Punk para toda a família

O final dos anos 70, a música dos Clash, a Londres “punk”... mas isto é em fundo, porque London Town quer ser um feel good movie para toda a família.

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London Town: um garoto, filho de pais separados, encontra na música (dos Clash) motivação suplementar

O final dos anos 70, a música dos Clash, a Londres punk, os primeiros sinais da devastação das classes trabalhadoras pelo “thatcherismo”: este é o fundo de London Town, mas é exactamente apenas isso, um “fundo”, um cenário, que o filme enverga quase como publicidade enganosa.

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Limado de toda a violência, quer a “negativa” quer a “positiva” (salvo alguns anedóticos confrontos entre skinheads e “punks de esquerda”), reduzindo a “época” a meia-dúzia de sinais ilustrativos e irrelevantes (até na utilização, banalíssima, de imagens de arquivo), London Town arrasta-se em modo de telefilme para contar uma história de coming of age, a de um garoto, filho de pais separados, que encontra na música (dos Clash) uma espécie de motivação suplementar e, vivendo na periferia, se deixa seduzir pela “efervescência” londrina (que no filme não pareça haver grande diferença entre a “periferia” e a “efervescência” podia ser uma piada, mas não é).

Não chega a ser antipático por causa dos actores: o miúdo (Daniel Huttlestone), o pai dele (Dougray Scott), a garota punk (Nell Williams) que é filha de um alto responsável do governo Thatcher – mas já o Joe Strummer de Jonathan Rhys-Meyers (que já foi um émulo de David Bowie no “Velvet Goldmine” de Todd Haynes) é uma simples figura de cera animada.

Não chega a ser antipático, dizíamos, mas é tão esquemático e tão domesticado que nem é certo que cumpra bem aquele que parece ser o seu objectivo principal: ser um feel good movie, em tempos austeros, para toda a família. Conselho de amigo: para ver esta Londres proletária e, de facto, punk, ir procurar um velho filme de Aki Kaurismaki, I Hired a Contract Killer. Entre outras coisas, encontra-se lá o verdadeiro Joe Strummer.

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