juvenil que só veríamos replicada no final da década seguinte, quando as grandes orquestras e a sedução do crooning deram lugar à electricidade e à energia do rock’n’roll. Quando Elvis Presley mostrou ao mundo o novo mundo que se anunciava, Sinatra foi feroz no julgamento da nova música: “falsa e obscena”. Detestava-a ao ponto de, quando fundou a editora Reprise, em 1960, ter proibido os seus responsáveis de contratar qualquer nome ligado ao rock’n’roll – homem astuto, condescenderia alguns anos depois, quando lhe explicaram que conseguiria inverter os fracos resultados financeiros do selo discográfico se cedesse um pouco ao gosto das novas gerações.

Frank Sinatra e Elvis Presley no programa televisivo de boas vindas ao segundo, regressado ao activo depois de cumprir serviço militar (1960)

Ainda assim, acabaria por considerar “Something”, dos Beatles, uma das mais belas canções de sempre (deixou uma versão como prova). E, anos antes disso, participara no programa televisivo de boas-vindas a Elvis Presley, em 1960, depois de este ter cumprido serviço militar. Não demonstrou qualquer animosidade – só umas bicadas humorísticas aqui e ali.

Sands Hotel and Casino

Frank Sinatra, o “presidente do conselho de administração”, o “chairman of the board”, mais Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop. O Rat Pack, um dos poderosos mitos na vida de Sinatra. A designação nascera antes - saíra da boca de Lauren Bacall ao ver o marido Humphrey Bogart, Sinatra e demais amigos, reunidos em mais uma noite de boémia prolongada até altas horas da madrugada -, mas seria em Las Vegas, Bogie já morto, que ganharia lugar na mitologia de Sinatra como representação máxima de “coolness”, de deboche (com classe) e de uma vida vivida no limite, noite após noite, sem temer as consequências.

Trailer de “Ocean’s Eleven” (1960)

“Ocean’s 11” (1960) foi o filme que deu imagem ao mito. Os concertos conjuntos no Sands, verdadeira casa de Sinatra em Las Vegas, durante a rodagem do filme, deram arranque e um protagonismo inaudito ao colectivo de estrelas. James Kaplan, o biógrafo de Sinatra entrevistado na última edição do Ípsilon, considera, porém, que o mito Rat Pack é isso mesmo, um mito. “Quando vemos os vídeos do YouTube, o humor não se aguenta. Era humor alcoólico, na verdade. Muito do seu tempo, o início dos anos 1960. Tão racista, tão misógino. É difícil vê-lo hoje em dia. O mito sobrevive porque é realmente muito sedutor, mas é um mito oco no seu âmago.”

John F. Kennedy

John Kennedy sentia-se fascinado por Hollywood, pela sua aura glamorosa e pelo seu estilo de vida. Frank Sinatra, fervoroso Democrata (o conservadorismo e a transformação em Republicano chegaria só no final dos anos 1960), filho de uma comunidade fragilizada, sentia-se atraído pela política, último reduto de poder que lhe faltava atingir. E admirava aquele jovem futuro Presidente tão descontraído, tão cheio de classe e magnetismo.

Boletim noticioso da British Pathé sobre John Kennedy (1960)

Sinatra e Kennedy conheceram-se numa convenção do Partido Democrata em Los Angeles, em 1955. Estreitaram amizade em Las Vegas, onde JFK se deslocava regularmente para assistir aos concertos no Sands. O hino da campanha presidencial deste, em 1960, era uma adaptação de “High hopes”, êxito de Sinatra, numa versão que o próprio interpretou. A amizade idílica acabaria, porém, de forma abrupta em 1962, quando Robert Kennedy, irmão de John, e então Procurador-Geral americano, o informa que terá de deixar de frequentar a casa de Sinatra dadas as suas ligações à máfia (e a um romance extraconjugal que Kennedy mantinha com uma mulher, Judith Campbell, que era também amante de Sam Giancana, líder da máfia de Chicago e amigo de Sinatra).

Três irmãos Kennedy: Robert, Ted e John (sem data)

Quando John Kennedy decide seguir a ordem do irmão e passar uma temporada com Bing Crosby, reconhecidamente Republicano, Frank Sinatra, que fizera várias obras em sua casa, incluindo a construção de um heliporto, para receber o Presidente, sente-o como uma terrível humilhação. O “romance” entre os dois termina com Frank Sinatra, furioso, a escavacar com uma picareta o cimento do heliporto onde Kennedy nunca chegou a aterrar.

“Luck be a lady”, orquestra dirigida por Quincy Jones (anos 1960)

O Fim

Um ataque cardíaco em Fevereiro de 1997 deixara-o fragilizado ao ponto de ser obrigado a retirar-se do olhar público. Um ano depois, dia 14 de Maio, não resistiu a uma segunda crise cardíaca. “I’m losing” (“estou a perder”) foram as suas últimas palavras.

"The Best is Yet To Come"

Na noite seguinte o Empire State Building foi iluminado a azul em sinal de luto e, em sua homenagem, Las Vegas não só apagou as suas tantas e tão faiscantes luzes como cumpriu um minuto de silêncio peculiar: durante 60 segundos slot-machines e roletas pararam o seu labor infatigável. Enquanto isso, por todos os Estados Unidos, as rádios pareciam não passar outra música que não a de “The Voice”.

O funeral foi feito na Roman Catholic Church of the Good Shepherd, em Beverly Hills, e Francis Albert Sinatra sepultado no Desert Memorial Park em Cathedral City, California. Para a eternidade, levava consigo uma garrafa de Jack Daniel’s, um maço de cigarros Camel sem filtro, um isqueiro, um pacote de rebuçados Life Savers e uma barra de chocolate Tootsie Rolls. Como epitáfio, o título de uma das suas canções, “The best is yet to come”.

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