O feminismo é para toda a gente: eis o Rama em Flor

A primeira edição do festival, organizado pela Maternidade e pela ZDB, acontece em Lisboa de 7 a 17 de Setembro. The Knife em DJ set, Shopping, debates sobre identidade de género e sexualidade, e filmes sobre activismo feminista no pós-25 de Abril são alguns dos destaques.

Foto
Os The Knife só aceitam participar em festivais onde a representação feminina não fique abaixo da masculina

Não faltam festivais em Portugal, mas fazia falta um como este. Como este Rama em Flor, que reúne música, cinema, artes visuais, conversas e workshops sob uma perspectiva feminista, queer e de igualdade de género. A primeira edição acontece em Lisboa de 7 a 17 de Setembro pelas mãos da promotora Maternidade e da Galeria Zé dos Bois (ZDB), em parceria com o Lounge, as Damas, a Rabbit Hole e a Rua das Gaivotas 6.

O Rama em Flor é herdeiro do Ladyfest, um festival comunitário e feminista nascido em 2000 em Olympia (Washington), e que desde então tem sido importado por várias cidades. Apesar de a ideia inicial ter sido apresentar um Ladyfest Lisboa, o projecto acabou por se estender e ganhar as suas próprias nuances. E o seu próprio nome. “Partimos da música e do riot grrrl, mas é um festival transdisciplinar que quer tirar partido da diversidade e das diferentes comunidades que existem em Lisboa e torná-las mais próximas”, define Rodrigo Soromenho Marques, ideólogo desta iniciativa, da Maternidade e vocalista de Vaiapraia & As Rainhas do Baile.

A interseccionalidade é a palavra de ordem. No debate e na consciencialização de um feminismo interseccional e inclusivo, que se debruce sobre questões de raça, classe e transexualidade, e que desmantele construções normativas, hegemónicas e tóxicas de masculinidade e feminilidade, de identidade de género e sexualidade (temas abordados nos debates); e no próprio programa, plural e multifacetado, que procura gerar “espaços de encontro” e zonas de desconforto. “Ao teres sítios que já têm o seu próprio público consegues apanhar quem não está tão alerta para estas questões”, diz Daniela Ribeiro, da ZDB.

Na música, tal como no resto do programa, mulheres em maioria, num alerta para o falocentrismo dos alinhamentos dos concertos e festivais. Destaque para Shopping, trio britânico de pós-punk impaciente e epidérmico, com descendência das The Slits e The Raincoats, e para o rock em convulsão das lisboetas Clementine (ZDB, dia 9). Para The Younger Lovers, projecto do músico, escritor, coreógrafo e activista queer hiperactivo Brontez Purnell, com primeira parte das Ninaz (Damas, a 14). Para A Night Out With The Hard Ones, noite de Mário Valente e Trol2000 no Lounge, com o convidado Nic Fisher, do clube londrino Dalston Superstore (Lounge, a 16).

E para a festa de encerramento (ZDB, 17), programada por Syma Tariq, com Jejuno e Raw Forest numa colaboração em estreia, um live set da surpreendente produtora tunisina Deena Abdelwahed, e, entre outros, um DJ set-acontecimento-raro dos The Knife, dos irmãos Karin Dreijer (Fever Ray) e Olof Dreijer, que só aceita tocar em festivais onde a representação feminina não fique abaixo da masculina.

O ciclo de cinema, na ZDB, foca-se nas questões de género e lutas feministas em Portugal a partir de 1974 – atenção redobrada para os documentários do pós-25 de Abril da Cinequipa e para cineastas de uma geração mais recente, como Leonor Teles e Cláudia Varejão. Os debates trazem a academia à ZDB – “Identidades Transfeministas”, “DIY e Feminismos” e “Arte e Feminismos” são algumas das temáticas. Há ainda a exposição colectiva O Teu Corpo A Tua Arena, na Rua das Gaivotas 6, inspirada na obra Your Body is a Battleground, de Barbara Kruger.

Sugerir correcção
Comentar