Embalados pelo tempo de Leonard Cohen

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Leonard Cohen actuou durante cerca de três horas e meia Nuno Ferreira Santos

Lisboa, Pavilhão Atlântico.
Domingo, 7. Às 21h. 
Quase cheio. 
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O tempo. Foram três horas e meia de concerto. São 78 anos naquele corpo. São canções eternas. São cantigas recebidas com entusiasmo em todo o mundo na actualidade, em parte também porque esteve muito tempo ausente dos palcos. Deixou as canções repousar. Deu-se a si a hipótese de descansar. Quando as reanimou, ganharam novo sentido. E ele, um novo alento. Talvez nestes tempos de cultura fragmentária necessitemos de canções assim, que nos façam acreditar na permanência.

As canções de Cohen são isso. Sólidas. Inamovíveis. Perfeitas, seja lá o que isso for. Começou com “Dance me to the end of love” e depois seguiu logo para “The future”. O tempo, sempre. Desde o seu regresso em 2008, foi a quarta vez que se apresentou em Portugal, e o público permanentemente com ele. Às vezes respeitoso. Outras vezes irrompendo em aplausos. Lá para o fim cantando em coro “So long, Marianne”. Palco e plateia unidos.

Ele, elegante, no seu fato escuro e no seu chapéu, umas vezes dobrando-se sobre si próprio, outras saltitando e outras ajoelhando-se, como no inevitável “Halllelujah”, marcado por um solene solo de órgão, cantando com a leveza de quem conhece todos os cantos às palavras, mas ao mesmo tempo com a fundura de quem sabe a complexidade do que canta.

A cenografia do palco foi sóbria mas elegante. Os músicos, em simbiose com ele, respeitando o seu primado, maduros como ele, sabendo ouvir e ouvir-se, não se perdendo em malabarismos técnicos. Essa foi aliás uma das ideias predominantes: a sobriedade. Há algumas melodias novas, há alguns desvios à norma das canções, mas é tudo feito de forma subtil. 

Mesmo quando foram tocadas algumas das canções do novo álbum (“Old Ideas“) que poderiam exibir melodias mais excessivas, os arranjos foram justos, com aquele balanço harmonioso feito de várias tonalidades (jazz, folk, gospel) que desaguam naquelas palavras e voz. 
Até ao intervalo houve canções do novo disco e outras coisas como “Everybody knows”, “Waiting for the miracle” ou “Anthem”. A segunda metade foi ainda melhor, como se os músicos até aí estivessem apenas a aquecer. “Tower of song” embala a audiência e prepara-a para a “Suzanne”, um dos momentos mais intensos, seguindo-se outras que toda a gente conhece como “I’m your man” ou “Take this waltz”, ovacionada de pé, já com uma pequena multidão em frente ao palco que havia abandonado as cadeiras da plateia.

Pelo meio brilham também as cantoras de apoio, com destaque para Sharon Robinson, e mais canções eternas como “First we take Manhattan” ou “Save the last dance for me”, que termina o último de três “encores”. Numa das vezes que se dirigiu ao público, Leonard Cohen havia dito: “espero encontrar-vos mais vezes no futuro, se não acontecer, prometo-vos que hoje daremos tudo.” A promessa foi totalmente cumprida.

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