Rui Moreira reafirma interesse do Porto em acolher obras de Miró

Autarca e Ministério da Cultura iniciam esta terça-feira reuniões de trabalho para decidir instalação das obras, que vão ser mostradas em Serralves no Outono.

Foto
Colecção de obras de Miró expostas na Christie's, em Londres, em Janeiro de 2014 Suzanne Plunkett/ REUTERS

O Porto quer acolher as obras de Joan Miró que fazem parte do património do extinto BPN, e Rui Moreira vai ter já esta terça-feira uma primeira reunião de trabalho com técnicos do Ministério da Cultura para estudar a sua localização.

O presidente da Câmara do Porto respondeu positivamente ao repto lançado pelo ministro da Cultura em entrevista ao PÚBLICO do passado domingo. “Se o Estado português quiser colocar os Mirós na cidade do Porto, estamos disponíveis e interessados nisso, e não faltarão espaços, nem imaginação para os encontrar e adaptar a esse fim”, disse o autarca, esta segunda-feira, numa declaração aos jornalistas, em reacção ao “desejo do Governo”, manifestado por Luís Filipe Castro Mendes, de que “os Mirós fiquem no Porto”.

Rui Moreira não quis avançar nenhuma localização para sede da colecção, ou de parte das 85 obras que a integram. “A bola está agora do lado do Governo”, respondeu o autarca. “Do que se trata é de encontrar um espaço, e se o Porto está interessado em ter uma exposição permanente [dos Mirós], temos que chegar a acordo com o Estado; temos que ver em que condições, e ver, dos espaços disponíveis, quais são adequados, e depois proceder em conformidade”, acrescentou Rui Moreira, lembrando ainda que é preciso que o Governo explique se “está a pensar num museu nacional sediado no Porto ou num museu municipal para os Mirós”.

Sem responder especificamente a esta questão, o ministro Luís Filipe Castro Mendes, através do seu gabinete, confirmou ao PÚBLICO o início de reuniões de trabalho para a avaliação técnica do local e os próximos passos a seguir para a instalação dos Mirós na cidade. “Está tudo em aberto; e qualquer decisão será tomada em diálogo com a Câmara Municipal do Porto e o seu presidente”, disse.

Para Rui Moreira, “a boa notícia é que finalmente, ao fim de tanto tempo, parece que se percebeu que esta colecção fica bem no Porto”, disse aos jornalistas, relembrando a seguir os vários passos por que passou a “negociação” entre a cidade e o Governo, desde que foi conhecida a intenção da Parvalorem e da Parups – que são as proprietárias da colecção através das sociedades criadas pelo Ministério das Finanças para recuperar créditos do BPN – de vender os Mirós na Christie’s, em Londres.

Citou o interesse manifestado, na Primavera de 2014, por um investidor americano de origem angolana, Rui Costa Reis, que quis comprar a colecção e deixá-la durante 50 anos na cidade do Porto, lembrando que a CMP avançou então com a hipótese do palacete Pinto Leite – entretanto já vendido – para a acolher. “Foi-nos então dito que não havia interesse” nesse negócio por causa dos “compromissos com a leiloeira”, disse Rui Moreira, que voltaria a manifestar o interesse da cidade nos Mirós quando o anterior ministro da Cultura do actual Governo, João Soares, anunciou que eles seriam expostos no Museu de Serralves.

“Agora vamos ver” se a transferência da colecção para o Porto se confirma, após a exposição de Serralves, referiu ainda Rui Moreira, salientando também a importância que a anunciada mostra irá ter para “um melhor conhecimento e avaliação da colecção”, através do seu previsível impacto internacional.

Ainda antes de conhecidas as declarações do presidente da Câmara do Porto, o crítico e curador João Fernandes reafirmou ao PÚBLICO a importância de, pelo menos, parte destas obras de Miró. “Mesmo se se trata de uma colecção desigual, ela tem obras muito relevantes de um artista fundamental do século XX”, disse o actual director-adjunto do Museu Nacional-Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid, lembrando que em Portugal, de Miró, só haverá, em colecções conhecidas do público, meia dúzia de gravuras na Fundação Gulbenkian e uma pintura e um desenho no Museu Berardo.

Materialidade e metamorfose

Confirmada está, entretanto, a apresentação em Serralves, a partir de 30 de Setembro, da exposição da maior parte das 85 obras que compõem a colecção Miró. Com o título Joan Miró: Materialidade e metamorfose, a exposição vai mostrar entre 75 a 80 dessas peças, e terá como comissário o investigador Robert Lubar Messeri, especialista na obra do pintor catalão e responsável pela cátedra Joan Miró na Universidade de Nova Iorque em Madrid – anunciou o Museu de Serralves num comunicado citado pela agência Lusa. 

As obras referidas documentam a produção de Joan Miró (1893-1983) entre 1924 e 1981, são na sua maioria desconhecidas do público e incluem seis das suas pinturas sobre masonite, uma espécie de contraplacado que o pintor usou durante certo período, e também seis “sobreteixims” (tapeçarias). “O pensamento visual” do artista e o modo como trabalha sensações, “que variam entre o táctil e o óptico, são examinados em pormenor” na exposição, refere Serralves.

Materialidade e Metamorfose vai assim abranger um período de seis décadas da carreira do artista, “debruçando-se, de forma particular, sobre a transformação das linguagens pictóricas” e “as metamorfoses artísticas” que Miró começou a desenvolver em meados dos anos 1920.

Com inauguração oficial a 30 de Setembro, Joan Miró: Materialidade e Metamorfose abrirá ao público no dia seguinte no Museu de Serralves, onde ficará patente até 28 de Janeiro de 2017. 

Sugerir correcção
Comentar