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Quando os cidadãos ajudam a comprar pinturas e a restaurar estátuas aladas

Há já décadas que importantes museus internacionais recorrem a este tipo de estratégia para financiar a compra de obras de arte, quer através de campanhas clássicas de angariação de fundos, como esta que agora começa com o Museu Nacional de Arte Antiga, destinadas a atrair sobretudo entidades públicas e privadas de maiores dimensões, com um forte apoio dos media, quer através do mais moderno crowdfunding, em que as contribuições são feitas essencialmente por cidadãos em plataformas específicas como a Indiegogo, a Kickstarter e a Razoo, três das mais concorridas.

As experiências internacionais são muitas e variadas e, embora nem todas atinjam os objectivos, muitas das campanhas são bem sucedidas.

O Reino Unido, por exemplo, tem uma já longa tradição de angariação de fundos junto da sociedade civil, envolvendo tanto organismos com participações estatais como indivíduos e empresas privadas. Entre as organizações com maior sucesso está o Art Fund, criada em 1903, que já ajudou a adquirir para a National Gallery londrina mais de 100 obras de artistas tão importantes como Velázquez, Dürer, Leonardo da Vinci, Rembrandt, Rafael e Ticiano (este último é o autor de Diana e Actéon, pintura que passou a fazer parte também da colecção da National Gallery da Escócia depois de os dois museus terem organizado em 2008-2009 uma campanha que reuniu os 70 milhões de euros necessários para a comprar).

Neste momento, o Art Fund está a tentar impedir que um Rembrandt, o Retrato de Catrina Hooghsaet (1657), saia do país. Segundo a publicação especializada The Art Newspaper, foi vendido a um particular no estrangeiro por mais de 48 milhões de euros, mas o pedido de licença para a sua exportação foi entretanto retirado. Espera-se agora que esta organização reúna a verba necessária junto de várias entidades, entre elas a que gere o dinheiro que resulta da lotaria nacional destinado ao património, para garantir que o retrato passa para as colecções públicas britânicas. Esteve prevista uma campanha pública que acabou por ser cancelada em favor de uma abordagem mais "discreta", escreve o Art Newspaper.

Nos últimos anos, no entanto, este “mecenato” alargado tem diversificado objectivos e já não se destina apenas à aquisição de grandes mestres da pintura. Em Paris, por exemplo, o Louvre já organizou angariações para a limpeza e restauro de uma das suas esculturas mais icónicas, a Vitória de Samotrácia (a operação custou quatro milhões no total, sendo que um quarto desse valor resultou de contribuições de cidadãos), e para a compra de uma peça de mobiliário conhecida como A Mesa da Paz (neste caso, o objectivo era de um milhão de euros, sendo que o custo total ultrapassava os 12 milhões); e o Museu d’Orsay pediu ajuda para financiar trabalhos de conservação numa pintura de Gustave Courbet, L’Atelier du Paintre (objectivo da campanha que em menos de uma semana angariou dois terços desse montante era de 30 mil euros dos 600 mil necessários).

Nos Estados Unidos, a A. Sackler Gallery, um dos museus da galáxia Smithsonian, em Washington, uma das maiores instituições culturais americanas, já chegou a recorrer a crowdfunding para reforçar o orçamento de uma exposição sobre ioga; o National Air and Space Museum angariou mais de 500 mil dólares (440 mil euros) para restaurar o fato do astronauta Neil Armstrong; e mesmo uma instituição muitíssimo mais pequena e menos conhecida como o Autry National Centre of the American West contou com o apoio cívico para exposições como a que dedicou à mítica Route 66, a estrada de 4000km que liga Chicago, no Illinois, a Santa Mónica, na Califórnia, hoje um marco histórico.

Até o Vaticano, que conta com museus que estão entre os mais antigos do mundo, se colocou este Verão na linha da frente da filantropia global ao lançar a Patrum, uma aplicação já muito criticada em que o utilizador pode ficar a conhecer os bastidores das suas riquíssimas colecções e contribuir, ao mesmo tempo, para diversas campanhas de restauro a elas ligadas.

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