Os fotolivros portugueses a mostrar força em Arles

Vários títulos portugueses na exposição dos melhores livros do ano. Três obras entraram nas shortlists

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La Vie Immédiate, de Sandra Rocha (Editions Loco, Paris, 2017)
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You´re Living for Nothing Now (I hope you´re keeping some kind of record), de André Príncipe (Pierre von Kleist, Lisboa, 2016) DR
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You´re Living for Nothing Now (I hope you´re keeping some kind of record), de André Príncipe (Pierre von Kleist, Lisboa, 2016) DR
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You´re Living for Nothing Now (I hope you´re keeping some kind of record), de André Príncipe (Pierre von Kleist, Lisboa, 2016) DR
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Accepte-le – Un Album Portugais 1919-1979, de Céline Gailli (The Eyes, DR
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Da parede para os livros. A participação portuguesa nos Encontros de Fotografia de Arles distinguiu-se sobretudo no campo da edição, com dois livros a alcançarem a shortlist (entre 39 títulos vindos de todo mundo) dos prémios para melhores publicações monográficas do ano: You’re Living for Nothing Now (I hope you’re keeping some kind of record), de André Príncipe (Pierre von Kleist, Lisboa, 2016); La Vie Immédiate, de Sandra Rocha (Editions Loco, Paris, 2017). Entre os 15 finalistas da categoria Livro Histórico, destacou-se Ângelo de Sousa — Cadernos de Imagens (organizado por Sérgio Mah, obra que em Portugal é editada pela Tinta-da-China e em França pela Loco). 

Em You’re Living for Nothing Now (dividido em três volumes), André Príncipe tece um emaranhado de percursos visuais, de flashes do existir e do pulsar da (sua) vida balizados em cinco anos, 2009-2013. Mantendo a estética associada às pautas de música antigas, habitual nos seus fotolivros, o mais recente título da Pierre von Kleist pisca o olho ao género “eu no mundo” através de uma sequenciação de imagens que tanto procuram relações formais e de conteúdo, como aparecem desligadas do que já se viu antes e do que se vai ver a seguir. Com a ambição de estimularem diferentes ritmos de leitura, os três tomos (o primeiro acelerado, o segundo mais acelerado ainda, o último mais pausado) dão forma a um livro “relacional” (como lhe chamou Príncipe numa conversa com o Ípsilon no final do ano passado). É uma obra que tenta libertar-se do seu “protagonista” (e autor) para mostrar “a energia do mundo”, e não “apenas” a vida privada de alguém.

Caminho para “um jornal íntimo” 

La Vie Immédiate, de Sandra Rocha, resulta da primeira edição de uma nova bolsa de apoio à criação fotográfica, Les Regards du Grand Paris, lançada pelos Ateliers Médicis. Entre 2016 e 2026, esta instituição pretende lançar refrescados olhares sobre o tecido urbano de uma área administrativa recém-criada, a Grande Paris, um projecto que ambiciona transformar a região metropolitana da capital num megalópole de nível mundial. Numa espécie de missão fotográfica DATAR (Délégation interministérielle à l’aménagement du territoire et à l’attractivité régionale), que teve como ambição “representar a paisagem francesa dos anos 1980”, serão escolhidos dez fotógrafos por ano, até 2026.

Na sequência de trabalhos anteriores sobre o universo encruzilhado e conflituoso das idades pueris, que também resultaram em livros, Sandra decidiu desafiar um grupo de adolescentes do colégio Paul Langevin, de Alfortville, — o ponto exacto em que confluem os rios Sena e Marne, que banham parte de Paris — a fazer com ela uma viagem sentimental, uma conversa em tom confessional capaz de entreabrir a porta para a complexidade dos momentos onde se revelam as primeiras dúvidas, as primeiras e grandes decisões. Para além das imagens fotográficas, La Vie Immédiate (concebido em diálogo cúmplice com o designer gráfico José Albergaria) convoca outros suportes (colagens, desenho, escrita epistolar) para chegar a “um jornal íntimo”, passível de ser partilhado com todos.

Através dos oito Cadernos de Imagens de Ângelo de Sousa é possível reorientar a percepção da obra de um dos mais relevantes e reconhecidos artistas portugueses da segunda metade do século XX. Na sua prática — confirma-se definitivamente agora — a fotografia e o filme foram suportes determinantes para uma pesquisa e uma relação instigadora (e operante) com o seu mundo mais próximo, com os caminhos do seu quotidiano (não necessariamente íntimos).

Entre as centenas de obras em exposição no Atelier de la Mécanique (Parc des Ateliers), figuram outros livros de autores portugueses (que não chegaram à shortlist), como Edgar Martins (Siloquies and Soliloquies on Death, Life and Other Interludes, The Moth House, 2016), Tito Mouraz (Casa da Sete Senhoras, Dawi Lewis Publishing) e Luís Ferreira Alves (Fotografias em Obras de Eduardo Souto Moura, Cityscópio, 2016). Ou ainda obras relacionadas com Portugal, como Matosinhos (Corsiero Editore, 2017), um diálogo entre as imagens do fotógrafo italiano Gabriele Basilico e os desenhos do arquitecto Álvaro Siza Vieira, e Accepte-le — Un Album Portugais 1919-1979, de Céline Gaille, que parte de um conjunto de fotografias vernaculares de família para construir uma genealogia ficcionada, onde assumem relevo vários episódios da história contemporânea portuguesa. 

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