Sessão superior de pós bop

Um dos saxofonistas mais injustamente esquecidos do jazz: Joe Farrell

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O tom poderoso e penetrante de Joe Farrell

Inserido no recente plano de reedições da editora Xanadu (Master Edition), este álbum do lendário saxofonista Joe Farrell é um dos registos mais sólidos e fascinantes da sua carreira. Bastante menos conhecido do que aqueles que gravou para a CTI de Creed Taylor, Skate Board Park foi gravado em 1979 e rápidamente desapareceu de circulação. Sessão registada em quarteto e produzida por Don Schlitten, apresenta-nos Farrell exclusivamente no saxofone tenor acompanhado por três músicos de excepção - Chick Corea, ainda novo, em piano acústico e eléctrico, Bob Magnusson no baixo e Lawrence Marable na bateria.

Farrell, que viria a gravar com projectos tão diversos como os Average White Band, os The Band ou os Bee Gees, tinha já por esta altura um sólido percurso na área do jazz ao lado de nomes como Maynard Ferguson, Charles Mingus, Thad Jones / Mel Lewis Orchestra, Elvin Jones ou Jaki Byard. As sessões que gravara entre 1970 e 1976 para a CTI haviam tornado o seu nome conhecido entre os fãs de um novo jazz, progressivo e ligado às pulsões do funk e do rock, algo que viria a ser acentuado pela participação, em Tones for Joan’s Bones, de Corea, e nos dois primeiros álbuns de Return To Forever.

Seis composições, incluindo três originais de Farrell, um de Corea e dois standards, constituiram o repertório de uma sessão onde brilha bem alto o tom poderoso e penetrante de Farrell, a evocar por diversas vezes Sonny Rollins mas sem deixar de transparecer traços individuais bem marcados. Na abertura, o tema título do álbum arranca a uma velocidade estonteante, com Farrell e Corea em uníssono sobre um drive sólido e swingante de Magnusson e Marable.

Mas a verdadeira magia começa a acontecer em Cliché Romance, segundo tema do disco e primeira ocasião para Corea passar do piano acústico para o eléctrico, expandindo o horizonte da música e conferindo-lhe tons adequados à fascinante energia 70’s transmitida pela composição de Farrell. O saxofonista, por sua vez, executa um dos solos mais vibrantes de todo o disco, conquistando-nos com a sua sinceridade e emoção, transmitidas com um dos mais belos sons de tenor de que há memória. Uma das redescobertas mais importantes do ano que passou.

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