Morreu o escritor francês Michel Tournier

O autor que recebeu o Prémio Goncourt em 1970 pelo romance O rei dos álamos tinha 91 anos.

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Michel Tournier fotografado em 2005 AFP / CATHERINE GUGELMANN

O escritor Michel Tournier, um dos grandes autores franceses da segunda metade do século XX, Prémio Goncourt  pelo romance O Rei dos Álamos, em 1970,  morreu esta segunda-feira aos 91 anos, em sua casa, perto de Paris, disseram os seus familiares à AFP.

Considerava-se um discípulo de Zola e de Flaubert. Gostava de dizer que escrevia para os seus leitores e para ser lido e acreditava que “a função da literatura é a de enriquecer o diálogo entre as pessoas”, disse-o numa entrevista ao PÚBLICO, em 1991, na sua primeira visita a Portugal onde esteve a fazer conferências, em Lisboa e no Porto, e a visitar escolas.  

Michel Tournier nasceu em Paris em 1924 e estudou filosofia na Sorbonne, onde foi aluno de Gaston Bachelard. Mais tarde, apaixonou-se pela obra de Claude Lévi-Straus, de quem foi também aluno no Musée de l’Homme. Vindo de uma família de germanistas (os seus pais conheceram-se na Sorbonne onde estudavam alemão) partiu para a Alemanha, para a Universidade de Tubingen onde esteve entre 1946 e 1950.  Mas não só na academia foi a sua vida. Antes de se dedicar a tempo inteiro à escrita, foi produtor e realizador na RTF (1949-1954), assessor de imprensa da Europe 1 (1955-1958), chefiou os serviços das edições Plon entre 1958 e 1968 (onde também foi tradutor) e foi produtor da televisão francesa.

Era membro da Academia Goncourt desde 1972 e é autor de uma obra vasta, que vai do conto ao romance, da crónica ao texto autobiográfico, do ensaio aos livros para crianças e uma peça de teatro. Recebeu o grande prémio da Academia Francesa pelo seu primeiro livro Sexta-feira ou os Limbos do Pacífico (Relógio d'Água), em 1967, que demorou dois anos a escrever. Seguiram-se o famoso O Rei dos Álamos (Dom Quixote), O Galo do Mato (Dom Quixote), Gaspard, Melchior e Balthazar (Dom Quixote), Giles & Jeanne (Dom quixote), Os Meteoros (Dom Quixote), A Gota de Ouro (Dom Quixote), Sexta-feira ou a Vida Selvagem (Ed. Presença).

As conferências que deu em Portugal, em 1991, tinham por título "Profession: conteur”, profissão: contador de histórias. Na época, deu também uma entrevista ao Expresso, onde explicava que fazia romances porque tinha falhado na filosofia. E lembrava, com humor, que um crítico, uma vez tinha questionado: “Por quanto tempo é que Tournier nos vai fazer pagar o seu falhanço na filosofia?”

Sobre a sua obra explicava na mesma entrevista :  “Conto histórias que parecem extremamente realistas, e que o são, mas que têm por detrás de si, escondido, todo um arsenal filosófico. E têm de ser histórias muito simples: quanto mais os meus livros podem ser lidos por um público jovem, mais eu alcancei o meu objectivo.”

Com o fotógrafo Lucien Clergue, e o historiador Jean-Maurice Rouquette, o escritor Michel Tournier fundou os Rencontres Internationales de la Photographie d'Arles, mais tarde baptizados apenas como Rencontres d'Arles. Tem textos inspirados por imagens fotográficas (Des Clefs et des Serres, 1979, e Vues de dos, 1981).

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