MoMA renasce 75 anos depois

Há um mês atrás havia ainda portas giratórias cobertas de papel. No passeio grandes sinais advertiam: "Cuidado! Em construção." No interior, as prateleiras de madeira da loja permaneciam vazias e parte do chão do átrio continuava escondido por um amontoado de caixotes de cartão e plástico.

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Zack Seckler/AP

Hoje, dia da reabertura, o Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque, um dos mais importantes museus do mundo, está longe do estaleiro em que se transformou nos últimos quatro anos. O ambicioso projecto de renovação do arquitecto japonês Yoshio Taniguchi chegou ao fim e deu à cidade um edifício impressionante - com toneladas de vidro, granito preto e alumínio - que quase duplica a área do anterior.

O regresso do MoMA a Manhattan tem sido acolhido como um acontecimento arquitectónico e cultural. O vice-presidente do museu, Jerry Speyer, disse ao "New York Observer" que o edifício se tornará num ícone nova-iorquino, como "o Empire State Building, o Chrysler e o Rockefeller Center", algo de "verdadeiramente único". O romancista John Updike escreveu na revista "New Yorker" que a "reticência zen" da arquitectura dá ao novo MoMA "o encanto de uma colmeia esvaziada de mel e repleta de um brilho suave".

Há quem não concorde. Na esquina da Rua 53 com a 6ª avenida, um nova-iorquino chamado Raymond não estava muito impressionado com o novo prédio: "Prefiro os arranha-céus à moda antiga." Raymond não estará hoje na abertura do museu: "A arte não é comigo." Na abertura oficial de hoje, o MoMA presenteia os seus visitantes com entrada livre, graças ao patrocínio de um banco e de uma cadeia de supermercados. Mas a partir de amanhã cada bilhete custa 15,4 euros (ver texto nestas páginas).

Moderno vs contemporâneo
Apesar de o edifício de Taniguchi reunir consenso nos jornais - a imprensa define-o como "sereno", "orgânico", "inteligente" e "inovador" - o custo total do projecto, 665 milhões de euros, e a filosofia do museu têm sido alvo de críticas.

Com uma colecção de mais de 100 mil peças, criadas entre 1870 - a obra "fundadora" é "O Grande Banhista" (1885), de Paul Cézanne - e a actualidade (as últimas compras incluem peças deste ano, como "Seconds at Alcázar", de Eve Sussman), e 1,8 milhões de visitantes por ano, não é uma instituição fácil de gerir.

Para a maioria dos especialistas citados na imprensa norte-americana e internacional, a presença da arte contemporânea no MoMA continua a ser insuficiente. Glenn D. Lowry, director do museu desde 1995 e um dos principais impulsionadores da renovação, discorda. "Desde a sua fundação, o [museu] sempre se considerou em contínua evolução", disse Lowry ao "The New York Times". "Esta herança permitiu-nos rever a colecção em cada fase de crescimento. O novo MoMA, tal como o velho MoMA, é por isso um 'work in progress'", defende, garantindo que o museu vai apostar na produção contemporânea e na reflexão sobre o papel da arte e dos artistas.

Para Lowry, o MoMA continuará a ser um laboratório que dá ao público a possibilidade de acompanhar a evolução do moderno e do contemporâneo, sem perder a tensão que existe entre ambos. Lowry explicou à revista "New York": "O nosso desafio é precisamente a tensão que nasce da tentativa de apresentar ao mesmo tempo o presente imediato e o passado imediato. No momento em que os afastamos perdemos essa tensão. O que é contemporâneo hoje vai tornar-se histórico num futuro não muito distante. Aí temos o dilema - onde é que é a separação?"

O edifício de Taniguchi e o programa expositivo pretendem reflectir a competição saudável entre o moderno e o contemporâneo. "Queremos um museu que seja capaz de mostrar a evolução da arte nos últimos 125 anos e que, ao mesmo tempo, aponte para o futuro." As novas galerias de arte contemporânea e o protocolo estabelecido em 1999 com o P.S.1 Contemporary Art Center, em Queens, são "muito significativos".

"Não estamos só obcecados com a guerra"
O projecto de remodelação é o maior e o mais caro da história do MoMA. Com uma área total de 630 mil metros quadrados, 125 mil dos quais para exposições, o novo conjunto tem pela primeira galerias adaptadas a trabalhos de grande escala, como "F-111", de Rosenquist.

Taniguchi quis criar um museu que fosse capaz de conciliar os módulos já existentes com novos espaços, dando lugar a uma estrutura orgânica que se articula em torno do Jardim das Esculturas. "O modelo do MoMA é Manhattan. O jardim é o Central Park e à sua volta há uma cidade de edifícios com várias funções e objectivos", explicou Taniguchi.

O novo MoMA tem a sua vasta colecção, que vai da pintura à arquitectura, passando pela fotografia, o design, o cinema ou o desenho, dividida por seis andares. Sobre o nível inferior, onde estão instalados os dois auditórios, fica o grande átrio de Taniguchi, o elemento em que o arquitecto diz ter concretizado uma "mudança radical". O átrio, um espaço com mais de 12 mil metros quadrados, tem dois acessos e mantém um diálogo "intenso" com o Jardim das Esculturas.

"Quando se olha para o átrio do jardim", explica Taniguchi, "pode sentir-se a extensão do espaço exterior no edifício." Quando se olha do átrio, a situação inverte-se.

No segundo andar fica um espaço totalmente dedicado à arte contemporânea - uma ampla galeria sem colunas que pode receber peças de grandes dimensões. Os departamentos de desenho, arquitectura e design ocupam o terceiro andar. Nos dois seguintes é exposta a colecção histórica do museu: no quarto, obras realizadas entre 1945 e 1970; no quinto, a pintura e a escultura produzida entre o pós-guerra e 1970.

"Ver arte contemporânea num museu que tem peças de Picasso e Brancusi é óptimo para a arte contemporânea", diz John Elderfield, o conservador de pintura e escultura. "Broken Obelisk", de Barnett Newman (1969), a primeira obra que se vê ao entrar e uma das peças que estabelece este compromisso do MoMA - o "eterno" diálogo entre o moderno e o contemporâneo.

No último andar está a área das exposições temporárias, que deverão passar a ter um peso maior na programação do museu.

O MoMA está assim de regresso ao quotidiano de Manhattan e é um dos símbolos do renascimento de Nova Iorque pós-11 de Setembro de 2001. "Aqui Nova Iorque é optimista", dizia Brian a um mês da abertura, folheando um livro na loja de design frente ao museu, na Rua 53, e apontando para a fachada negra do novo MoMA. "Não estamos só obcecados com a guerra e o terrorismo."

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