Silicon Valley: Génios, charlatões e vice-versa

A comédia “tech” da HBO, uma das séries preferidas de Mark Zuckerberg, regressa para uma quarta temporada e vai passar na TV Séries.

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São os mitos dos tempos modernos. Todas começam numa garagem ou num campus universitário, humildes e perseverantes, depois crescem, transformam-se em gigantes cínicos e o crescimento passa a ser o objectivo em si mesmo. Por cada Facebook ou Google, haverá milhares de startups tecnológicas que prosperaram num dia e fracassaram cinco minutos depois. Cinco minutos é o tempo em que uma grande ideia se transforma numa péssima ideia e em que um grande visionário passa a ser um grande aldrabão, e vice-versa. Sucesso que se transforma em fracasso, e fracasso que se transforma em sucesso, e assim sucessivamente. Silicon Valley, a comédia tech da HBO que é tida como uma das séries favoritas de Mark Zuckerberg, é isto mesmo, um universo de génios e charlatões com doses generosas de absurdo.

Como já acontece com muitas séries (para minorar os efeitos da evolução tecnológica da pirataria), a quarta temporada de Silicon Valley vai ter estreia mundial simultânea em várias latitudes, com a transmissão do primeiro episódio em Portugal a acontecer nesta madrugada às 3h no canal TV Séries. Os dez episódios que se seguem da série criada por Mike Judge continuam a seguir a vertigem de tentar triunfar neste microcosmos onde se concentram as grandes empresas de tecnologia dos EUA e onde cada um dos seus habitantes, entre empregados de supermercado e médicos de clínica geral, tem uma app na cabeça ou uma ideia que vai mudar o curso da humanidade.

Na primeira temporada, assistimos ao nascimento de uma dessas ideias geniais, um revolucionário “algoritmo de compressão de dados” criado por um dos nerds de serviço da série, Richard Hendricks (uma magnífica criação de Thomas Middleditch, pela qual foi nomeado para um Emmy). Depois, é uma sucessão permanente de altos e baixos em que, neste mundo fictício reconhecemos muita coisa do que se passa no mundo real. Temos uma mega-empresa chamada Hooli (que parece a Google), temos os fundos de capital de risco, temos os gurus tecnológicos cheios de manias em que reconhecemos traços de Steve Jobs, Bill Gates e Zuckerberg.

A quarta temporada começa onde a terceira começou, depois de um fracasso, em que Richard se faz passar por um motorista da Uber para tentar convencer um tubarão da finança a investir numa “app” de chat em vídeo de alta definição de sucesso moderado que sofre de uma falha fatal e que não irá durar muito tempo. Os seja, porta aberta para mais sucessos e mais fracassos, para mais situações que podem bem acontecer a qualquer um: o que acontece quando não se lê as Regras de Utilização e se mete uma cruz num quadrado a concordar com tudo.

Mike Judge não veio parar a este universo por acaso. Antes de fazer carreira no entretenimento como o criador de Beavis e Butthead e King of the Hill e realizador de Office Space e Idiocracy, Judge foi um programador em Silicon Valley nos anos 1980 durante alguns meses e apanhou o suficiente para construir uma delicada composição feita de absurdos, gags visuais e muita comédia física, tudo feito com precisão matemática e sem esquecer a verosimilhança científica – um ponto alto da primeira temporada acontece numa sequência em que assistimos à criação de uma fórmula matemática aplicada à masturbação em grupo.

E quem tiver paciência para o fazer, que analise detalhadamente a animação da abertura (ao nível da de Guerra dos Tronos) para ver do que estamos a falar, em que o balão do Napster já não existe, substituído pelo balão da Uber, e em que o logotipo do Facebook é cada vez maior.

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