Sidney Lumet: As paisagens de um rosto

A cara é que importa, sublinha Sidney Lumet, uma montanha não muda. By Sidney Lumet, o documentário que revela agora uma entrevista de 2008, três anos antes da morte do cineasta, é um pacto justo com as paisagens de um rosto.

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Sidney Lumet diz, às tantas, que não considera uma cara mais interessante se tiver uma montanha em fundo em vez de uma parede – não é homem para westerns, precisa do espaço finito de uma cidade, Nova Iorque.

A cara é que importa, sublinha, uma montanha não muda. Vejamos: Henry Fonda em 12 Homens em Fúria (1957), Al Pacino, na sua finest hour, em Serpico (1973) e em Um Dia de Cão (1975), Peter Finch “mad as hell” em Network (1976), Paul Newman, suplicante, em O Veredicto (1982) - e By Sidney Lumet, o documentário que revela agora uma entrevista de 2008, três anos antes da morte do cineasta, é um pacto justo com as paisagens de um rosto.

Ele conta a sua história, que é uma parte do cinema americano, rindo-se da fixação de narrativas visionárias aos realizadores, atribuindo responsabilidades à “sorte”. Por exemplo, a passagem da TV – onde começou a filmar depois de ter começado como child actor – para o grande ecrã, aconteceu porque conhecia alguém que conhecia alguém próximo de Fonda, actor e produtor em 12 Homens em Fúria.

O filme, em que um júri muda o seu “veredicto”, em relação a um jovem acusado de esfaquear o pai, de “guilty” para “not guilty” por causa das dúvidas de um deles (mas “there’s always one”...), pode, diz Lumet, ter ajudado a mudar o sistema judicial num país como a Grã-Bretanha. Mas a sentença moral, sublinha, não é o que o motiva. Este pudor pode ser a impressão digital de um homem forjado pela Grande Depressão e que atravessou várias vidas, mas a moral emerge. A busca de uma salvação. A turbulência humana de 12 Angry Men, a solidão de cada rosto, a importância de um só (“there’s always one”, era Fonda), tiveram ardentes encarnações ao longo de cinco décadas. Entre as primeiras e as últimas imagens de By Lumet, 12 Homens em Fúria e O Veredicto, distam 25 anos. Manteve-se a solidão, exponenciou-se o fervor (e o susto) quase religioso do desejo de justiça.

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