Vamos sair de barriga cheia de mundo do Jameson Urban Routes

O festival que o Musicbox, em Lisboa, organiza desde 2006, mistura electrónica, rock, cumbia e psicadelismos. Acolhe Pega Monstro, Telepathe, Suuns & Jerusalem In My Heart ou Nicola Cruz. Europa, América do Norte e América do Sul. Tudo junto, sem hierarquias. Desta quinta-feira a 31 de Outubro

Os canadianos Suuns & Jerusalem In My Heart são um dos destaques do festival e actuam no último dia, 31 de Outubro
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Os canadianos Suuns & Jerusalem In My Heart são um dos destaques do festival e actuam no último dia, 31 de Outubro DR
As Pega Monstro, juntamente com os Cave Story e os Galgo, terão honras de inaugurar o Jameson Urban Routes esta quinta-feira
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As Pega Monstro, juntamente com os Cave Story e os Galgo, terão honras de inaugurar o Jameson Urban Routes esta quinta-feira Sara Rafael
As americanas Telepathe chegam esta sexta-feira para apresentar o novo álbum <i>Destroyer</i>
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As americanas Telepathe chegam esta sexta-feira para apresentar o novo álbum Destroyer DR
Os franceses La Femme prometem surpreender no dia 30
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Os franceses La Femme prometem surpreender no dia 30 DR
No concerto deste sábado espera-se ouvir novidades de <i>Mitra</i>, o álbum que os PAUS gravam neste momento
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No concerto deste sábado espera-se ouvir novidades de Mitra, o álbum que os PAUS gravam neste momento DR

Já lá vão nove anos e, se a identidade não se alterou, mantém-se a capacidade de celebrar surpreendendo. Aqui revelam-se porções da criatividade musical contemporânea - dispostas em caleidoscópio organizado livremente (mas com critério). Passamos os olhos pela programação deste ano do Jameson Urban Routes, organizado no Musicbox e pelo Musicbox, no Cais do Sodré, em Lisboa, e isso torna-se uma evidência. Rock’n’roll e cumbia electrónica, disco-funk e garage, psicadelismo jazz e afro-house. Tudo tem lugar, aqui e hoje.

O festival que se prolongará até 31 de Outubro tem início esta quinta-feira e, como habitualmente, a primeira noite tem entrada gratuita. Não haverá, portanto, desculpa para perder os concertos de um alinhamento de luxo do recente (e recentíssimo) rock feito cá dentro: teremos Cave Story, trio que pega em memórias pós-punk para as transformar em matéria rock’n’roll electrizante, teremos os novos Galgo, que começam agora a mostrar um rock para dançar onde o math-rock ganha ginga afro-beat, teremos as Pega Monstro do indispensável Alfarroba, o segundo álbum das irmãs Maria e Júlia Reis – e teremos, depois, os pratos a cargo de Pilooski e Magazino.

Esta quinta será apenas o início. Equilibrando, sem quotas e sem paternalismos, a produção portuguesa actual de relevo com sons de proveniências e estéticas diversas, o Jameson Urban Routes prossegue na sexta-feira, dia 23, com uma viagem electrónica entre a Península Ibérica, os Estados Unidos e a América do Sul. As americanas Telepathe, duo de Brooklyn, apresentarão Destroyer, o aguardado sucessor de Dance Mother, editado em 2009, e os novos sons da sua colagem sonora que é, à uma, arte pop e manipulação anti-pop. Antes deles, os Holy Nothing mostram a síntese das electrónicas dançáveis de ontem e de hoje que compõem o seu álbum de estreia, Hypertext, acabado de editar. Nele ouvimos uma canção intitulada Cumbia, o que é nada menos que perfeito para a noite em que se inserem.

Isso porque esta será a noite em que o El Guincho, o músico nascido nas Canárias, mostrará em formato DJ set o colorido tropical-digital que compõe e seu imaginário, e porque depois dele, e antes da festa afro-tecno, kuduro-"tarraxado" e mais gingas de Babaz Fox, conheceremos o equatoriano Nicola Cruz. Colaborador de Nicolas Jaar, participante activa da renovação da cumbia operada a partir de Buenos Aires, e daí para o mundo, por nomes da editora ZZK como Chancha Via Circuito ou Frikstailers, revela em Prender el Alma, álbum de estreia que editará no final de Outubro, temas que evocam admiravelmente as paisagens e as tradições musicais do seu país e continente num contexto electrónico que exala calor orgânico.

O primeiro fim-de-semana de Jameson Urban Routes encerra sábado com uma noite multi-facetada. Inga Copeland, que com Dean Blunt formava os Hype Williams, desenhará as paisagens electrónicas abstractas que registou no álbum Because I’m Worth it. Os portugueses PAUS, por sua vez, poderão revelar já o sentido em que caminharão em Mitra, o sucessor de Clarão que gravam neste momento. Depois deles, dois nomes de culto da electrónica, Andy Stott, produtor de Manchester, e Gustavo, ou seja, metade do duo Stereo Connection.

O festival encerrará nos dias 30 e 31 de Outubro. Na sexta-feira, atenção ao rock’n’roll sem subterfúgios, tão bom para o “pogo” punk como para a dança de passos bem medidos, de uns portuenses muito promissores chamados Sunflowers. Tocam antes dos cabeças-de-cartaz da noite, os franceses La Femme, que apresentarão o álbum de estreia Psycho Tropical Berlin, centrifugadora de synth-pop, punk ou krautrock. A noite continuará com a elegância nu-disco (e outras elegâncias) de Xinobi e, depois dele, com Hyenah e Mike Stellar.

Sábado, a despedida far-se-á com um bom ritual xamânico. O do encontro dos canadianos Suuns, criadores de um psicadelismo electrónico de vistas largas, com o israelita Radwan Ghazi Moumneh - assina Jerusalem In My Heart e, desde o Canadá onde está radicado, explora as sonoridades da sua zona de origem em contexto digital. Juntos editaram Suuns & Jerusalem In My Heart, o álbum que vêm apresentar ao Musicbox. Depois deles, com os HHY & The Macumbas, as quatro paredes parecerão pequenas para o verdadeiro cerimonial dub-kraut-free-jazz construído pelo colectivo sedeado no Porto, autor de concertos verdadeiramente arrebatadores. Dançando ao ritmo frenético do footwork de Chicago, subgénero da house nascida na cidade, através do seu maior representante, RP Boo, e continuando a dançar com Blastah, produtor da Pontinha (Tarraxinha da Pontinha é uma das suas produções que começam agora a correr mundo), iremos despedir-nos do Jameson Urban Routes de barriga cheia. De música de todos os tipos. De mundo.

O passe para todos os dias de festival custa 45€. Os bilhetes diários são vendidos a 14€.

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