É recorde: 60 anos de apresentações de A Cantora Careca no mesmo teatro

O Théatre de la Huchette, em Paris, acolhe de forma ininterrupta desde 1957 a obra de Eugène Ionesco.

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É um recorde mudial dizem os franceses. No Théatre de La Huchette, em Paris, desde 16 de Fevereiro de 1957, ou seja há 60 anos, que é apresentado sem interrupções o espectáculo A Cantora Careca de Eugène Ionesco. Todos os dias a peça é apresentada, com excepção dos domingos.  

São mais de 18 mil apresentações e mais de 2 milhões de espectadores. São estes os números de A Cantora Careca, que comemorou nesta quinta-feira os seus 60 anos de apresentações ininterruptas no tradicional Teatro de La Huchette, em Paris, espaço consagrado às peças do autor francês Eugène Ionesco, desde 1957.

O teatro chegou a receber um prémio Molière honorífico, a maior recompensa do teatro em França, graças à sua fidelidade ao autor do teatro do absurdo. O mítico teatro, de apenas 90 lugares, foi comprado pelos actores em 1975. O espectáculo mantém a mesma montagem, assinada por Nicolas Bataille, desde 1957. Mas a decisão de montar A Cantora Careca não foi fácil, segundo conta um antigo testemunho de Bataille, que morreu em 2008, em Paris, e era amigo próximo de Ionesco: “dei a peça para algumas pessoas lerem, mas elas disseram que o texto era impossível de ser encenado”, relatou.

Ionesco criou A Cantora Careca em 1950, mas a peça terminou a temporada em menos de um mês, depois de 25 apresentações. O lado absurdo do texto foi fortemente rejeitado pelo público da época. Felizmente para o escritor franco-romeno, o seu estilo acabou por agradar ao mundo literário, com escritores e intelectuais como André Breton, Raymond Queneau ou Albert Camus a transmitirem-lhe apoio e, em poucos anos, Ionesco tornou-se num escritor celebrado em França.

Nesse contexto, no final da década de 1950, o mundo artístico e intelectual de Paris pressionou o Teatro de La Huchette a remontar dois textos do autor, A Cantora Careca e A Lição. “Orgulhamo-nos do facto dos dois espectáculos terem visto passar oito presidentes da República e testemunharam a guerra da Argélia, o Maio de 68, a queda do Muro de Berlim, o nascimento do euro ou o colapso das torres gémeas”, diz a comunicação da celebração dos 60 anos de Ionesco no La Huchette. "Foram 60 anos de calafrios, ultimatos, ataques, aplausos e felicidade."

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A primeira apresentação de A Cantora Careca em 1957

 

 

 

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