Português Daniel Rodrigues é o fotógrafo ibero-americano do ano

Fotógrafo recebe prémio principal da secção ibero-americana do concurso Picture of the Year. E fica em segundo na categoria de retrato. Portfólio mostra o Irão contemporâneo, refugiados na Turquia e albinos no Malawi e em Moçambique.

Foto
Harrison Molcoshomi com a mãe, Edna Daniel Rodrigues/POY Latam

Harrison Molcoshomi, nove anos, foi o que ficou. Quando dois homens entraram na casa onde dormia, a meio da noite, em Fevereiro de 2015, e levaram o seu irmão gémeo, ele teve sorte. Agredida com uma faca, a mãe, Edna, não conseguiu proteger os dois filhos. Ainda hoje o rapaz pergunta pelo irmão. Não vai à escola porque Edna acredita que os sequestradores são da região e hão-de voltar.

Harrison Molcoshomi vive no Malawi e é um dos albinos que Daniel Rodrigues, 30 anos, registou com as suas câmaras e que fazem parte do portfólio que valeu a este português o prémio de fotógrafo ibero-americano do ano do concurso Picture of the Year Internacional – Iberoamérica 2017 (POY – Latam). Um portfólio que tem, por exemplo, mais albinos em Moçambique, onde a perseguição tem vindo a aumentar, refugiados na Turquia, jovens progressistas no Irão e pescadores na Mauritânia.

As fotografia de Daniel Rodrigues foram escolhidas entre mais de 40 mil imagens concorrentes ao POY – Latam. Os retratos que fez de albinos no Malawi e em Moçambique são particularmente eficazes como instrumentos de denúncia de uma situação de perseguição e discriminação que tem vindo a agravar-se nestes dois países desde 2014, explica o fotógrafo numa das legendas que acompanham estas imagens que, com frequência, contam histórias dramáticas como a de Electério João, um homem de 23 anos da região de Nampula, um dos muitos casos em que é a própria família a responsável por pôr albinos em risco. Foi o cunhado quem organizou o seu rapto e tentou vendê-lo.

O albinismo é uma anomalia genética que pode afectar qualquer raça e que decorre de uma insuficiência de produção de melanina. As pessoas por ele afectadas têm uma ausência total ou parcial de pigmentação da pele, dos cabelos e dos olhos, o que pode conduzir a problemas de visão. Em muitos países os albinos são perseguidos e marginalizados. Uns acreditam que são perigosos e manifestações demoníacas, outros que algumas partes do seu corpo podem trazer riqueza, sorte e até a cura de doenças.

Daniel Rodrigues vive hoje em Portugal mas viaja pelo mundo como freelancer. Nascido em 1987, começou a carreira no diário Correio da Manhã, passando a trabalhar depois para a agência Global Imagens (Diário de Notícias, Jornal de Notícias e O Jogo). Entre as publicações que já recorreram ao seu trabalho estão The New York Times, The Wall Street Journal, Courrier International, Expresso, Folha de São Paulo e The Washington Post.

Em 2013, Daniel Rodrigues ganhou o primeiro lugar na categoria “Daily Life” (quotidiano) do World Press Photo, o maior concurso de fotografia do mundo. A fotografia a preto-e-branco que lhe valeu o prémio foi tirada durante uma missão humanitária na Guiné-Bissau, em Março de 2012, e mostra um grupo de crianças descalças a jogar à bola. Quando ganhou o prémio estava desempregado e vira-se obrigado a vender a máquina fotográfica.

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