Les Fantômes d'Ismaël abre 70.ª edição do Festival de Cannes

Em competição estão os novos filmes de Sofia Coppola, Jacques Doillon, Michael Haneke, Todd Haynes, Hong Sang-Soo, os irmãos Safdie, François Ozon ou Yorgos Lanthimos.

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Arnaud Desplechin
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Louis Garrel como Jean-Luc Godard em Redoutable, de Michel Hazanavicius
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The Beguiled, de Sofia Coppola
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L'Amant Double, de François Ozon
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Vincent Lindon em Rodin

Acaba de ser anunciado pelo delegado-geral do Festival de Cannes, Thierry Frémaux: a edição 70 vai ser inaugurada por Les Fantômes d'Ismaël, de Arnaud Desplechin. Em competição estão os novos filmes de Sofia Coppola (The Beguiled), Michael Haneke (Happy End, com Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant e Matthieu Kassovitz), Michel Hazanavicius (Redoutable, cuja personagem principal é Jean-Luc Godard, tal como visto por Anne Wiazemski, que foi sua companheira – Godard é interpretado por Louis Garrel), Todd Haynes (Wonderstruck), os irmãos Safdie (um heist film com Robert Pattinson e Jennifer Jason Leigh), François Ozon (L'Amant Double, com Jacqueline Bisset), Yorgos Lanthimos (The Killing of a Sacred Deer, com Collin Farrell, Nicole Kidman e Alicia Silverstone) ou o coreano Hong Sang-Soo (The Day After), que para além do título em concurso estará em Cannes, fora de competição, com o filme que rodou no ano passado na Croisette com Isabelle Huppert, enquanto a actriz esperava pela apresentação de Elle, de Paul Verhoeven: Claire's Camera.

São 18 os títulos em concurso: ainda, Jacques Doillon (Rodin, com Vincent Lindon, prémio de interpretação em Cannes por A Lei do Mercado), Loveless, de Andrey Zvyagintsev, You Were Never Really Here, de Lynne Ramsay, Jupiter's Moon, de Kornel Mandruczó, A Gentle Creature, de Sergei Loznitsa, Radiance, de Naomi Kawase, 120 battements par minute, de Robin Campillo, In The Fade, de Fatih Akin, The Meyrowitz Stories, de Noah Baumbach, e Okja, de Bong Joon-Ho, filme, com Tilda Swinton e Jake Gyllenhaal que é produzido pela Netflix – qualquer resistência que o maior festival de cinema do mundo possa ter em relação a seleccionar títulos que serão vistos em streaming e não em sala estão a ser vencidas pela marcha do tempo (Frémaux disse-o de outra maneira, no Q&A a seguir à apresentação: Cannes tem de dar conta da actualidade).

O conjunto – os filmes em concurso e ainda os filmes fora de competição que formam a totalidade da selecção oficial – foi fechado, segundo Frémaux, já esta madrugada. O delegado-geral deu sinais, na conferência de imprensa que se realizou em Paris, de que o processo que se vem desenrolando há meses, e que teve como base de escolha perto de duas mil longas-metragens, foi "tenso", dificuldades acrescidas pelo facto de vários dos tão falados abonnés de Cannes, os valores que têm feito o establishment do festival e de um modelo de cinema que cruza o filme de autor e o espectáculo das estrelas, não terem ainda obra pronta. Uma das "baixas" é, por exemplo, Abdellatif Kechiche. Seria o seu regresso depois da Palma de Ouro a A Vida de Adèle: adaptando La Blessure, la vraie, livro em que o escritor François Bégaudau contava o Verão dos seus 15 anos, a rodagem foi levando a adaptação para uma saga familiar que se concluiu em dois filmes, não um - o que levanta problemas de direitos que estão a ser resovidos pelos tribunais franceses, por isso Les dés sont jetés e Pray for Jack estão neste momento num limbo.

"Alegre, colectivo e humano"

Desplechin abrirá o festival com Les Fantômes d'Ismaël, filme sobre um cineasta que se prepara para a aventura de novo filme no momento em que um antigo amor reaparece (Mathieu Amalric, Marion Cotillard, Charlotte Gainsbourg e Louis Garrel no cast), depois de ter sido membro do júri na edição anterior. E depois de, antes disso, ter estado na origem de um dos momentos polémicos da selecção de 2015: ou melhor, depois do seu Trois souvenirs de ma jeunesse ter sido recusado por Frémaux na competição desse ano e isso ter ajudado a que fosse um dos acontecimentos da secção rival Quinzena dos Realizadores. O processo de pacificação entre a selecção oficial e Desplechin foi-se fazendo, a sua escolha como membro do júri no ano seguinte fez parte do processo de cicatrização, como Frémaux conta no seu diário Sélection Officielle (editado este ano). O homem que Cannes 2017 escolheu para cineasta de abertura, fora de concurso, foi entretanto coroado, pela indústria francesa, com o César de melhor realizador.

Fora de concurso em Cannes 2017: Takashi Miike, John Cameron Mitchel (How to Talk to Girls at Parties, outra vez Nicole Kidman), Visages, villages, de Agnès Varda et JR, uma viagem pela França profunda. Sessões especiais: para além do filme que Hong Sang-Soo filmou de um fôlego com Huppert na Croisette, destacam-se Napalm, de Claude Lanzmann, Sea Sorrow, de Vanessa Redgrave, 12 jours, de Raymond Depardon.

Na secção Un Certain Regard, sobressaem Mathieu Amalric, com Barbara (um biopic da cantora, interpretada por Jeanne Balibar), ou Laurent Cantet, com L'Atelier, sétima longa-metragem  Cantet já recebeu uma Palma de Ouro em 2008, com A Turma.

O festival decorre de 17 a 28 de Maio, com o júri a ser presidido por Pedro Almodóvar. Acontecimentos especiais, que celebram este número redondo, a 70.ª edição, convocando "amigos" do festival: dois episódios de Twin Peaks, série a que David Lynch regressou; uma curta-metragem, sete minutos realizados por Alejandro González Iñárritu e fotografados por Emmanuel Lubezki, Carne y arena, marcam a entrada da realidade virtual no festival e provam, diz Frémaux, que "é uma arte e não apenas uma técnica" – serve de antestreia a uma instalação que mais tarde vai ser apresentada na Fundação Prada, em Milão; 24 Frames, de Abbas Kiarostami, que é também uma homenagem a uma aventura cinematográfica que teve algumas das suas páginas gloriosas escritas em Cannes; ainda, Top of the Lake, série de Jane Campion, a única realizadora a ter recebido a Palma de Ouro.

A secção Quinzena dos Realizadores anunciará o seu programa no dia 25. Um dia antes será a vez da Semana da Crítica.

Thierry Frémaux e Pierre Lescue, o delegado-geral e o presidente, desejam um festival "alegre, colectivo, e humano". Assim o permitam as eleições francesas, a Coreia do Norte, Donald Trump e a Síria.

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