"Castro": Beckett por Chaplin

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Um grande filme da competição internacional, o de Alejo Moguillansky. Hoje.

Depois de "La Mujer sin Piano", é também em castelhano que se exprime o segundo grande filme a reter na competição 2010 do IndieLisboa. Só que desta vez em castelhano argentino de impecável factura absurdista, expressa na misteriosa perseguição que três homens e uma mulher fazem à personagem que dá título ao filme de Alejo Moguillansky de La Plata a Buenos Aires.

E porque é que esses três homens e uma mulher perseguem "Castro"? Se querem que vos diga, não sabemos. E como dizia a outra, isso agora não interessa nada, nem tem importância absolutamente nenhuma perante o "tour-de-force "conceptual de "Castro", um guião original, em todos os sentidos da palavra, mesmo que parcialmente inspirado por "Murphy", primeiro romance de Samuel Beckett.

Essencialmente, "Castro" é uma tragédia existencialista a fingir que é uma comédia dobrada de actualização pós-moderna do velho burlesco dos tempos de mudo reencarnado em arte performativa. Explicamos melhor: Castro, o nosso herói, está entalado entre a espada da respeitabilidade e a parede da idade adulta, e quer esquivar-se a ambas sendo perseguido pela sociedade.

No filme de Moguillansky, mesmo que tudo seja uma metáfora da entrada na idade adulta, a perseguição da sociedade é literal: porque toda a gente passa o filme a correr de um lado para o outro (é o primeiro filme que vemos que traz o crédito "direcção coreográfica") ou a guiar carros que nem um desvairado, culminando numa delirante perseguição automóvel que parece saída de um velho filme mudo de Chaplin.

Provavelmente, nem assim conseguimos explicar a bizarria que é "Castro", e não faz mal, porque mesmo apesar da inventividade se começar a esgotar em direcção ao fim - como se o filme ultrapassasse os limites da sua condição física e perdesse o fôlego - há aqui uma energia muito rara no cinema que se faz hoje em dia.

Site oficial: www.costafilms.com

Competição: "Castro" (Argentina, 2009, 1h28), de Alejo Moguillansky. Cinema Londres, sala 1, terça 27 às 15h45 e quinta 29 às 21h45.

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