O irredutível polaco

Andrzej Zulawski continua igual a si próprio, mas neste caso isso não é bom.

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Cosmos: uma cansativa parada de sarcasmos irrisórios e grotescos datados DR

Há uma coisa boa no regresso após 15 anos sem filmar, do polaco Andrzej Zulawski: a irredutibilidade absoluta da sua atitude, a liberdade com que fez o filme que quis, como quis, fiel a si próprio e à sua reputação.

Cosmos, adaptação do romance de Witold Gombrowicz rodada em Portugal, é um filme consistente com a imagem irredutível do cineasta, como se se tivesse recusado a abandonar a aldeia gaulesa em que instalou definitivamente o seu cinema histriónico e epiléptico. Isso, no entanto, não torna Cosmos mais do que uma reiteração da fórmula em que Zulawski se instalou a dada altura - uma cansativa parada de sarcasmos irrisórios e grotescos datados, cujas tentativas de provocação niilista e sátira surrealista se perdem pelo meio de um frenesi histérico de non-sequiturs escarninhos e tiques formais.

Ainda a procissão vai no adro e já nos sentimos esgotados. Honra lhe seja feita, Cosmos é fita coerente com o que ele fez antes, mas essa coerência é também sinónimo de um cineasta prisioneiro do seu próprio sistema – o de A Fidelidade (2000) ou As Minhas Noites São Mais Belas do que os Vossos Dias (1989), mais do que o do sublime O Importante É Amar (1975). 

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