Os DIIV e as canções de guitarras transparentes

Mistura de maturidade lírica e jovialidade instrumental.

Foto
DIIV: o que lhes falta em peso dramático é compensado por canções que exalam uma frescura que contagia

Há três anos quando surgiram com o álbum de estreia, Oshin, percebeu-se que os nova-iorquinos DIIV não eram uma banda qualquer. Como tantas outras da sua geração (dos Real Estate aos Deerhunter) expunham influências à flor-da-pele (dos Felt aos Sonic Youth, dos Feelies aos My Bloody Valentine) mas compreendia-se que não eram mero decalque do passado, estabelecendo uma relação salutar com as fissuras da memória.

Nesse disco as guitarras sobrepunham-se sem exageros, a voz parecia ocultar-se no fundo das canções e o ritmo aproximava-se de climas dançantes, num todo versátil, lúdico e desafectado.

O novo álbum vai pela mesma linha, mistura de maturidade lírica e jovialidade instrumental, com guitarras transparentes, melodias certeiras e voz afectuosa. Liderados pelo guitarrista e vocalista Zachary Cole Smith, o grupo levou algum tempo a criar o novo disco, havendo a registar a saída do baterista, e algum aparato mediático à volta da relação de Smith com a cantora Sky Ferreira.

As guitarras fulgurantes são o centro de cânticos com múltiplas texturas, temas e ambientes. Mais negras que as do seu antecessor, as canções resultam mais dinâmicas, algumas delas marcadas pelo ruído atmosférico, outros por ambientes sonhadores. Em Blue boredom, a voz de Sky Ferreira e o desenho instrumental parece evocar os Sonic Youth de outros tempos, enquanto Healthy moon se impõe com uma filigrana de melancolia nocturna, como se os DIIV fossem quatro rapazes que, através da música, querem vencer a timidez, dando forma às fragilidades, para melhor as exceder.

Por vezes, em canções como Under the sun ou Out of mind, são aquilo que alguns músicos adultos já não se permitem ser e que por vezes ainda gostariam de ser: relaxados, insolentes, nas tintas para a consistência dos dias, mãos nos bolsos andando descontraidamente pela rua, rindo e produzindo música numa garagem. Aquilo que por vezes lhes falta em peso dramático é compensado por canções que exalam uma frescura que contagia.

Sugerir correcção
Comentar