Os festivais de música estão a assobiar à crise?

Segunda edição do Talkfest começa esta quarta-feira em Lisboa.

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Durante três dias os festivais de música são o tema de debate da segunda edição do Talkfest Paulo Pimenta

Se há área que parece não ter qualquer problema com a crise é a dos festivais de música. De Verão ou de Inverno, indoor ou outdoor , de música portuguesa ou alternativa, o leque de escolhas é cada vez maior. Não é exagero dizer que existe um festival para cada gosto e feitio. Mas, faz sentido? É economicamente viável? É o que o público quer? E os artistas? É um fenómeno, isso é certo, e como qualquer fenómeno vale a pena ser compreendido. E para isso existe o Talkfest, um fórum dedicado em exclusivo ao tema, que começa esta quarta-feira em Lisboa.

Não só as escolhas são cada vez mais, como o público parece responder cada vez melhor aos convites. Em 2012, por exemplo, o Optimus Alive, que acontece desde 2007 em Algés, esgotou semanas antes de acontecer. O gigante espanhol Primavera Sound viajou pela primeira vez para Portugal, escolhendo o Porto, e Paredes de Coura registou uma adesão de público como há muito tempo não acontecia. Mas estes são apenas três exemplos de um universo que não pára de crescer e se espalha por todo o país, provando que as pessoas gostam de festivais, quer seja pelos concertos ou pelo ambiente. Que lições se podem tirar daqui?

“O país parece estar cada vez pior e os festivais continuam a crescer. Há obviamente aqui um assunto para ser falado”, diz ao PÚBLICO Pedro Quinteiro, um dos responsáveis pelo Talkfest, que acontece de 6 a 8 de Março no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), em Lisboa. Foi ao reparar neste contra ciclo que, com Ricardo Bramão e Joana Gonçalves, Pedro Quinteiro decidiu no ano passado criar este fórum, que tem como princípio o debate do tema entre pessoas do meio (promotores, artistas, jornalistas e público).

A adesão à primeira edição do Talkfest o ano passado foi grande, garante Pedro Quinteiro. Foram muitos os temas discutidos e foram ainda mais as ideias que surgiram para outros debates, que acontecerão então esta semana. 

“A verdade é que existem conferências de tudo mas até agora não havia nada especificamente sobre os festivais de música e pareceu-nos importante visto que há tanta coisa para ser falada”, explica o responsável, que admite que o seu interesse por festivais surge não por fazer parte de alguma organização mas por participar neles como “festivaleiro”. “O que é interessante aqui é a troca de ideias e experiências. Um promotor tem algo de diferente a contar do que um patrocinador, assim como um artista tem uma experiência diferente do público.”

É isto, que segundo Pedro, é a mais-valia deste fórum, que em três dias vai juntar em Lisboa cerca de 40 oradores. E nem só de conferências se faz o programa, que inclui ainda cinco masterclasses e os concertos dos portugueses Paus, Capitão Fausto, Salto, Os Pontos Negros, doismileoito, Cavaliers of Fun e Ciclo Preparatório. Na última noite há ainda espaço para os Dj’s Tom Enzy e a dupla António Mendes e André Henriques.

“Procurámos alargar o âmbito do Talkfest e proporcionar estas experiências com os artistas”, continua. Mas antes dos concertos, as conferências, que os responsáveis esperam que sirvam também para ajudar as organizações dos vários festivais. “No ano passado recebemos um feedback muito positivo mas como o Talkfest aconteceu em Maio muitos dos promotores disseram-nos que não teriam tempo para estudar e aplicar alguns dos conceitos discutidos”, explica Pedro, acrescentando que mesmo assim algumas ideias acabaram por surgir em alguns festivais.

Entre os assuntos mais falados no ano passado e que Pedro acredita que terá tido alguma influência na preparação dos festivais para 2013 foi a associação das marcas aos eventos, um tema que mesmo assim continuará a ser debatido nesta edição. “Nota-se que as marcas se estão a aproximar dos festivais e é preciso pensar sobre isto. As marcas trazem dinheiro para os festivais mas de que forma, o que é que implica? E se de repente as marcas deixarem os festivais, estes são sustentáveis?” Para discutir estas e outras ideias foram convidados os responsáveis de marcas como a Optimus, a Vodafone e a TMN, as três grandes operadoras que dão nome a mais do que um festival.

Mas há também conferências dedicadas às novas tecnologias e à ecologia, à divulgação dos artistas no âmbito de um festival, ao turismo e até às festas académicas. “Todos os temas são válidos e importantes”, diz Pedro, explicando que os temas debatidos são escolhidos em função daquilo que a organização considera ser importante falar no momento. “Não criamos painéis a pensar em festivais específicos mas sim em exemplos concretos que acontecem e que tanto podem ser bons como maus.”

De toda a programação, que pode ser consultada aqui, Pedro Quinteiro destaca a sessão de sexta-feira com os keyspeakears internacionais Steve Jenner e Chris McCormick, co-fundadores dos UK Festival Awards e dos European Festival Awards, e o músico dos James, Saul Davies. “É importante percebermos a visão que eles têm e, através das suas experiências lá fora, estabelecermos o paralelo com Portugal. Queremos perceber o que estamos a fazer bem e o que ainda temos de melhorar.”

Para participar no Talkfest é preciso comprar bilhetes, à venda nos locais habituais. Existem bilhetes apenas para as conferências ou só para os concertos, para um dia ou para os dias todos.
 

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