Ministro da Cultura elogia parceria para valorizar acervo do Museu de Beja

Busto identificado como representando Júlio César e uma pintura Ecce Homo do século XV estão entre as peças mais relevantes da instituição alentejana.

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Busto de Julio César foi achado em Beja em 1900 DR

O ministro da Cultura elogiou este sábado a parceria entre várias instituições para valorizar o acervo do Museu Regional de Beja, que permitiu identificar o busto que "vivia" anónimo no museu, como sendo Júlio César, o líder militar e político que está na origem do Império Romano.

Segundo Luís Filipe Castro Mendes, a parceria é "uma aliança virtuosa e activa" entre o Ministério da Cultura, através da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, que gere o museu, o Laboratório Hércules da Universidade de Évora e o Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra, com o apoio mecenático da Fundação Millennium BCP.

O ministro falava na cerimónia que decorreu no Museu Regional de Beja, para apresentação dos resultados da primeira fase do projecto de valorização do seu acervo. A primeira fase permitiu restaurar e "trazer à luz novos conhecimentos" sobre três obras do acervo do museu: uma escultura romana do século I e duas pinturas portuguesas dos séculos XV/XVI.

A "grande revelação" da primeira fase do projecto é a confirmação da identificação da escultura romana, um busto esculpido em mármore, que foi achada em 1900 durante trabalhos de demolição de parte da muralha de Beja e, desde então, esteve guardada no acervo do museu de forma anónima, já que existiam dúvidas sobre a sua identificação, disse o ministro.

Segundo a arqueóloga Conceição Lopes, a escultura era apresentada como uma "cabeça de estátua romana, figura masculina", mas, graças ao trabalho desenvolvido no âmbito do projecto, foi identificada como sendo uma representação e "um dos raros retratos" de Júlio César.

"Através do tratamento de limpeza e conservação efectuado, foi possível levar a cabo uma renovada leitura da peça, comprando-a com as descrições literárias da época e, sobretudo, com dois outros bustos análogos existentes fora de Portugal, um em Turim e o outro recentemente encontrado em França, para concluir que se trata do retrato do famoso imperador de Roma Júlio Cesar", explicou o ministro.

A escultura, de "qualidade excepcional em termos artísticos", é "uma cabeça de uma estátua monumental, que, seguramente, estava no fórum romano" de Beja, disse a arqueóloga do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património da Universidade de Coimbra.

Segundo Castro Mendes, cruzando os dados da análise ao busto com as recentes descobertas arqueológicas efectuadas na Praça de República de Beja, "pode-se confirmar" que a cidade "era uma importante urbe, já no tempo de Júlio Cesar, o que dá ainda maior crédito à identificação do retrato".

A primeira fase do projecto permitiu também datar a pintura Ecce Homo, um dos ex-libris do museu, e que representa Cristo velado, depois de flagelado, coroado de espinhos e "exibindo a dor e o sofrimento que hão de salvar a humanidade".

A datação dendrocronológica da madeira que suporta a pintura, realizada no âmbito do projecto, permitiu remeter a obra para o último quartel do século XV e apontar a data de execução por volta de 1502, disse António Candeias, do Laboratório Hércules, da Universidade de Évora.

A pintura "terá sido executada no final do século XV, ou no princípio do século XVI", e será "anterior" às outras duas pinturas do Ecce Homo conhecidas em Portugal, e que estão integradas nas colecções do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, e do Museu do Convento de Jesus, em Setúbal, explicou António Candeias.

"Isto é particularmente relevante", porque as datações realizadas apontam a data de execução da pintura do MNAA para cerca de 1570 e a do Museu do Convento de Jesus para 1540, ou seja, "Beja tem a pintura do Ecce Homo mais antiga", frisou António Candeias.

A primeira fase do projecto permitiu ainda atribuir a autoria da pintura A apresentação da Virgem no templo, cujo autor era desconhecido, ao maneirista Francisco de Campos, também autor de Virgem da Rosa, que faz igualmente parte do acervo do museu, acrescentou António Candeias.

"O Museu Regional de Beja confirma-se assim como um lugar de património de qualidade excepcional, o que não poderá deixar de ser tido em conta pelo Estado, em articulação com o poder municipal", frisou o ministro da Cultura.

Antes da cerimónia no museu, Castro Mendes visitou as obras de construção do Centro de Arqueologia de Beja e as escavações da Casa da Moeda, do século XVI, e do fórum romano de Beja, num quarteirão junto à Praça da República, no centro histórico da cidade.

"Fiquei profundamente impressionado com as escavações", porque "puseram a descoberto vestígios, que, pela sua importância histórica e monumentalidade, serão divididamente musealizados", ficando à disposição do público, não só "uma memória permanente com grande potencial educativo do passado romano de Beja, a famosa Pax Julia, mas também de toda a rica história desta cidade", disse o ministro.

 

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