Naomi Kawase: sabor a nada

Uma Pastelaria em Tóquio é a grande tradição do cinema japonês dissolvida em água e açúcar, servida numa embalagem vistosa, e com gosto a nada.

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Uma Pastelaria em Tóquio não sabe a nada

Haja paciência para Naomi Kawase e para este cinema que não procura ser mais do que uma brochurazinha, em óptimo papel e óptimas cores, a ilustrar ideias feitas sobre o “misticismo” do cinema japonês. Há muitas cerejeiras em flor em “Uma Pastelaria em Tóquio”, e também há muitos planos com comboios a passar; acreditaríamos nas cerejeiras e nos comboios como elementos necessários (e não como clichés) se o filme não fosse um longo e entediante exercício de chantagem emocional: afinal, que espécie de bruto insensível é que pode não ser tocado por esta história de uma velhota de mãos carcomidas pela lepra, que fala com as árvores e trata o sol por “Sr. Sol”, e se revela uma doceira de dotes milagrosos, exímia na confecção da pasta de feijão que recheia os dorayakis?

Sim, o eterno conflito entre um Japão moderno e urbano e uma raiz cultural ancestral, que Kawase transforma em magia “new age”, sem esquecer imagens da natureza, plantas, árvores e lagos, dadas como pontuação “ambiental” a fazer muita força para que se veja nelas alguma forma de “transcendência”.

Uma Pastelaria em Tóquio é a grande tradição do cinema japonês dissolvida em água e açúcar, servida numa embalagem vistosa, e com gosto a nada. 

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