É só menstruação, menstruação

Mulheres do Século XX é uma série de episódios inspirados à procura de um fio condutor que faça deles uma história, com um elenco em estado de graça.

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Cineasta bissexto oriundo da área mais hipster do indie americano, Mike Mills chega à terceira longa, depois de Chupa no Dedo (04) e Assim é o Amor (10), sem alterar significativamente o território em que se move: um olhar melancólico, afectuoso, sensível sobre a complexidade das relações familiares, escondido por trás de altas comédias aparentemente excêntricas mas resolutamente frágeis.

Mulheres do Século XX rima com o anterior Assim é o Amor na dimensão autobiográfica da história: onde aquele se inspirava na história verdadeira do pai de Mills, que se assumiu como homossexual já na velhice, este inspira-se na mãe do realizador, e no seu modo libertado e libertário de o educar na passagem dos anos 1970 para os 1980.

Tal como nos anteriores filmes, Mills prova ter olhar certeiro para os detalhes que emprestam verdade a uma personagem a uma história (como a linguagem profundamente feminista de mulheres que não têm problemas em usar “clitóris”, “menstruação” e outras palavras que deixam os homens desconfortáveis à mesa do jantar), e confirma ser um excelente director de actores com olho para o casting: aqui, a luminosa Annette Bening, Greta Gerwig em contra-corrente e Elle Fanning cada vez mais à vontade, e um estreante surpreendentemente sólido, Lucas Jade Zumann. Mas Mulheres do Século XX confirma também que a soma de episódios inspirados, intérpretes em estado de graça e referências da cultura pop como meio de situar instantaneamente a época não chegam para fazer um filme; tal como nos anteriores, é uma série de momentos à procura de um fio condutor que deles faça um todo, sem nunca o encontrar.

É mais um filme simpático de um realizador simpático mas que, mesmo no seu mais inspirado, não consegue desfazer-se do lado indie-xoninhas que o tornou conhecido – é pena, havia aqui um filmão à espera de ser encontrado.

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