Eleanor Friedberger vem mostrar como uma canção pode ser irresistível (e a seguinte também)

O terceiro álbum, New View, que apresentará este sábado no Musicbox, em Lisboa, não se desvia do que nos mostrou anteriormente. Não precisa. A cantora que conhecemos nos Fiery Furnaces sabe na perfeição como criar uma nova melodia que sentimos conhecer desde sempre.

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Eleanor Friedberger foi vocalista dos Fiery Furnaces e estreou-se a solo em 2011, com Last Summer DR

Quando surgiu era a mulher que dava voz, aquela voz cantada e quase falada, que era a forma de encaixar no compasso as mil palavras que Matthew Friedberger, o irmão, lhe oferecia nas canções dos Fiery Furnaces. Com Matthew, Eleanor Friedberger criou uma das discografias mais surpreendentes e fascinantes do rock das últimas duas décadas, verdadeiro palco de experiências onde se conjugavam ambições conceptuais e prazer em contornar as regras habituais da composição musical, isto, e aí residia o génio da banda, enquanto esta se mostrava fiel descendente da vasta tradição da rock e do pop das últimas quatro décadas.

Aquela que subirá ao palco do Musicbox, em Lisboa, este sábado (22h, 12 euros, concerto seguido do blues rock da pérola açoriana King John) é outra e a mesma que víamos nos Fiery Furnaces. Outra porque as canções são agora as suas e o irmão Matthew já não está a seu lado. A mesma porque continuam as mesmas as qualidades da sua voz. Eleanor é capaz de entoar melodias inesperadas e, ainda assim, torná-las tão familiares como se as conhecêssemos desde sempre.

Desde que se estreou a solo, em 2011, com Last Summer, revelou-se uma compositora com um sentido apurado na construção de canções de corpo inteiro. E fá-las sem reinventar o que uma canção pode ser. “Interessa-me fazer um disco que se ouça do princípio ao fim e em que não haja um momento chato. Pressiona-se no play e deixa-se estar porque a canção seguinte vai ser trauteável”, dizia ao Ípsilon em 2013, quando da edição de Personal Record, o segundo da sua discografia a solo.

New View, o disco que editou em Janeiro deste ano, não altera o método e não lhe diminui o encanto. As suas canções são espaço para a novela pessoal contada na primeira pessoa, mas abertas o suficiente para que não a vejamos fechada nelas. E, depois, há aquela voz e as melodias que aquela voz canta. Quando surgem perante nós, nada há a fazer senão seguir com elas. Deixamo-nos estar porque sabemos que a próxima canção provocará o mesmo efeito. Não há como resistir.

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