Na antecâmara do Tremor anunciado para Ponta Delgada

A segunda edição do festival que agita a capital micaelense com concertos espalhados pelo seu centro histórico acontece sábado. Mas Ponta Delgada já mexe.

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Concerto de Duquesa, Tremor na Estufa Rui Soares
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Concerto de Duquesa, Tremor na Estufa Rui Soares
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Concerto de Duquesa, Tremor na Estufa Rui Soares

Na escadaria que conduz à Academia das Artes em que se transformou a Igreja da Graça, no Largo Camões, está montada uma escultura feita com paletes de madeira. A Academia das Artes já existia, a escultura está ali a assinalar o que se aproxima. A antiga igreja será um dos dezassete palcos do Tremor, o festival que no próximo sábado ocupará todo o centro histórico de Ponta Delgada com concertos e o animado corrupio de gente palmilhando as ruas em busca de música, convívio, inspiração.

Ainda a 24 horas do arranque oficial, já é óbvio que o festival co-organizado pela Yuzin, agenda cultural sedeada em Ponta Delgada, e a Lovers & Lollypops, editora e promotora portuense, cresceu em dimensão e parece igualmente óbvio que crescerá em público.

Quinta-feira, às Portas da Cidade, aglomeram-se dezenas de pessoas numa paragem de autocarro. Não sabem onde irão, não sabem o que irão ver, mas aguardam com entusiasmo curioso. Ainda não sabem, mas esperam o autocarro que, lugares sentados esgotados, lugares em pé ocupados, os levará à Fajã de Baixo para ver um mini concerto de Duquesa no interior de uma das estufas da plantação de ananases Arruda, enquanto o sol cai no horizonte e a penumbra torna mais íntimo o concerto intimista do vocalista dos Glockenwise. O Tremor ainda não estremece verdadeiramente, mas sente-se, digamos, um arrepio agradável.

As actividades para o público começaram quarta-feira, com outro dos concertos surpresa a que a organização chama, muito apropriadamente para quem viu o supracitado concerto de Duquesa, Tremor na Estufa, e com a exibição no Teatro Micaelense de Driving Without License, documentário do Canal 180 dedicado ao Primavera Sound portuense, e do documentário (mas não exactamente) sobre e com Nick Cave intitulado 200000 Dias na Terra.

Enquanto isso, a equipa responsável pelo Tremor mantém-se numa azáfama constante. Há que preparar as Igrejas, os auditórios, os bares, os clubes, os solares onde veremos no longo sábado que se aproxima nomes portugueses como Bruno Pernadas, Medeiros/Lucas, Black Bombaim, Sensible Soccers ou Moullinex, catalães como os ZA! ou a colombiana Lucrecia Dalt ou americanos como Emperor X ou Bitchin Bajas – uma diversidade de géneros (rock psicadélico, música tradicional revisitada, pop grandiloquente, electrónica bem oleada, pop portátil, vanguarda inclassificável) que se deseja lúdica, desafiante e inspiradora, “num movimento que cria sinergias e colaborações para agitar por dentro a cidade”, como se lê no programa do festival. Daí o Tremor não se circunscrever à música que veremos nos palcos do centro histórico da cidade que comemora 469 anos.

Esta sexta-feira prossegue o workshop de improvisação que os Eduard Pou e Pau Rodriguez, os ZA!, que resultará sábado em apresentação pública. Nesse mesmo dia, Pedro Augusto, produtor portuense que assina hoje como Live Low (conhecíamo-lo como Ghuna X), dará um outro workshop, este de mistura e masterização. Isto porque o objectivo deste festival não é circunscrever-se a um dia e à memória dos concertos. É ser, numa escala de proximidade, estímulo para acção criativa nos restantes dias do ano.

Nós podemos pensar em tudo aquilo enquanto caminhamos pelas ruas de Ponta Delgada, enquanto ouvimos os micaelenses falar das mudanças que trarão os voos low-cost para a ilha que se iniciam no domingo ou da inauguração, no mesmo dia, do Centro de Artes Contemporâneas na Ribeira Grande, obra nomeada para o Prémio Mies Van der Rohe. Os músicos e o público vindo de fora, atraído pelo sucesso da edição de estreia, pode viajar pela ilha para descobrir as maravilhas que ela tem para oferecer. Enquanto isso, os operários que formam equipa continuam a trabalhar na sombra, infatigáveis. O festival, na verdade, já começou, mas há que assegurar que o Tremor fará jus ao nome no seu dia oficial.

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