Já se pode espreitar o biopic de Morrissey

Um trailer de dois minutos abre o véu sobre o aguardado England Is Mine, centrado no início de carreira do carismático vocalista dos Smiths.

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Jack Lowden interpreta Morrissey no filme England Is Mine dr
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Morrissey em 2012 Reuters/Eliseo Fernandez

England Is Mine, o biopic de Mark Gill que acompanha a adolescência e juventude de Morrissey, o icónico vocalista dos Smiths, na Manchester dos anos 70, só chegará às salas de cinema inglesas a 4 de Agosto, mas já há um breve trailer do filme para abrir o apetite.

Um dos produtores, Orian Williams, que já participara na produção de Control, biopic do malogrado líder dos Joy Division, Ian Curtis, revelou que England Is Mine termina quando Morrissey conhece Johnny Marr, um encontro que dará origem àquela que muitos consideram a melhor banda dos anos 80, The Smiths.  

Com argumento do próprio Mark Gill e de William Thacker, o filme, que se estreia este domingo, 2 de Julho, no Festival de Cinema de Edimburgo, é protagonizado por Jack Lowden, que encarna o jovem Morrissey. Conhecido pela sua participação na mini-série Guerra e Paz, da BBC, Lowden contracenará com Jessica Brown Findlay, a Sybil Crawley da série televisiva Downton Abbey, que interpreta a melhor amiga do músico, Linder Sterling, e Laurie Kynaston, escolhido para o papel de Johnny Marr.

Inicialmente intitulado Steven – o nome de baptismo do ex-líder dos Smiths é Steven Patrick Morrissey –, o filme é a história do triunfo de um adolescente deprimido na Manchester dos anos 70 que se torna uma das mais talentosas e carismáticas estrelas da música pop.

Quando o projecto ainda dava os primeiros passos, Mark Gill assumiu que England Is Mine, a sua primeira longa-metragem (foi nomeado para um Óscar pela curta The Voorman Problem, de 2011), seria “uma carta de amor” ao cantor e compositor, e prometeu um filme “tão dirigido ao público em geral como aos fãs incondicionais de Morrissey”. Um desígnio não muito fácil de alcançar, tratando-se de uma personalidade tão idiossincrática e tão pouco consensual. 

Do seu vegetarianismo militante à sua bissexualidade (ele prefere chamar-lhe “humanossexualidade”: “sou atraído por humanos, mas, claro, não por muitos”) –, das suas críticas à família real britânica às suas disputas legais com Mike Joyce, o baterista dos Smiths, a vida pessoal e as polémicas de Morrissey têm alimentado generosamente as páginas dos jornais.

Mark Gill também sugeriu que o filme iria mostrar que o intérprete de Heaven Knows I’m Miserable Now é, na verdade, um homem divertido, apesar do seu historial de depressões e da sua reconhecida visão amarga da vida. Muitas páginas da autobiografia que Morrissey publicou em 2013 confirmam esse seu humor contido, a começar pela passagem em que descreve a sua vinda ao mundo: “Claro que o meu nascimento quase matou a minha mãe, uma vez que a minha cabeça é demasiado grande”.  

Filho de um casal de irlandeses que emigrara de Dublin para Manchester pouco antes de ele nascer, Morrissey passou a infância num bairro operário e tinha 17 anos quando começou a tomar anti-depressivos, por prescrição médica. Atraído desde muito novo para a música, mas também (a mãe era bibliotecária) para a literatura, Morrissey iria tornar-se não apenas um talentoso compositor e cantor, mas também um dos mais brilhantes letristas de sempre.

England Is Mine apanha-o no momento em que se evade do seu quotidiano solitário e tristonho mergulhando na explosão de música punk que então eclodia em Manchester. Vocalista do grupo Nosebleeds no final dos anos 70, colaborou ainda efemeramente com os Slaughter & The Dogs. Foi neste meio que conheceu a artista plástica, cantora e performer Linda Sterling, fundadora da banda de punk-jazz Ludus, que se tornaria a sua amiga mais íntima.

Durante algum tempo, Morrissey ainda manteve uma carreira paralela de crítico de música e cinema, e chegou mesmo a publicar um pequeno livro sobre a banda punk americana The New York Dolls, uma das suas grandes influências, e outro dedicado ao actor James Dean.

Em Agosto de 1978, então com 19 anos, foi apresentado a um rapaz de 14, Johnny Marr, durante um concerto de Patti Smith no Apollo Theatre de Manchester. Quatro anos depois, Marr apareceu-lhe em casa a perguntar-lhe se não estaria interessado em criar uma banda com ele. O trailer de England Is Mine termina precisamente com Morrissey a abrir a porta a Marr.

A banda, já se sabe, veio a chamar-se The Smiths e lançou quatro álbuns que marcaram a música pop dos anos 80: The Smiths (1984), Meat Is Murder (1985), The Queen Is Dead (1986) – que a revista de música NME considerou, em 2013, o melhor álbum de todos os tempos – e Strangeways, Here We Come, de 1987. Nesse ano, os dois fundadores desentendem-se, os Smiths acabam e Morrissey estreia-se a solo com Viva Hate (1988), início de uma discografia pós-Smiths que já vai em dez álbuns. Mas essa a história que o filme de Mark Gill já não conta.  

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