The Magic Place

Foto

Diz a biografia que as paisagens sónica de Julianna Barwick são inspiradas pelo facto de ter crescido no Louisiana e no Missouri, onde cantava semanalmente na congregação da igreja e nos coros escolares. É verdade. Mas qualquer pessoa que mergulhe na sua música, chegará à conclusão que aquele espaço emocional é capaz de ser apropriado por todos.

As composições, baseadas em repetições vocais predispostas em camadas e em reverberações, parecem replicar as de um grupo vocal. Normalmente os temas começam quase imóveis, silenciosos, através da utilização de um simples refrão. Depois as peças vão sendo construídas em sedimentos até se tornarem intrinsecamente complexas, uma onda sonora voluptuosa à qual é impossível escapar. Aparentemente é música feita com grande simplicidade. E até certo ponto é verdade. No entanto não é nada fácil encontrar-lhe pontos de contacto. Sim, pode pensar-se em compositores da renascença, na simplicidade harmónica de algumas peças de Arvo Part, em Virginia Astley, pelo lirismo na forma como o piano é tocado, nas vozes búlgaras que a 4 AD ajudou a popularizar nos anos 80, em “Person Pitch” de Panda Bear, na forma como trabalha os efeitos, e até em nomes da pop contemporânea que têm encontrado pontos de ligação com a clássica (de Final Fantasy a Joanna Newson). Mas existe qualquer coisa de experienciado na música de Julianna que só ela parece conseguir explanar, num misto de técnicas corais e abstracções exploratórias. E fá-lo utilizando apenas vocais circulatórios, criando uma hipnose de vozes e sons (ocasionais piano, guitarra, percussões e efeitos electrónicos) capazes de criar uma respiração comum, calma e introspectiva. Um lugar mágico, sem dúvida.

Sugerir correcção
Comentar