Manuel de Oliveira revê Iberia em concertos “bastante intensos”

O guitarrista Manuel de Oliveira apresenta Iberia em três concertos seguidos: Lisboa, Guimarães e Porto. O primeiro é esta quinta-feira, no CCB.

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Manuel de Oliveira entre Jorge Pardo (sopros) e Carles Benavent (baixo) JOSÉ CALDEIRA

Nasceu em Guimarães, em 1978, e muitos conhecem-no daí. Aliás, é dele a concepção e produção da cerimónia oficial de abertura da Capital Europeia da Cultura 2012, na sua terra natal. Mas Manuel de Oliveira, guitarrista, para além de trabalhar com muitos outros músicos (Hélder Moutinho, António Chaínho, Dulce Pontes, Janita Salomé e Vitorino, entre outros), tem apostado na última década numa formação que o juntou a dois músicos que integraram o sexteto de Paco de Lucía: Jorge Pardo (sopros) e Carles Benavent (baixo). Chamou-lhe Iberia e é a ele que volta agora, em três concertos consecutivos. Primeiro em Lisboa, no CCB, esta quinta-feira pelas 21h, depois em Guimarães, no CAE São Mamede, dia 29 às 21h, e por fim no Porto, na Casa da Música, no dia 30 às 21h30.

O pretexto, dez anos após o início do projecto Iberia, é o próximo lançamento em DVD do concerto Iberia Live, gravado em Guimarães, em 2012 (já saiu a público um CD com alguns temas, junto com a revista Blitz). Nessa altura apresentou-se em sexteto e agora voltará a fazê-lo, embora os músicos não sejam exactamente os mesmos. Além dele, de Pardo e Benavent, o trio fundador do projecto, estarão em palco João Frade (acordeão), Marito Marques (bateria) e Paulo Barros (piano). Isto além de duas vozes convidadas, Paulo de Carvalho e a cantaora flamenca Bego Salazar, e um grupo coral alentejano.

A formação de Manuel de Oliveira é autodidacta e fez-se muito por via familiar. “O meu pai, desde que eu me lembro, quando nós nos íamos deitar ficava na cozinha, que tem aquela acústica por causa dos azulejos, duas a três horas a tocar. E é um excelente professor de guitarra.” Mas o pai não teve a iniciativa de o ensinar a tocar, porque tentou ensinar o irmão mais velho e não resultou. Um dia, estava ele a ensinar a um amigo os primeiros passos na guitarra, quando Manuel, então com 7 anos, começou a intrometer-se. “Estava a olhar para a guitarra e a pensar: eu consigo fazer aquilo.” Quando o amigo saiu, o pai baixou a escala na guitarra e desafiou o filho: então faz lá. E ele fez e saiu-se bem. “Foi como se tocar a guitarra já estivesse dentro de mim.”

Paco de Lucía, um fascínio
Iniciado na guitarra, passou a acompanhar o pai muitas vezes e chegou a tocar com ele em grupos de baile. “Horas e horas, ficávamos com os dedos doridos.” E formou com o irmão uma banda de rock: Os Bispos. A ligação ao flamenco, que hoje é um dos seus principais traços identificativos, veio também através do pai e do gosto que ele tinha por música sul-americana. Quando o pai emigrou para a Alemanha, tinha Manuel 15 anos e ficou por cá, “um bocado em terra de ninguém.” A escola não lhe correu com queria e, cada vez que o pai lhe ligava de Hamburgo, ficava com mais vontade de ir ter com ele. Foi, e o pai (que era contra tal ida) ofereceu-lhe uma guitarra no dia seguinte. “Disse-me: toma, vais tocar. E eu tive as melhores experiências, até a tocar na rua.”

Ouviu muitos músicos ao vivo, mas o momento decisivo foi quando um alemão amigo do pai lhe entregou um DVD, dizendo: “Se queres tocar flamenco, tens que ouvir isto”. Era o filme do Carlos Saura e a passagem com o Paco de Lucía fascinou-o em absoluto: “Descobri que uma guitarra podia ser um protagonista. E o acompanhamento daqueles dois músicos extraordinários punha aquele flamenco muito à frente.”

Os músicos eram Jorge Pardo e Carles Benavent, que ele conheceria mais tarde. Juntos, fizeram Iberia. “Procuro sempre espaços de improvisação, músicos com personalidade. Como todos aqui imprimem grande emoção na música, estes concertos vão ser bastante intensos.”

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