Pratos na balança

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Cerâmicas na Linha abriu na Rua Capelo, n.º16, Chiado, em Lisboa
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A loiça em grés (argila, quartzo, feldspato e areia) torna-se mais compacta durante a cozedura a temperaturas elevadas (entre 1200°C e 1350°C) e é capaz de suportar grandes temperaturas
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A faiança precisa de ser vidrada para impedir a absorção de líquidos
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A terracota é vidrada para contrariar a sua alta porosidade
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Quando uma mulher de 50 anos vê a sua vida profissional interrompida, o futuro pode parecer-lhe bastante nebuloso e pouco promissor. Mas Natália Pires não estava sozinha. Alfredo, o marido de 72 anos, injectou-lhe a ideia daquilo que nasceu como projecto de casal e contaminou a geração seguinte, as filhas. Natália trabalhara como assistente administrativa em fábricas de cerâmica, conhecia aquilo que de melhor se fazia em Portugal e quem o fazia. Até reunir uma lista de contactos e escolher o que iria comercializar foi um pulinho. Mas a originalidade da ideia não era essa. Não se tratava simplesmente de comercializar louças cerâmicas disponíveis no mercado nacional.

Vamos ao início, às fábricas de cerâmica portuguesas, onde a maioria da produção responde às encomendas de marcas estrangeiras. No fim da linha do percurso fabril, estava o excedente de produtos em perfeitas condições, que já não iria chegar ao destino das peças antecedentes — há quase sempre uma sobreprodução para colmatar eventuais acidentes. O destino? Venda do material ao peso, uma maneira de as fábricas se verem livres do que só ocupa espaço. E foi um espaço que Natália e a família acabaram por dar a estas paletes carregadas de louça em faiança, grés e terracota. Na linha da frente do balcão da loja ou nas traseiras a desmanchar paletes, está sempre alguém da família. Trabalham todos juntos.

Abriram a primeira loja Cerâmicas na Linha há quatro anos, na zona de Oeiras, e agora estenderam-se para Lisboa. E essa é a grande meta do fim da linha. A imagem de louça empilhada, e com defeitos, usualmente vendida na rua, numa feira, é substituída por variadas colecções criteriosamente arrumadas em estantes de madeira em pleno centro da cidade, no Chiado. Os preços não estão marcados. É a balança do balcão que atribui a cada peça o seu peso em euros.

Um prato em grés pesa mais que um em faiança e isto deve-se à pasta de que é feito o grés (argila, quartzo, feldspato e areia) e que se torna mais compacta durante a cozedura a temperaturas elevadas (entre 1200°C e 1350°C), resultando num produto refractário, ou seja, capaz de suportar grandes temperaturas sem sofrer alterações, pouco permeável e mais resistente. As argilas utilizadas na sua composição conferem-lhe uma cor acizentada, distinta do branco da porcelana. A faiança, que deve o seu nome à cidade italiana Faenza (centro cerâmico italiano do Renascimento, séculos XV e XVI), precisa de ser vidrada para impedir a absorção de líquidos, coze a temperaturas mais baixas (entre 900°C e 1280°C), não tem quartzo na sua composição e é mais leve que o grés e a porcelana.

Agora, é só escolher. Se queremos um prato que vá ao forno, certamente será de grés. Se queremos mais leve e mais branco, a faiança sempre é mais barata.

A clientela faz-se de lisboetas e turistas, que também encontram as tradicionais louças da Bordalo Pinheiro, que não se pesam na balança; vendem-se, como em qualquer outra loja, à unidade e ao mesmo preço.     

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