Franceses voltam aos espectáculos, mas ainda sob o efeito Bataclan

Custos com a segurança aumentaram e ingressos diminuíram, mas as quebras a pique do Inverno de 2015 parecem ter estancado. “Ninguém quer transformar um bar numa sala de aeroporto.”

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Sting reabriu o Bataclan na véspera do primeiro aniversário dos atentados David Wolff Patrick/AFP

Este sábado à noite, a sala estava cheia para ver Sting na reabertura do Bataclan. Mas nas próximas semanas os parisienses vão sair para ver Marianne Faithfull, para assistir a um espectáculo de cabaré ou ir dançar com David Lynch? Apesar do efeito 13 de Novembro, tudo indica que sim.

Na semana após os atentados de Paris de 2015, e tendo o mais visível e mortífero dos seus alvos sido uma sala de espectáculos com um concerto em curso, as vendas de bilhetes para concertos na capital francesa caíram 80%, segundo o Prodiss – o Sindicato Nacional dos Produtores, Difusores e Salas de Espectáculos. E, na quinzena seguinte, um em cada quatro espectáculos foi cancelado. Em Dezembro, já com um Fundo de Emergência para o Espectáculo ao Vivo a arrancar, mas já também com custos extra com segurança em campo, a quebra reduzia-se para 45%.

Um ano depois, diz um estudo de opinião da consultora Harris Interactive para o Prodiss, as pessoas afirmam estar a frequentar espectáculos ao vivo – o inquérito diz respeito a concertos, variedades, comédia, festivais e comédia musical – quase ao mesmo nível de 2015, com uma diferença de menos 2% e ultrapassando mesmo os números de 2014.

Os franceses que já foram ver um espectáculo após os atentados de 2015 fizeram-no sobretudo depois de Fevereiro – entre 13 de Novembro e 31 de Janeiro, só 33% foram, contra os 88% que saíram para ir a um concerto ou ao teatro, por exemplo (segundo o estudo, continuam a ser esres os espectáculos mais frequentados em França), por exemplo, desde então. Mas 26% dos inquiridos que foram a um espectáculo após os atentados sentiram insegurança nas salas.

Ainda assim, e apesar do cenário mais optimista do inquérito (realizado em Setembro), neste Outono de 2016 a “rentrée foi bastante frouxa”, diz ao jornal económico Les Échos a directora-geral do Prodiss, Malika Séguineau. Isto apesar de uma temporada de festivais boa, mesmo condicionada pelo atentado de Nice, em Julho, que por seu turno prolongou o estado de emergência em França por todo o Verão. Juntam-se aos danos as quebras no volume de turistas, que por seu turno afectam os cabarés parisienses como o Crazy Horse ou o Lido – inicialmente com baixas de ingressos de 45%. Daniel Stevens, director-geral do Camulc, sindicato para os cabarés, music-halls e criação musical, que diz ao jornal económico que “a actividade está hoje ainda 20 a 25% inferior ao normal”.

Para Laurent Sabatier, gestor de salas e membro do Prodiss, a principal organização francesa que representa os donos de discotecas e os promotores de espectáculos, o mundo da música ao vivo está a passar pelo mesmo que a indústria da aviação passou em 2001 – a aprender a lidar com novas preocupações de segurança. Foi o que disse à revista Billboard em Abril. Mas “ninguém quer transformar um bar numa sala de aeroporto”, salvaguardou na mesma publicação americana Benoît Maume, o director artístico do emblemático Silencio, o clube nocturno de David Lynch em Paris.

O que mudou um ano depois

A maior presença de polícia armada nas ruas e o apertar dos controlos nos museus, por exemplo, são apenas alguns exemplos do que mudou num ano em Paris. O estudo para o Prodiss indica que, agora, 54% dos espectadores estão mais atentos às condições de segurança das salas de espectáculos, e 45% “muito mais atentos” – uma média de 40% considera, porém, que as medidas existentes são ainda insuficientes. Depois dos atentados, o Governo lançou guias de boas práticas para salas e festivais e sinalética extra, além de terem sido distribuídos folhetos informativos sob a hashtag #plusquejamais (mais do que nunca). E, disse Laurent Sabatier à Billboard sobre a maior compreensão e cooperação do público perante as revistas e os controlos de entrada, “o que era uma seca tornou-se amigável e relaxado – e mais rápido”.

Mas “os custos de segurança aumentaram uma média de 30% para as salas” acrescentava então Sabatier. Uma das principais salas de concertos de Paris, o Zenith, diz ter “duplicado os seus efectivos de segurança” – além da polícia municipal que rodeia o espaço, por exemplo. A tudo isto juntam-se, dizem os promotores, as dificuldades em conseguir que uma seguradora cubra um evento depois dos atentados. Em Julho, segundo o Les Échos, o peso financeiro das novas medidas de segurança estava estimado em 90 milhões de euros e o desaparecimento de espectadores representaria já perdas entre os 100 e os 130 milhões.

O fundo de emergência intergovernamental criado após os atentados, que juntou 14,4 milhões de euros, deve ajudar a cobrir parte das despesas extra dos espaços de diversão, e o primeiro-ministro anunciou na semana passada mais quatro milhões para apoiar a aquisição de equipamento de segurança. Os players do sector dizem que não basta.

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