Rectificações

A vida, honestamente vivida, é uma série ora miserável ora eufórica de rectificações desiludidas e descobertas.

Continuo a recomendar a trilogia (mais um conto em segundo lugar) Old Filth de Jane Gardam. Mas receio que o primeiro romance seja o melhor de todos; o segundo o segundo melhor e por aí afora, já que poderá haver um quarto romance, centrado na personagem de Isobel.

Li depois os dois romances anteriores – The Flight of the Maidens (2000) e Faith Fox (1996)  e estou agora, com crescente relutância, a ler a selecção de contos dela The Stories, de 2014.

Resumindo: começo a estar farto dela. A culpa é da minha gula e da minha mania de ler obras inteiras numa ou duas semanas. Se eu tivesse lido os livros dela à medida que foram saindo – já que ela deixa um intervalo de dois anos entre livros – seria com certeza menos ingrato.

Mas quem é que tem paciência?

Dantes, entre o encantamento e o desencanto, distava, pelo menos, uma década. Agora é uma questão de dias. Assim, rectifico a minha recomendação: de Jane Gardam, leiam apenas Old Filth, que é a única obra-prima.

O caso extremo é a trilogia de Agota Kristof. O primeiro romance (Le grand cahier) é uma obra-prima amoral, misteriosa e imprevisível. O segundo e o terceiro romances não só são banais e aborrecidos como destroem a magia do primeiro.

A vida, honestamente vivida, é uma série ora miserável ora eufórica de rectificações desiludidas e descobertas. Aquilo que fica escrito – e é sentido e pensado –, no dia seguinte é desmentido e disparatado. Ser honesto não é só corrigir: é continuar a falar.

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