O Manual de Instruções de Dino Alves chega à ModaLisboa

No último dia de ModaLisboa, sete designers apresentam as suas propostas para o Outono/Inverno. Dino Alves promete dar uma lição sobre as contradições da indústria.

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DANIEL ROCHA

Há desfiles que se aproximam mais de um espectáculo do que outros: na sexta-feira, por exemplo, David Ferreira apresentou no Centro Cultural de Belém o seu Freakball, com figuras que bem poderiam ter ali chegado directamente de uma peça de teatro ou de um número de circo. Ao longo das suas duas décadas de participação na ModaLisboa, também Dino Alves habituou as pessoas a esperarem um showna última edição, o seu desfile acabou com as modelos cobertas com cinzas.

Talvez por isso, as apresentações do criador são sempre das mais concorridas — vale a pena lembrar que qualquer pessoa pode acompanhar os desfiles da ModaLisboa em directo através do site da organização. Nesta edição, Dino Alves apresenta Manual de Instruções: “É uma espécie de sátira e uma lição ao mesmo tempo”, conta. A colecção e o espectáculo surgem da reflexão do criador sobre a discrepância entre o interesse nos seus desfiles e o volume de compras: “Por que é que estão mil pessoas a assistir a um desfile, que se pelam para ter convite, mandam emails a dizer que são fãs e que acompanham, e depois não existem 10% que vão [à loja] que andem com as nossas roupas na rua?”.

Não será contudo muito fácil para o público aceder às colecções, tendo em conta que estão à venda apenas no ateliê/ loja Dino Alves do primeiro andar do número 91 da rua da Madalena, em Lisboa, numa outra loja em Lisboa e no site Tuedder.

O desfile desta noite vai, como habitualmente, ter uma competente performativa. De forma expressa, o criador vai partilhar a lição com os convidados. “Vou dizer uma série de coisas, às vezes com ironia, mas sempre com algum sentido de humor, sobre como eu acho que as pessoas devem estar num desfile, por que é que nós fazemos o desfile, por que é que as pessoas vão assistir ao desfile”, revela. Resumindo: vá por sua própria conta e risco.

A própria colecção foi criada com o mínimo de recursos possíveis: “Não tem quase bainhas, tem o mínimo de costuras, não tem fechos nem botões. É tudo com atilhos, com tiras de tecidos", adianta. “Serei um bocadinho mais [pragmático] hoje porque nós vamos ganhando compromissos, nomeadamente com alguns clientes — que eu assumo que não são muitos, não vou fingir que tenho 500 clientes regulares ou 200 ou 100. Confesso que tenho uma certa pena de ter perdido alguma inconsequência que me dava liberdade e também alguma criatividade”, desabafa. Com esta colecção, quer voltar às origens.

O criador pretende lançar ainda este ano uma nova marca assente em parcerias anuais com jovens designers. O objectivo é seguir um ritmo independente daquele que actualmente rege a indústria da moda (com apresentações de seis em seis meses). “Quero que seja uma coisa realmente fácil: de comprar, de confeccionar e em termos de investimento — é tudo com aproveitamento de restos de tecidos que sobram de uma estação para a outra."

Ainda neste domingo, o designer de joalharia Valentim Quaresma apresenta a sua colecção que reúne apontamentos de diferentes movimentos estéticos do século passado — da época vitoriana ao movimento punk, passado pelos anos 20 e pela Art Deco —, com acessórios feitos a partir de upcycling (reaproveitamento) de peças de joalharia vitoriana, folhas de radiografia e latão. Nuno Gama fica encarregue de encerrar a 48.ª edição da ModaLisboa, com uma linha inspirada no lado oculto dos Painéis de São Vicente de Fora.

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