Laurent Filipe: “Muita da música que escolho tem de ter um lado satírico”

O músico está de volta, em quinteto, com dois convidados: Pedro Moutinho e Rita Redshoes. Novo desafio, esta sexta-feira no Centro Cultural de Belém.

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Laurent Filipe DR

O instrumentista e compositor Laurent Filipe continua a apostar no formato que o tem ocupado nos últimos 15 anos, depois de outros tantos a gravar instrumentais com trompete e fliscorne: o da canção. “Porque”, diz ele, “é o que desafia o autor da letra a conseguir encaixar a música ou o contrário, o processo criativo é mais completo”. E há também a temática escolhida. “A que me inspira é agridoce, não me interessa estar a escrever sobre banalidades, quando há tanta coisa escrita. Muita da música que escolho tem de ter um lado satírico, de crítica social, ou mordaz, porque senão não faz sentido.”

É com tudo isto presente que toca esta sexta-feira no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, às 21h. Com ele estarão quatro companheiros habituais nestas lides: Mário Delgado (guitarras), Bruno Santos (guitarra), Massimo Cavalli (contrabaixo e baixo eléctrico) e Alexandre Frazão (bateria). E dois convidados especiais: Pedro Moutinho, o irmão mais novo do “trio” que inclui Camané e Helder Moutinho; e Rita Redshoes.

Com 16 discos em nome próprio num percurso musical de mais de 35 anos, sendo os mais recentes Canções e Duetos (2011), Tango Frio (2013) e As (im)prováveis (2016), Laurent toca mas também canta. “Não me preocupo muito com a minha capacidade vocal, porque nunca me considerei um cantor profissional. Para mim a voz é uma forma de transmitir o que as letras que escrevo podem ter de mais relevante. Se o faço bem ou mal… Preferia fazê-lo bem, obviamente. Mas o importante é o tema, é a música. Porque também toco temas que são canções sem palavras, mas têm por trás uma história.”

Fliscorne, o preferido

Já quanto aos instrumentos que toca, Laurent diz que tem vindo acentuar a preferência por um deles: “O trompete é um instrumento com o qual eu sempre tive uma relação de conflito em termos estéticos, porque é muito difícil o som do trompete ser muito agradável. Então eu toco-o quase sempre com o som mascarado, com surdinas. Já o fliscorne é um instrumento que eu gosto de tocar e cada vez toco mais, porque é redondo, cónico, cilíndrico, o outro [o trompete] é abuzinado e este é um pássaro.”

O concerto do CCB vai abrir com três instrumentais interligados, como uma peça única: “Vou abrir com uma suite, três peças que eu já tinha escrito mas que tiveram uma adaptação para se encaixarem: Fado Romance, The movie with him e A luz. Com uma multiplicação do tempo de cada um, que vi que funcionava.”

Quanto aos convidados, Laurent justifica assim as suas escolhas: “Rita Redshoes tem uma parte interventiva social em relação às mulheres que me parece muito importante. O tema dela, Mulher, que deu um single, é de uma pertinência muito grande. E eu sempre estive ligado às causas do feminismo, no bom sentido.” Vão apresentar, juntos, Let’s call the whole thing off, de Gershwin, e Everytime we say goodbye (este em dueto vocal); por fim, ela cantará Mulher. Quando a Pedro Moutinho, fadista, diz Laurent: “Gosto muito dele a cantar, tem um timbre vocal muito agradável. E tem qualquer coisa de muito jazzístico que o aproxima um bocadinho do Chet Baker.” Pedro vai cantar no CCB O fado da contradição e De ti (um tema de Laurent que Zambujo gravou). O espectáculo deverá acabar (“em apoteose”, diz Laurent) com King of curry farsee.

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