Três dias em que Braga se transforma num recreio

Noite Branca termina este domingo com um concerto de sinos em várias igrejas criado pelo minimalista espanhol Llorenç Barber. Desde sexta-feira que milhares de pessoas enchem as ruas da cidade.

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Vários adultos param para tirar selfies e há crianças a jogar às escondidas em frente ao Theatro Circo. O motivo de tanta animação é uma instalação feita com caixas de fruta em plástico que se assemelha a um labirinto oriental. “Isto é um recreio para a cidade”, explica o seu autor, Tomé Capa. O jovem arquitecto fala da sua peça, Mahjong, criada no âmbito da Noite Branca de Braga, mas podia estar a falar de todo o festival que, desde o final da tarde de sexta-feira, está a levar centenas de milhar de pessoas à cidade. Há outras criações de artistas espalhadas pelas ruas, museus abertos fora de horas, muita música e um certo ambiente de romaria que torna por vezes difícil encontrar as propostas culturais entre a confusão.

As caixas de fruta, brancas, são “autênticos legos” com que Capa pôde experimentar a construção desta instalação, que tem tanto de lugar de brincadeira como de encontro. O autor explica que quis construir um sítio onde fosse possível “ligar o espaço e as pessoas”, inspirando-se na utilização como oráculo que é feita das peças do jogo de mesa chinês que dá nome à sua criação. Foi essa a proposta que fez à Noite Branca no âmbito dos concursos artísticos lançados pela organização nos últimos meses, tendo sido um dos escolhidos.

Não é a primeira vez que Tomé Capa participa no festival de artes de Braga. No ano passado, com António Faria e Maria Betânia Ribeiro, criou a instalação Não deixar em branco. E, ainda a edição deste ano não está terminada, já está a imaginar no que pode apresentar em 2017.

Capa não é o único jovem criador entusiasmado com a oportunidade que o festival de Braga lhe dá para apresentar as suas ideias. No espaço Gnration, Marta Pombeiro montou Sensorial City, uma instalação em que cruza fotografias, memórias e paisagens sonoras de lugares da cidade como o mercado municipal ou a estação de caminho-de-ferro. A ideia desta peça tinha nascido na Faculdade de Belas Artes do Porto, mas foi o apoio da Noite Branca que o tornou possível. “Estou a conseguir pôr o meu projecto de mestrado a funcionar, ao mesmo tempo que consigo chegar a um grande número de pessoas”, valoriza esta estudante de design editorial.

 A Noite Branca de Braga não se faz só de projectos de jovens criadores – ainda que os concursos artísticos e os Laboratórios de Verão do Gnration tenham permitido apoiar dezena e meia de criações. Por exemplo, ao artista plástico Pedro Tudela foi feita uma encomenda para pensar a decoração da cidade nos três dias que dura a iniciativa e o resultado é um conjunto de peças iluminadas suspensas nas principais ruas do centro histórico.

Mas um evento montado para massas acaba, muitas vezes, por fugir ao controlo da própria organização. Um pouco por toda a cidade multiplicam-se, durante a noite, várias “festas brancas”, organizadas por diferentes bares e discotecas da cidade, que debitam música com pouco critério a decibéis elevados para grupos numerosos. Não é raro que o som colida com o das iniciativas do próprio programa – é o que se passa quando o percurso de The dance of death, um esqueleto dançante de cinco metros, cruza várias ruas e praças da cidade. 

A organização – partilhada pela Câmara de Braga e duas outras entidades municipais, o Theatro Circo e a Fundação Bracara Augusta, que gere o Gnration – tem consciência dessa tensão e colocou, este ano, regras à programação paralela. Mas não conseguiu resolver completamente o problema. “A Noite Branca é incontornável pela sua dimensão”, afirma o director do Gnration, Luís Fernandes, responsável por parte da programação do evento. “O que queremos é aproveitar essa capacidade de mobilização para expor as pessoas a coisas que elas talvez não fossem ver de outro modo”, resume.

Os sinos de Braga

Nos últimos três anos, Braga pegou no conceito da Noite Branca – que nasceu no início deste século em Paris, como um evento de fruição cultural de uma noite – e transformou-o numa outra coisa, algo mais próximo de um festival de cidade. A sua duração foi estendida e hoje são duas noites em vez de uma e mais de 48 horas de programação entre sexta-feira e domingo, com actividades que vão das instalações à performance, passando pela música, a gastronomia e até o parkour. Os museus estão abertos fora de horas e têm actividades para os visitantes, mas é nas ruas que se concentram as atenções, sobretudo nos concertos na Praça do Município.

À hora do primeiro dos espectáculos, na sexta-feira à noite, era difícil encontrar um local com visibilidade para o palco onde a fadista Carminho cantava os fados do seu repertório – com algumas incursões por outros terrenos, como uma versão de O vira, dos icónicos Secos e Molhados de Ney Matogrosso. Por ali ainda passaria, naquela noite, Miguel Araújo ao passo que, na Avenida Central, o palco Gnration atraía menos gente, mas bem mais jovem, para ouvir os brasileiros Boogarins – e Linda Martini e Matias Aguayo no sábado.

O festival termina este domingo e, além das instalações e exposições que estão patentes em permanência, ainda há para ver, por exemplo o concerto da Orquestra de Paus e Cordas (16h, largo Dom João Peculiar Música) e o espectáculo de comunidade Outros Cantos (17h, Gnration), feito a partir do canto tradicional minhoto e que tinha sido apresentado originalmente em Junho do ano passado, sendo agora reposto. A Noite Branca de 2016 encerra formalmente pelas 19h30, com uma das propostas mais marcantes da edição deste ano. O músico e compositor espanhol Llorenç Barber, discípulo de John Cage e um dos precursores do minimalismo em Espanha, está em Braga para dirigir um concerto de sinos. Os concertos de cidade são uma das criações que tornam Barber um nome incontornável; neste projecto Bracara Augusta a orquestra será formada por voluntários que vão tocar os sinos de 16 igrejas e outros edifícios bracarenses.

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