Viva Robert Harris

Numa entrevista no smithsonianmag.com perguntaram a Mary Beard quais eram as figuras romanas com que mais gostaria de jantar. Ela diz que a primeira escolha dela seria Cícero porque “apesar dos grandes romances de Robert Harris ele hoje em dia tem fama de ser um velho
terrivelmente chato. Mas os romanos achavam que era o homem mais espirituoso (witty) de sempre.”
 
Estou a meio de Lustrum, o segundo romance da trilogia de Robert Harris, e cheguei ao famoso discurso de Cícero “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”. Harris conta tão bem a história da conspiração de Catilina que quando chegamos ao discurso percebemos a
violência e a eficácia das palavras.

Harris tem um estilo impaciente, lúcido e rápido. Quando desconfia que está a ser chato diz que se vai despachar. E despacha-se antes de se tornar chato: parece magia. Parece que o autor nos está a ler, espiando-nos através das letras do livro.

O resultado é deixar-nos frenéticos. Fica-se agarrado ao livro, sempre ávido de saber o que se vai passar a seguir. Mesmo - e aqui está o que é mais notável - quando já sabemos o que vai acontecer. Harris cinge-se muito à obra de Cícero e ao pouco que se sabe ao certo da
história de Roma e escreve como se estivesse a fazer uma reportagem perfeita, com acesso íntimo ao Cícero mais witty e aos outros óptimos personagens. Alcança uma urgência fascinante porque partilha o entusiasmo com que o próprio autor foi estudando aquelas aventuras.
Custa muito interromper este livro.
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