Escrever Caim foi um exercício de liberdade

Foto
O escritor fala do seu novo livro Carlos Manuel Martins (arquivo)

José Saramago afirmou, na noite de domingo, em Penafiel, que escrever o seu novo livro, “Caim”, constituiu, para si, “um exercício de liberdade”.

O escritor falava durante a apresentação mundial do livro, que se realizou no Museu Municipal de Penafiel, perante uma assistência de cerca de 800 pessoas, integrada na programação do festival literário Escritaria 2009, que homenageia o autor de “Memorial do Convento”.

“Não é que este livro seja mal comportado, mas é, sem dúvida uma insurreição, um apelo a que todos se animem a procurar ver o que está do outro lado das coisas”, disse.

O Prémio Nobel da Literatura de 1998, com 86 anos, falou cerca de uma hora e um quarto, e referia-se ao tema principal do livro, em que regressa à questão religiosa, contando, em tom irónico e jocoso, a história de Caim.

Segundo o Velho Testamento, Caim terá sido o filho primogénito de Adão e Eva, que matou Abel, seu irmão mais novo, num acesso de ciúmes, após verificar que Deus mostrara preferência por este.

“Nada disto existiu, está claro, são mitos inventados pelos homens, tal como Deus é uma criação dos homens. Eu limito-me a levantar as pedras e a mostrar esta realidade escondida atrás delas”, afirmou o escritor.

O lançamento do livro foi o último acto da presença de Saramago em Penafiel, onde está desde a manhã de sexta-feira, para participar na segunda edição do Escritaria, que se iniciou na quinta-feira.

O festival pretende “celebrar a carreira dos grandes autores portugueses de forma intensa e abrangente, criando no contexto urbano um conjunto de acções que sejam capazes de surpreender os penafidelenses e todos aqueles que nos visitem”, disse à Lusa Alberto Santos, presidente da Câmara de Penafiel, que organiza o evento, em parceria com as edições Cão Menor.

Alberto Santos considera o Escritaria “um investimento reprodutivo, altamente compensador, porque cria uma onda de interesse em Penafiel, impõe a cidade como um espaço dos afectos, do património, da cultura e das artes. Isto é um factor de coesão, identidade e auto-estima para a população”. No final da sessão do evento, considerou que “todos os objectivos foram atingidos”.

A segunda edição do evento - com um orçamento de 50 mil euros - incluiu sessões de teatro, com a companhia Éter, de Sintra, a apresentar a peça “Memorial do Convento”, baseada na obra homónima de Saramago, e de cinema, vários filmes inspirados na obra do escritor, entre eles “Ensaio dobre a cegueira”, do realizador brasileiro Fernando Meirelles.

“O festival gerou uma imensa onda de interesse a nível nacional e todas as suas manifestações tiveram grande participação, com sessões cheias, tanto as de teatro, cujo número de sessões teve que ser aumentado para acolher todos os interessados, como as de cinema e também os colóquios que tiveram assistências de 400 a 500 pessoas”, afirmou o autarca.

Toda a baixa da cidade foi decorada em homenagem à obra de Saramago, tendo sido palco de teatro de rua e de várias intervenções plásticas inspiradas nas criações de José Saramago.

“Sabemos que para o ano vamos ter que trabalhar muito para manter o nível que esta edição atingiu, mercê da presença do José Saramago. Tudo faremos para que isso aconteça, ou, pelo menos, para chegar o mais perto possível”, afirmou Alberto Santos.

Sugerir correcção
Comentar