Duas mortes eternas

Prince era um revolucionário. E o Pedro Cláudio também. Fazem falta.

As vidas e as artes de dois artistas foram interrompidas pela morte: Pedro Cláudio e Prince.

Com o Pedro Cláudio que publicou fotografias na revista K dava-me mal. Ele estava sempre a discutir. Defendia com a convicção dos verdadeiros estetas a maneira de ver e dar a ver as coisas que era a dele.

A grande fotógrafa Inês Gonçalves e o grande jornalista e produtor de moda Paulo Gomes faziam-me ver que o Pedro tinha razão e eu não. Abriram-me os olhos. Ajudaram-me a ver. Não há paciência nem amizade maiores do que este esforço generoso para educar e abrir o nosso olhar.

O Pedro era corajoso e indiferente à multidão. Era uma pessoa impossível - e sem vontade nenhuma - de influenciar. Como todos os (poucos) revolucionários a arma mais violenta dele era perguntar, sem ser preciso abrir a boca, "porque não?".

Prince era um génio musical cujo génio musical foi rápida e tranquilamente detectado por outro génio muito maior do século XX: Miles Davis.

A música de Prince, ao contrário da música de Miles Davis, não é toda genial. Mas Prince foi o primeiro e único músico completo, que escrevia e produzia todas as canções, tocando todos os instrumentos.

Paul McCartney (leia, se puder, a crónica de Adam Gopnik no mais recente New Yorker) também tentou fazer isso tudo mas saíu-se menos bem. É um génio da melodia mas tem um condão horrível para escrever centenas de canções entediantes.

Prince era um revolucionário. E o Pedro Cláudio também.

Fazem falta.

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