Morreu Billy Name, fotógrafo da Factory de Andy Warhol

O fotógrafo que se tornou o braço-direito de Warhol durante os anos 1960 morreu nesta segunda-feira, aos 76 anos, em Hudson.

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Billy Name (William Linich) fotografado na sua casa em Poughkeepsie, Nova Iorque, em 1997 Catherine McGann/Getty Images
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"Esta é uma das minhas fotografias preferidas que tirei a Andy", disse Billy, em 2014, ao jornal britânico The Guardian Billy Name/DR

William Linich, mais conhecido como Billy Name, é um dos mais importantes nomes da cena artística avant-garde nova-iorquina e do círculo de artistas que rodeavam Andy Warhol. Name foi o fotógrafo residente do seu estúdio, The Factory, e é graças a ele que hoje há um registo de todos os cantos daquele que era o mais rico ponto de encontro cultural na altura. Billy Name morreu nesta segunda-feira aos 76 anos, em Hudson, e já tinha vários problemas de saúde há algum tempo, incluindo diabetes. A notícia foi confirmada pelo seu agente, Dagon James, numa publicação feita no seu Instagram. "Para o mundo, ele era Billy Name. Para mim, era apenas Billy, uma alma bondosa, um artista brilhante e um dos meus melhores amigos."

O fotógrafo, que trocou a cidade natal de Poughkeepsie pela palpitante vida artística em Nova Iorque, cedo começou a cruzar-se com nomes como o músico LaMonte Young e o grupo Fluxus, do qual fazia parte Yoko Ono. Em 1959, aos 19 anos, conheceu Andy Warhol enquanto trabalhava num restaurante, e os dois tiveram uma relação amorosa que rapidamente se tornou numa colaboração artística.

O pai de Billy, barbeiro, costumava organizar eventos de cortes de cabelo em sua casa, e um dia Warhol foi conhecer o apartamento, deparando com paredes prateadas forradas com alumínio no quarto de Billy. “O Andy não viu apenas a casa de alguém e pensou: ‘Que doido, tem folhas de alumínio em toda a parte.' Viu que eu tinha feito uma instalação”, disse Billy no livro Billy Name: The Silver Life. Warhol pediu que Name reproduzisse o trabalho na The Factory, uma antiga fábrica de chapéus na East 47th Street que era o seu estúdio.

Billy Name redecorou o espaço com uma pintura de tinta prateada e um preenchimento de folhas metálicas de alumínio. O trabalho evocava o estilo moderno de Warhol, mas em entrevista a Sean O’Hagan, do jornal britânico The Guardian, no ano passado, Billy Name disse que se inspirara na Ponte de Mid-Hudson em Poughkeepsie, nos arredores de Nova Iorque, que durante a sua infância sofreu uma intervenção.

A partir daí, Name, que era designer de iluminação, começou a fazer um pouco de tudo na Factory, desempenhando também as funções de arquivista, secretário, segurança e electricista. “Era com Billy que Warhol contava sempre”, escreveu Glenn O’Brien no prefácio do livro Billy Name: The Silver Age.

Um dia, Warhol disse a Name que pegasse na câmara e que tirasse fotografias, porque queria focar-se nos filmes. O fotógrafo capturou todos os cantos do estúdio e toda a gente que por ali passava, nomeadamente o conjunto de estrelas que entravam nos filmes de Warhol, como Edie Sedgwick, Candy Darling, Baby Jane Holzer e Joe Dallesandro.

Billy Name fotografou ainda visitantes como Bob Dylan e os Velvet Underground. As suas imagens foram usadas no disco Velvet Underground & Nico, o terceiro álbum da banda e o primeiro produzido por Warhol. Billy é mencionado na música That’s the story of my life. “As fotografias do Billy foram as únicas a conseguir capturar o espírito da Silver Factory nos anos 1960”, escreveu Andy Warhol no seu livro de memórias, Popism: The Warhol Sixties, de 1980.

A Factory mudou-se para a Union Square no início de 1968, onde Billy Name, então viciado em anfetaminas, se refugiava na sua câmara escura, onde chegava a ficar às vezes durante meses. “Lembro-me de que estava sempre na Factory”, recorda John Cale no livro Billy Name: The Silver Life. Em 1970, dois anos depois de encontrar Warhol ensaguentado devido à tentativa de assassínio feita por Valerie Solanas, Billy Name deixou a Factory. "Querido Andy, já não estou aqui, mas estou bem", escreveu na nota que deixou à porta da câmara escura. O fotógrafo partiu, então, para São Francisco, onde passou a dedicar-se à poesia e a fazer performances.

Um dos últimos nomes vivos da Factory, o actor Joe Dallesandro, prestou homenagem a Billy Name no seu Facebook. "Em breve, todos nós partiremos, mas a nossa história está gravada graças ao Billy.” Capturadas entre 1964 e 1968, as mais de 400 fotografias a preto e branco de Billy Name são, além de obras de arte, um importante registo da vida cultural nos Estados Unidos naquela época.

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