Portugal Fashion: capuzes e electrónica para senhoras no Convento do Beato

As colecções de Inverno começaram a ser apresentadas em Lisboa com Storytailors, Hibu ou Alves/Gonçalves. A 38.ª edição transfere-se agora para o Porto, onde fica até sábado.

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Quatro modelos assomam à janela acima da passerelle de capuzes aconchegantes na cabeça e ar de mistério. Assim começava mais uma história dos Storytailors, que encheu o Convento do Beato de moda nesta quarta-feira à noite, no arranque da 38.ª edição do Portugal Fashion. Uma noite que acabaria com a grelha de modelos ao som dos Underworld de Alves/Gonçalves.

A Caminhada da Viúva Branca é então o primeiro capítulo da nova história dos Storytailors – as histórias são a forma como João Branco e Luís Sanchez agrupam estações e exploram universos criativos. Desta feita, para o próximo Inverno, têm como cicerone, narrador e personagem da história alguém de seu nome JD. Uma série de casacos folgados que envolvem tecidos plissados e peças mais delicadas domina a passerelle. Embrulhos de pêlo e veludo que depois revelam vestidos curtos, preto, branco, crus para homens e mulheres que desfilam. Roupa para "um tempo em que o ser humano oscila ao longo da sua vida entre ser homem e ser mulher”, de “países onde a imaginação passou a ser taxada” vs. outros “onde criar ainda é livre”, escrevem na apresentação da colecção.

JD é um contrabandista da criatividade que está na costa americana e rumará a Portugal. JD é veículo para expressar transformação no vestuário, num desfile com o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, e a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, na assistência, e lãs, burel e o levíssimo georgette a apelar aos sentidos.

A noite teve palmas e clientes habituais dos mais reconhecidos e dos mais jovens designers, mas sem grandes reacções apoteóticas. O público foi circulando entre a sala principal para ver os finalistas do curso de Design de Moda da Casa Pia de Lisboa, os Storytailors e Alves/Gonçalves, sem nunca a lotar por completo, e a biblioteca, menor e já com assistência em parte de pé, onde estiveram Hibu, Estelita Mendonça e Susana Bettencourt. O último desfile, sem grandes atrasos, coube à dupla de Manuel Alves e José Manuel Gonçalves, cuja colecção desfilou no espaço central do convento ocupando todo o seu quadrilátero – as modelos circulavam em grelha, nunca deixando a passerelle vazia num movimento cadenciado a condizer com o hipnótico I Exhale dos Underworld a sair das colunas.

A colecção pareceu ir beber a alguns elementos da cultura rave e electrónica, embora os criadores mencionem apenas a intepretação "dos novos códigos dos tempos de agora" e do "clássico". Pretos, cinzentos, brilhos, iridescências em pregas e escamados, sapatos de solas densas e grandes casacos negros em citação directa de um tempo passado mas reinventado. E, de repente, estampados evocativos dos tapetes persas.

Antes, os Hibu, ou Marta Gonçalves e Gonçalo Páscoa, fizeram a sua Impression #3 entre a casualidade e o controlo, e quiseram desconstruir o vestuário tradicional. Com modelos femininos e masculinos vestidos de rosa, azuis e pretos, rechearam a passerelle da antiga biblioteca do convento de sportswear para a vivência das cidades de ténis e neoprene. A noite de desfiles completou-se ainda com o arco-íris de malhas de Susana Bettencourt, "knitwear feita pelas suas próprias mãos" que são as suas Origens, e com a mistura de cobertores de papa tradicionais, com a sua felpa densa e tacto ligeiramente rugoso, e das fibras sintéticas (e armações às costas dos modelos) do material de campismo de Estelita Mendonça. Refuge wear ou, inevitavelmente, a protecção perante a agressão do Inverno, neste caso de 2017.

O Portugal Fashion continua já a partir desta quinta-feira no Porto, onde estará até sábado com desfiles de criadores como Fátima Lopes, Alexandra Moura, Anabela Baldaque ou Nuno Baltazar, e marcas ligadas à indústria de vestuário e de calçado.

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