Filhos de Johnny Cash não gostaram de ver o nome do pai ligado aos extremistas de Charlottesville

A família do icónico músico norte-americano publicou uma carta aberta a explicar por que razão ficou indignada ao ver um manifestante de extrema direita com uma t-shirt com o nome da lenda da folk. Cash, garantem, ficaria "horrorizado".

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Johnny Cash com as quatro filhas DR

Um manifestante de extrema-direita que participava na violenta marcha de sábado passado, em Charlottesville usava uma t-shirt com o nome de Johnny Cash, uma das maiores lendas da música folk e country norte-americana, e isso deixou a sua família indignada.

Numa carta aberta publicada pela sua filha Rosanne na rede social Facebook, condena-se os supremacistas e neo-nazis que se reuniram naquela cidade da Virginia e que, no confronto com contramanifestantes e com as autoridades, provocaram uma morte e vários feridos.

Johnny Cash, que morreu em 2003, aos 71 anos, e é autor e/ou intérprete de êxitos como I walk the line, Hurt (de Trent Reznor), Ring of fire (de June Carter Cash e Merle Kilgore) ou The man in black, ficaria horrorizado com qualquer associação do seu nome ou da sua imagem, ainda que casual, a uma “ideia ou causa baseada na perseguição e no ódio”, asseguram os seus cinco filhos (Rosanne, Cathy, Cindy, Tara e John Carter Cash), que assinam a carta. “O nosso pai, como pessoa, como ícone, como símbolo, não tem nada a ver convosco. Pedimos que o seu nome seja mantido bem longe dessa ideologia tão destrutiva e odiosa.”  

Os filhos de Cash acusam ainda os “supremacistas e neo-nazis” que marcharam em Charlottesville de “envenenar” a sociedade e de insultarem todos os americanos que lutaram na Segunda Guerra para derrotar as tropas – e o projecto – de Hitler. “Vários homens na nossa família alargada estão entre aqueles que serviram com honra”, escrevem.

E para deixar bem claro que o pai era um homem cujo “coração batia ao ritmo do amor e da justiça social”, lembram que Cash, cujo reportório inclui vários géneros e influências, da country e da folk ao rock, passando pelo blues e até o gospel, precebeu vários prémios de organizações humanitárias, incluindo as Nações Unidas, que apoiou campanhas pelos direitos dos índios americanos e que se opôs publicamente à Guerra do Vietname. “Ele falava pelos pobres, pelos que lutavam e se viam privados de direitos”, sublinham, chamando ainda a atenção para o trabalho que fazia nas prisões, chegando a dar concertos para os reclusos, por quem sentia uma imensa compaixão.

“O nosso pai disse a cada um de nós vezes sem conta ao longo da vida: ‘Crianças, podem escolher o amor ou o ódio. Eu escolho o amor’”, escrevem em resposta aos que acreditam que um ser humano pode ser superior a outro, aos que acreditam numa “hierarquia racial ou religiosa”.

A manifestação de 12 de Agosto em Charlottesville, a maior da extrema-direita dos últimos anos nos EUA, juntou milhares de supremacistas brancos, saudosistas nazis, membros da Ku Klux Klan, activistas da alt-right e demais grupos de ultranacionalistas a pretexto da recente remoção de uma estátua do general Robert E. Lee, que comandou as forças da Confederação na Guerra da Secessão. Uma mulher morreu e 19 pessoas ficaram feridas quando um carro atropelou uma multidão que protestava contra esta marcha da extrema-direita.

Notícia corrigida às 11h45 de 20 de Agosto para clarificar a autoria das canções Hurt e The ring of fire e precisar os géneros e influências do reportório de Johnny Cash

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