Viva Dário Guerreiro!

Dário Guerreiro é de morrer a rir — mas, mesmo que não tivesse graça nenhuma, é interessantíssimo o que ele tem para dizer.

Um comediante é um artista inteiro porque, para além de escrever o que depois interpreta e personifica, tem de usar-se todo, cara, corpo e alma, para se dar a ver. Diz-se erradamente que o teatro é a arte mais antiga. Mais antiga ainda é a arte de contar, sozinho, sem a ajuda de mais ninguém, histórias que fazem rir, medo, empolgar, esquecer. Fazer rir é o mais difícil, o mais delicioso e, sobretudo em Portugal, o mais necessário.

Dário Guerreiro é um desses raros artistas. É engraçadíssimo. Teve sorte de nascer inteligente, talentoso, indignado, entusiástico, imaginativo, cómico, expressivo, simpático, exuberante, resmungão e subversivo.

Mas não se satisfez com isso. As peças dele — que só conheço do canal Mocê dum Cabréste, generosíssimo, que ele tem no YouTube — são monólogos hilariantes, incisivos e moralistas que são crónicas de costumes, de cultura e de linguística. Veja-se o que ele diz do sotaque algarvio, dos algarvios e dos diminutivos ou da falta de ortografia nas mensagens que saem dos nossos teclados ambulantes.

Dário Guerreiro é de morrer a rir — mas, mesmo que não tivesse graça nenhuma, é interessantíssimo o que ele tem para dizer. Ou estarei a mentir? Não, não estou. Ele é um crítico não só dos tiques de agora como da própria cultura contemporânea. É um professor vindo do paraíso algarvio para nos infernizar. Rimo-nos que nem criancinhas mas aprendemos com ele e encaixamos, pelo meio, umas reguadas nas manápulas, para não estarmos a escrever asneiras.

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