Retrato histórico de Isabel I fica em Inglaterra por 12 milhões de euros

Armada celebra a vitória dos ingleses sobre os espanhóis em 1588 e foi comprada aos descendentes de Francis Drake através de uma campanha de crowdfunding.

Foto
Armada é uma das imagens mais conhecidas da história britânica Michael Bowles/Getty Images

É uma das mais conhecidas imagens da história britânica, aparece nos manuais escolares e já inspirou os retratos cinematográficos de Isabel I por actrizes como Judi Dench e Cate Blanchett. Armada, que retrata a monarca contra um fundo alusivo à vitória da frota inglesa sobre a chamada Invencível Armada espanhola, em 1588, vai ficar em solo britânico graças a uma campanha de angariação de fundos que atingiu 12 milhões de euros, devendo ser exposta a 11 de Outubro no Queen’s House Greenwich, o edifício que resta do palácio onde nasceu a rainha.

A pintura terá pertencido originalmente a Sir Francis Drake, capitão da frota inglesa da corte de Isabel I, que a teria encomendado na sequência da vitória, e estava na família há mais de 400 anos. Hoje conhecidos como Tyrrwhitt-Drake, os descendentes do capitão anunciaram, em Maio, que pretendiam vender a pintura para assegurar as suas propriedades e terrenos. O Royals Museum Greenwich lançou, então, uma campanha pública para assegurar que esta pintura histórica ficaria na Grã-Bretanha.

Como ponto de partida, o museu doou 476 mil euros, e o Art Fund (organização britânica de angariação de fundos para as artes) doou um milhão de euros. Em dez semanas, foram feitas cerca de oito mil doações públicas, incluindo montantes angariados em escolas. É o caso da iniciativa de Christina Ryder, uma menina de sete anos, aluna da Wakefield Girls’ High School, que se vestiu a rigor e decorou 400 queques com a imagem de Isabel I para angariar dinheiro. Durante o período de crowdfunding, a pintura foi mostrada ao público no National Maritime Museum.

O Heritage Lottery Fund, organização que atribui o dinheiro dos apostadores da lotaria a projectos que preservam a herança britânica, deu o grande empurrão final à campanha com a doação de nove milhões de euros. O director, Peter Luff, disse ao jornal britânico The Guardian que “Armada é um ícone histórico, que ilustra um conflito decisivo e inspira a liderança feminina, o poder marítimo e a emergência da era de ouro isabelina”. Já Stephen Deuchar, do Art Fund, nota que houve "um número recorde de doações, pequenas e grandes", e compara o espírito do povo britânico de 2016 ao de 1588: “uniram-se com grande determinação e generosidade, criando um momentum irresistível, que finalmente tornou o quadro público.”

Trata-se de um de três retratos semelhantes, todos eles conhecidos como "retrato da Armada", que mostram a rainha sentada no seu vestido imponente e com a mão repousando sobre o globo, a representar o poder imperial inglês, e ao fundo os vitoriosos navios ingleses e a retirada da frota espanhola. A peça, que segundo disse à BBC News a curadora da Queen’s House Greenwich, Christine Riding, “pode ser associada a nomes como George Gower e Nicholas Hilliard”, foi criada por volta de 1590 por um autor anónimo. As outras duas pinturas estão respectivamente expostas na Abadia de Wobburn e na National Portrait Gallery, mas esta é considerada a de maior simbolismo histórico, pela sua relação directa com Francis Drake.

Um porta-voz do Art Fund disse ao jornal norte-americano New York Times que o valor arrecadado “vai cobrir o custo da pintura em si, assim como a conservação essencial e um programa nacional extenso que desperte o interesse do público pela obra”. Segundo Christine Riding, a pintura está actualmente a receber tratamento de conservação, sobretudo na moldura, e será o centro da exposição de reabertura da Queen’s House, a 11 de Outubro.

“Esta imagem veio definir a forma como o público caracteriza Isabel I e a ideia de que era uma mulher vulnerável e forte ao mesmo tempo”, disse a curadora à BBC News. Isabel I foi uma das raras mulheres a subir ao trono no seu tempo e a terceira a reinar em seu direito em território britânico.

No ano em que se celebram os 400 anos do mestre do teatro isabelino, William Shakespeare, e os 90 anos da rainha Isabel II, o retrato, considerado fora de série no seu tempo pelas suas grandes dimensões (110,5 x 127 cm) e pela sua organização horizontal , é, segundo Kevin Fewster, director do Royals Museum Greenwich, “a melhor forma de celebrar a segunda era isabelina.”

Texto editado por Luís Miguel Queirós

Sugerir correcção
Comentar