A Palma de Ouro de Cannes foi atribuída a Jacques Audiard por Dheepan

Consagração do cineasta, realizador de um dos cinco filmes franceses no concurso - e foram premiados três.

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O júri presidido pelos irmãos Joel e Ethan Coen, que comandaram Sophie Marceau, Jake Gyllenhaal, Rokia Traoré, Guillermo del Toro, Xavier Dolan, Sienna Miller e Rossy de Palma, atribuíram a Palma de Ouro da 68ª ediçao do festival a Dheepan, de Jacques Audiard.

É a consagração do cineasta francês, que em 2009 era dado como favorito com Um Profeta, mas esse foi o ano de O Laço Branco, de Michael Haneke. O primeiro agradecimento de Audiard foi, por isso, para Haneke, por não ter apresentado filme nesta edição. É caso para dizer que em 2009 merecia mais a Palma do que em 2015: Audiard mantém o seu cuidado por personagens que tentam (re)construir um mundo, tomar as rédeas de uma narrativa perdida, a partir do caos, da desordem, da violência - é o périplo de um ex-guerrilheiro Tamil que se refugia em França, a trabalhar como porteiro num bairro social. E a violência irrompe, como uma força ancestral. Mas o filme anuncia-a cedo demais, ficando preso a um modelo de gestos reconhecíveis, cortanto a possibilidade de maravilhamento com um mundo que se descobre, como acontece nos melhores filmes do cineasta.

Talvez mais surpreendente, ainda, seja o facto de o cinema francês sair de Cannes como vencedor: cinco filmes em concurso (quantidade que levou a mais do que "indirectas" de favorecimento), a generalidade da crítica nada entusiasta com os resultados apresentados, mas o júri presidido pelos norte-americanos Coen acabaram a premiar três títulos: para além de Audiard, as interpretações de Vincent Lindon em La Loi du Marché e de Emmanuèlle Bercot em Mon Roi.

Bercot tem razão. Estar no palco sem Vincent Cassel, que interpreta a personagem que a subjuga - Mon Roi é a história de uma relação conjugal e suas turbulências -, fê-la sentir-se em perda. Porque é com a química entre os dois que lá se aguenta o filme de Maiwenn, realizadora que recebera o Prémio do Júri por Polisse, em Cannes 2011. Mais sozinha estava porque recebeu prémio ex-aequo, com Rooney Mara (Carol), mas a actriz norte-americana já tinha partido para Nova Iorque. Foi Todd Haynes, o realizador do filme, que recebeu o prémio. Nada tira a Bercot, no entanto, uma semana alucinante e inesquecível, como relatou no Palco dos Festivais de Cannes, porque para além do "presente surrealista" que acabara de receber, foi tambem a realizadora do filme de abertura do festival, La Tête Haute.

O prémio de intrerpretaçao masculina foi para Vincent Lindon, por La Loi du Marché. Esse foi o momento da noite - e o filme um dos mais bonitos da competição, talvez até contra a corrente do concurso. "É o primeiro prémio que recebo na minha vida", disse Lindon. Foi ovacionado de pé. Lindon dedicou-o a todas as pessoas, "os nossos contemporâneos", que não são consideradas à altura daquilo que merecem. Foi um "gesto político", considera o actor, a selecção de La Loi du Marché. Onde ele é comoventíssimo de entrega, de nudez, de solidão, como um desempregado em vias de regressar ao mercado, iniciando o processo de cursos de formação, de aconselhamento profissional, mas sendo invadido, o seu corpo, a sua mente, pelas leis do mercado: a vigilância, a ausência de solidariedade.

O Grande Prémio foi para Le fils de Saul, do húngaro László Nemes, projecto desenvolvido no âmbito da Cinefondation de Cannes, há cinco anos, com o apoio do antigo presidente do festival, Gilles Jacob, eque se deparou com enormes dificuldades para ser financiado - devido à dificuldade do tema, o quotidiano em Auschwitz. Era considerado um dos favoritos para a Palma este retrato de uma personagem, Saul, membro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus que os nazis protegiam, a prazo, para limparem as câmaras de gás, removerem os corpos, direccioná-los para os crematórios. O projecto nasceu da leitura de relatos manuscritos de membros dos Sonderkommando encontrados enterrados em Auschwitz-Birkenau.

Quem era mesmo dado como favorito era The Assassin, de Hou Hsiao-Hsien, cineasta de Taiwan amado pela cinefilia mais ardente que recebeu este filme de artes marciais como um clássico instantâneo - filme de uma beleza fulminante, pode dar-se o caso de paralisar as emoções. Foi o Prémio de Realização, talvez mais justo, pelo virtuosismo, do que a Palma. Yorgos Lanthimos, por Lobster, recebeu o Prémio do Júri. Lanthimos foi o prémio Un Certain Regard por Canino, em 2009, e a sua "subida" ao concurso era antecipada. Depois do filme exibido a sua presença no palmarés afigura-se justa: o grego congrega um cast de experiências e origens diferentes, Rachel Weiz, Léa Seydoux, Colin Farell e John C. Reilly, fazendo-o trabalhar com novos vocábulos, sem as convenções narrativas que ajudam os actores a erguer personagens, um minimalismo que é agressivo mais cheio de humor - num futuro distópico, o deste filme, ou as pessoas acasalam ou viram animais, lagostas, por exemplo.

O prémio do argumento foi para Michel Franco, o realizador de Chronic - filme nascido em Cannes com o encontro em 2012 de Franco com o actor Tim Roth, que na altura era presidente do júri da secção Un Certain Regard e premiou o anterior filme do cineasta mexicano, Después de Lucía. Tim Roth é agora o intérprete do novo filme do realizador: um enfermeiro que trata de doentes terminais e assim se completa emocionalmente

Uma Palma de Ouro especial foi atribuída a Agnès Varda. Recebeu-a como "Palma de resistência". Dedicou-a a "todos os cineastas inventivos e corajosos".

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