Pires Vieira, o artista provocatório que o Museu do Chiado nos quer dar a conhecer

A primeira antológica do artista plástico, até agora desconhecido de grande parte do público, inaugura esta sexta-feira em Lisboa

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As obras mais antigas de Pires Vieira estão em destaque nesta exposição DR
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Entramos no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC), em Lisboa, e na parede saltam à vista as palavras Look again and again and again (Olhe outra vez e outra vez e outra vez). Estão no andar de cima mas em baixo na entrada já olhamos para elas.

Try and try and try again (tente e tente e tente outra vez) lê-se ainda no outro lado da parede. Estas mensagens estão em duas obras de Pires Vieira, cuja primeira antológica se inaugura esta sexta-feira no MNAC, dando-nos pistas para a leitura desta exposição: nem tudo o que parece é.

É preciso olhar uma e outra vez. Pires Vieira (n.1950) não quer que as pessoas se limitem a observar as obras mas quer que façam uma reflexão permanente. O artista mostra e esconde ao mesmo tempo, questiona e deixa-nos a pensar. Se ao entrar no MNAC reparámos nas mensagens que nos deixou em obras de chapa acrílica e óleo sobre tela, cá em baixo desperta-nos a curiosidade com a obra Porta I, II, III. É uma representação de portas de saída de emergência que nos obriga a espreitar e a imaginar o que ali há por trás.

“Quero provocar o espectador com esta dualidade de situações”, diz o artista plástico aos jornalistas na apresentação da exposição que assinala também os seus 45 anos de carreira.

Para o director do MNAC, David Santos, Antológica. Da Pintura à Pintura é uma das grandes apostas da programação deste ano. Era uma exposição há muito tempo ambicionada mas que só agora foi possível. “Pires Vieira é um dos grandes artistas portugueses”, referiu David Santos, destacando a grande qualidade da sua obra. “O trabalho de Pires Vieira é muito consolidado e esta exposição vem colmatar uma lacuna importante”, continuou o director, esperando que “esta antológica seja o ponto de partida para outras entidades mostrarem a obra do artista”.

Apesar de ser um nome histórico da arte contemporânea portuguesa e de estar há muito tempo representado na colecção do MNAC, Pires Vieira é ainda um desconhecido para muitos. Para a curadora Adelaide Ginga, responsável por esta antológica, isto acontece pelo “percurso muito próprio” que o artista tem seguido, “afastado do circuito normal da arte”.

“O facto de ter assumido uma postura liberta de convenções e de ter procurado manter-se independente dos preceitos estabelecidos ‘no meio das artes’, contribuiu para um desconhecimento da sua obra”, explica a curadora no seu texto de apresentação da exposição que reúne 42 obras que percorrem a carreira de Pires Vieira, da década de 1960 até aos anos mais recentes.

No Chiado estão algumas das obras que Pires Vieira expôs no pós-25 de Abril em mostras individuais na Galeria Quadrum e colectivas, como a exposição itinerante Pena de Morte, Tortura, Prisão Política, em 1976, e na histórica iniciativa de Ernesto de Sousa Alternativa Zero, de 1977.

Para Pires Vieira, ao fim de 45 anos de trabalho, ver agora a primeira antológica da sua obra acontecer “é como chegar ao terceiro período do ano escolar e fazer uma revisão da matéria dada”. “Para mim não tem nenhum significado consagrativo”, disse o artista. “Estar aqui é uma oportunidade para olhar para o que fizemos e ficarmos agradados ou não”, continuou Pires Vieira, mostrando-se feliz com o resultado final. “Senti que afinal as coisas fizeram sentido. A prática é o caminho.”

Para a semana, no sábado dia 14, uma outra parte da obra de Pires Vieira, nomeadamente os seus trabalhos em papel, estará exposta na Fundação Carmona e Costa, que estabeleceu uma parceria com o Museu do Chiado “por forma a contemplar uma visão de conjunto do percurso criativo do artista”.

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