Duas igrejas geminadas no Porto receberam estatuto de monumento nacional

Conjunto dos dois edifícios constitui uma cenografia de grande impacto visual na zona nobre do Porto. O terreiro da batalha das Linhas de Elvas também foi classificado.

Fotogaleria
“A implantação geminada de duas igrejas constitui uma raridade no panorama urbano nacional" Nuno Alexandre Mendes
Fotogaleria
O conjuntos das duas igrejas foi classificado Nuno Alexandre Mendes
Fotogaleria
O interior da Igreja do Monte do Carmo Nuno Alexandre Mendes
Fotogaleria
Interior da Igreja dos Carmelitas Nuno Alexandre Mendes
Fotogaleria
Interior da Igreja dos Carmelitas Nuno Alexandre Mendes
Fotogaleria
Os azulejos exteriores da Igreja do Monte do Carmo são do século XX Paulo Ricca
Fotogaleria
Igreja dos Carmelitas Descalços e Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo DR

O conjunto constituído pela Igreja dos Carmelitas Descalços e pela Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na Praça de Parada Leitão (Praça dos Leões), no Porto, foi classificado como monumento nacional através de um decreto publicado na sexta-feira em Diário da República.

“A implantação geminada de duas igrejas constitui uma raridade no panorama urbano nacional, constituindo uma cenografia de grande impacto visual na zona nobre do Porto setecentista, marcado pelo espírito do urbanismo iluminista”, sublinha o diploma. Esta implantação “permite a oportunidade de observar, lado a lado, dois edifícios de grande qualidade, ilustrativos da evolução histórica da arte em Portugal”, realça o texto legal, citado pela Lusa. 

"À circunstância invulgar, e de grande impacto urbano, da implantação de duas igrejas lado a lado, acresce o seu valor exemplar como testemunhos da evolução da arquitectura portuguesa entre os séculos XVII e XVIIII", diz o historiador de arquitectura Miguel Soromenho.  

O decreto refere que a Igreja dos Carmelitas Descalços, construída entre 1619 e 1628, representa “um bom exemplo de fachada maneirista erudita, encerrando valioso património retabular barroco e rococó, em notável estado de conservação e integridade”, que inclui um órgão de tubos e um retábulo-mor de José Teixeira Guimarães, grande mestre entalhador da segunda metade do século XVIII.

O historiador, que prefere não usar o termo maneirismo porque nem sempre se pode falar da superação dos cânones do classicismo pela via erudita, destaca aqui a sua filiação nos esquemas arquitectónicos seguidos em Portugal pelos carmelitas (Viana do Castelo, Évora, Cascais, etc.), que valorizam, por exemplo, fachadas com uma composição que associa figuras geométricas simples, pórticos tripartidos (com três portas), não deixando ao mesmo tempo de seguir as tendências da época para a simplificação e alguma austeridade decorativa. 

Quanto à Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, o documento nota que foi erguida entre 1756 e 1768, segundo projecto de José de Figueiredo Seixas, “nome fundamental da arquitectura nortenha entre o barroco e o neoclássico”, registando depois algumas alterações com o cunho de Nicolau Nasoni. “Trata-se de uma fachada exemplar do barroco pleno, na linha da estética contra-reformista então vigente.

Miguel Soromenho regista neste caso "o triunfo da gramática rocaille", no período pós-Nasoni, bem como a sua ligação a um arquitecto ainda pouco conhecido, Figueiredo Seixas. A ele se deve um dos primeiros tratados europeus de urbanismo, dado a conhecer há uns poucos anos por Rafael Moreira, em que o território era dividido numa quadrícula, a que as cidades se submetiam, fazendo uma articulação entre a cidade e um território mais amplo. 

Igualmente importante, é o interior da Igreja do Monte do Carmo, defende o decreto que classificou o edifício, com retábulos desenhados por um dos maiores mestres entalhadores portugueses, Francisco Pereira Campanhã, "correspondendo a uma obra de referência da estética rococó”. Soromenho lembra que a decoração em azulejo exterior da igreja, já do século XX, e embora de menor valia artística, "ocupa de qualquer modo um lugar icónico nas imagens populares da cidade do Porto".

Classificado um terreiro de batalha

Foi também classificado na sexta-feira como monumento nacional o terreiro da batalha das Linhas de Elvas, no sítio dos Murtais, na freguesia de Alcáçova. A  batalha, que ocorreu nos dias 14 e 15 de Janeiro de 1659, foi a primeira operação militar do período que ficou conhecido como Guerra da Restauração. O sítio inclui uma paisagem bem preservada, que coincide com a zona fulcral dos posicionamentos dos dois exércitos, o respetivo padrão comemorativo, "bem como a dimensão imaterial e memorial associada às implicações simbólicas e políticas da batalha", diz o decreto de classificação. O local "tem forte potencial arqueológico, constituindo-se como futuro estaleiro para a investigação pluridisciplinar da arte da guerra do período barroco", acrescenta o documento.

Notícia actualizada às 18h15 com declarações de historiador de arquitectura

Sugerir correcção
Comentar