Zootrópolis: este não é mais um filme de animais que falam

Novo filme de animação da Disney chega nesta quinta-feira às salas portuguesas. Ao PÚBLICO, os realizadores e o produtor garantem que esta grande produção é diferente do que já vimos. Os animais falam e vivem num mundo que é o nosso.

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Os animais não são seres estranhos à Disney, pelo contrário. São uma das grandes apostas dos estúdios. Lembremo-nos do Rato Mickey, do Dumbo ou do Simba (Rei Leão). A esta lista, acrescentemos agora Judy Hopps e Nick Wilde. Ela é uma coelha e ele uma raposa e os dois são os protagonistas de Zootrópolis, o filme de animação que a Disney estreia nesta quinta-feira em Portugal. É um regresso a um género que já provou ter sucesso, mas de uma forma diferente, garantem os realizadores Rich Moore e Byron Howard. “Este é um filme de animais que falam como nunca antes foi feito”, diz Clark Spencer, numa conversa com o PÚBLICO e mais três jornalistas espanhóis em Barcelona.

Zootrópolis. O nome dá pistas para o que vamos ver no grande ecrã: uma grande metrópole habitada por animais de várias espécies. Para sermos mais específicos, são exactamente 64 espécies de todos os tamanhos e feitios, representadas e pensadas até ao mais ínfimo detalhe. Todas elas coabitam pacificamente numa sociedade mais dividida por tamanhos do que por qualquer outra coisa (na grande estação central, por exemplo, há portas de diferentes tamanhos para as girafas, para os ratos ou para os elefantes).

“Há algum tempo que não se fazia um filme destes, com animais que falam. E o que pensámos foi fazer alguma coisa que vá para lá do que já foi feito e foi então que surgiu esta ideia de criarmos uma cidade e uma sociedade com tantas camadas”, explica Byron Howard, realizador de filmes como Entrelaçados (2010) ou Bolt (2008). “Há tantos detalhes na forma como a sociedade funciona, tantos animais, e tudo foi pensado à escala”, acrescenta, contando que Zootrópolis (Zootopia, na versão original) surgiu da vontade de fazer um filme de espiões com animais. “Fui passando a ideia, mas não pegou, levei muita pancada. Os espiões pareciam não agradar, mas a cena da cidade para animais foi a que captou a atenção porque ainda não tinha sido feita.”

O filme evoluiu então para a história desta coelha, Judy Hopps, que desde pequena deseja ser polícia, algo que nunca ninguém da sua espécie, ou do seu tamanho, havia conseguido. Persistente, a coelha entra para a Academia de Polícia, forma-se e é colocada em Zootrópolis, onde nunca tinha vivido. Na cidade, a vida é difícil e a coelha tem de lutar para conseguir um lugar de destaque. Pelo caminho, desenvolve uma amizade improvável com uma raposa matreira, Nick Wilde. No momento em que tudo isto acontece, há animais que desaparecem misteriosamente, todos eles predadores. Há um crime a acontecer e Judy foi deixada de fora, até se intrometer.

Quando perguntamos aos realizadores de que forma é que Zootrópolis é diferente de tudo o que a Disney já fez, a resposta não é imediata. “Há diferenças e semelhanças”, responde ao PÚBLICO Rich Moore, realizador de Força Ralph (2002), ou de alguns dos primeiros episódios de Simpsons e Futurama. “Este é provavelmente um filme mais contemporâneo, o que o torna um pouco mais relevante para o nosso mundo”, continua, explicando que há uma flexibilidade maior em contar uma história num filme com animais que falam do que num habitual conto de fadas.

Este mundo de animais, no entanto, é restrito aos mamíferos. “O filme começou com a ideia simples de ser um filme de animais, com inimigos naturais que eventualmente acabam amigos. E da investigação que fizemos, no mundo dos mamíferos havia esta coisa de eles se dividirem entre predadores e presas”, conta. “Cada mamífero pode ser uma coisa ou outra.”

Quando fala de investigação, o realizador refere-se a meses e meses de estudo profundo das espécies representadas no filme. “A pesquisa é a prioridade número um”, diz o produtor Clark Spencer, que no currículo tem Frozen: O Reino do Gelo (2013) ou Lilo e Stitch (2002), contando que não só existiram várias conversas com especialistas e visitas ao Museu da História Natural de Los Angeles, como houve ainda uma grande viagem ao Quénia. “Passámos várias semanas na savana com dois especialistas que só nos falaram sobre o comportamento dos animais. Queríamos que os animais na cidade fossem equivalentes ao que são no mundo real”, justifica. Não é por acaso que o presidente da câmara é um leão – “ele é o rei da selva” –, que o búfalo é o chefe da polícia – “os búfalos não perdoam” –, ou que as preguiças trabalham num serviço semelhante ao nosso Instituto da Mobilidade e dos Transportes – “é uma organização tão burocrática que o atendimento consegue ser exasperante”.

A pesquisa não serviu apenas para definir a personalidade dos personagens, mas também para os desenhar. “O pêlo do urso-polar é claro porque é a luz exterior que, ao reflectir-se, faz com que pareça branco e o pêlo da raposa é escuro na raiz, mas vai ficando cada vez mais claro até à ponta que é vermelha”, acrescenta. “Foi tudo criado no computador. E depois há ainda a questão das roupas, foi preciso vestir os animais. Foram dois anos para dar vida a estes personagens.”

No total, cerca de cinco anos de trabalho. Algo só possível, dizem os realizadores e o produtor, graças à chefia de Ed Catmull e John Lasseter, os directores criativos da Pixar, que transitaram para a Disney quando esta comprou a Pixar em 2006. “Fomos encorajados a ir muito longe. Lasseter, que eu já conhecia há muito tempo, sentou-se comigo em 2008 quando vim para a Disney e disse-me: ‘Não quero que venhas para aqui e tentes fazer um filme Disney. Não te retraias, faz o que quiseres, faz o teu filme, e, se ultrapassares a linha, nós puxamos-te, mas não tentes fazer alguma coisa segura’”, conta Moore. E Howard acrescenta: “Eles só querem que façamos os melhores filmes que conseguirmos fazer”. Sem pressões ou exigências por grandes sucessos.

“Acho que se começar a pensar que o filme que faço tem de ser um sucesso, fazer imenso dinheiro, entrar para o panteão dos filmes Disney, paraliso. Não é isso que me seduz, eu só quero contar uma história, fazer algo divertido”, diz Rich Moore. “Em última análise, é dar de novo ao mundo o que eu tive quando fui ver O Livro da Selva aos cinco anos de idade.”

É já habitual dizer que estes filmes são para miúdos e graúdos, mas aqui os realizadores garantem que esta afirmação nunca fez tanto sentido. Há diferentes níveis de leitura, há piadas com a série de televisão Breaking Bad e até uma homenagem a O Padrinho. “Há uns dias, um amigo contou-nos a história de um pai que foi ver o filme com o filho e na cena das preguiças os dois riram-se imenso, sendo que o rapaz se ria mais por ver o pai a rir à gargalhada. Isto é maravilhoso. É para isso que fazemos os filmes, para que todos o possam desfrutar. É gratificante.”

Na versão original, Zootrópolis conta com as vozes de Ginnifer Goodwin e Jason Bateman no papel principal, mas fazem ainda parte do elenco nomes como Idris Elba, Octavia Spencer, J.K. Simmons e Shakira, que dá ainda voz ao tema musical do filme. “Tivemos em mente que estávamos a criar uma cidade internacional e por isso não queríamos um filme onde todos falassem inglês americano porque os animais vêm de todo o mundo”, conta o produtor. A versão portuguesa conta com as vozes de Maria Camões, Diogo Mesquita, Rita Guerra e José Nobre.

O PÚBLICO viajou a convite da Disney

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