Quatro estreias portuguesas na nova Temporada de música da Gulbenkian onde haverá também Dudamel

O maestro Dudamel, o barítono Thomas Hampson, o compositor Jordi Savall, a cantora Angélique Kidjo, o fadista Ricardo Ribeiro ou a pintura de Bosch como inspiração para uma ópera são algumas das pontes entre pessoas e culturas em destaque na nova temporada de música da Gulbenkian.

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Foi apresentada esta quarta-feira a nova temporada Gulbenkian Música 2016-17. Um programa extenso onde os propósitos pedagógicos, com várias formas de fruir a música, e a vontade de intervenção num contexto incerto como hoje – funcionando a música como possibilidade de interligação entre as pessoas – se complementam com uma série de nomes conhecidos, do maestro venezuelano Gustavo Dudamel ao barítono americano Thomas Hampson, que funcionam como potencial de atracção.

Foi o Director do Serviço de Música, Risto Nieminen quem o disse: “a música deve ser para todos”, alertando para o papel que a música pode ter, para lá do entretenimento, no sentido da revelação de novos mundos interiores e exteriores. “A música faz parte da identidade da Gulbenkian” e "a democratização da cultura e da música clássica” é central na sua actividade, afirmou, exemplificando com o sucesso dos Concertos de Domingo, comentados pelos maestros, a preços convidativos.

A temporada abre a 4 de Setembro com a Orquestra XXI, uma formação composta por músicos nacionais a viver no estrangeiro, que apresenta uma versão encenada do Sonho de uma Noite de Verão de Mendelssohn com narração do actor Ricardo Pereira.

Logo a seguir tem lugar um dos grandes momentos da temporada: os concertos da Orquestra Sinfónica Simón Bolívar dirigida por Gustavo Dudamel, a culminar uma nova residência de formações do El Sistema na Gulbenkian. O arranque será dado pelo Quarteto de Cordas Simón Bolívar (5 Setembro), seguindo-se os concertos dirigidos por Dudamel, com a formação sinfónica, com obras de Paul Desenne, Heitor Villa-Lobos e Ravel, para além da obra mística de Olivier Messiaen, Sinfonia Turangalila (8 Setembro).

Esta residência junta-se à habitual da Orquestra Juvenil Gustav Mahler, que terá tradução em quatro concertos dirigidos por Lorenzo Viotti, vencedor do prémio Jovem Maestro do festival de Salzburgo, e pelo maestro britânico Daniel Harding. O programa contempla um conjunto de obras do repertório clássico sinfónico.

A Orquestra Gulbenkian promete um programa dedicado a Mendelssohn (9 Setembro), num concerto dirigido pelo maestro Hervé Niquet, dando início a uma digressão por cidades do Mediterrâneo. Outra digressão importante levará, mais tarde, a Orquestra Gulbenkian dirigida por Lawrence Foster, com o violoncelista Antonio Meneses, a São Paulo e Rio de Janeiro.

O Coro e a Orquestra Gulbenkian juntar-se-ão pela primeira vez esta temporada no Grande Auditório para dar a ouvir uma obra do repertório coral-sinfónico, a Missa em si menor de Bach, sob a direcção de Michel Corboz (5 e 6 de Outubro). Um dos momentos mais esperados dessa actuação conjunta acontecerá com a interpretação da música do conhecido compositor de bandas-sonoras de filmes Howard Shore durante a projecção do segundo filme da trilogia O Senhor dos Anéis de Peter Jackson.

Intérpretes de excepção não faltarão também. É o caso do barítono Thomas Hampson, que irá cantar o ciclo de canções A Trompa Maravilhosa do Rapaz, de Gustav Mahler, dirigindo em simultâneo a Orquestra Gulbenkian (30 de Setembro). A 21 de Dezembro voltará ao Grande Auditório para cantar duetos de ópera, opereta e teatro musical com o barítono Luca Pisaroni.

De regresso, em Abril de 2017, estará Waltraud Meier, com um repertório de Lieder de Mahler, acompanhada pela Orquestra dirigida por Frédéric Chaslin, o mesmo acontecendo com a soprano finlandesa Karita Mattila, acompanhada do pianista Ville Matvejeff, para um recital com peças de Brahms a Wagner (12 de Abril)

Outro regresso é o de Jordi Savall, defensor da música como veículo de entendimento entre povos, para apresentar As Rotas da Escravatura, cruzando músicas europeias e indígenas com artistas do Mali, Marrocos ou México, numa celebração da música como forma de resistência aos colonizadores.

No campo da ópera contemporânea, o compositor português Vasco Mendonça vai estrear Bosch Beach, no ano em que se assinalam 500 anos da morte do pintor flamengo Hieronimus Bosch. Baseada na tela Os Sete Pecados Mortais, com libreto de Dimitri Verhulst e encenação de Kris Verdonck é uma co-produção internacional que envolve a Gulbenkian e o Teatro Maria Matos (20 e 21 Outubro). Na conferência, Vasco Mendonça, garantiu que será uma obra que reflectirá também o nosso tempo a partir do “choque de civilizações e da culpa individual e colectiva.”

Outra estreia será a ópera Beaumarchais – inspirada em obras do escritor Pierre Beaumarchais – do compositor Pedro Amaral, com encenação de Jorge Andrade, numa co-produção da Gulbenkian, D. Maria II e da companhia mala voadora (22 de Junho e 2 de Julho de 2017).

Nas músicas do mundo destaque para Angélique Kidjo, figura bem conhecida da música africana que vem mostrar o álbum Eve (1 de Fevereiro). A brasileira Adriana Calcanhotto (3 de Fevereiro) juntamente com Arthur Nestrovsky proporá uma viagem pela música e poesia portuguesa e brasileira, enquanto António Zambujo cantará Chico Buarque (1 e 2 de Março).

A música enquanto edificadora de pontes entre pessoas e culturas acaba por estar também em destaque em Fado Barroco (14 Dezembro), onde os Músicos do Tejo, dirigidos por Marcos Magalhães, se aliam ao fadista Ricardo Ribeiro e à soprano Ana Quintans, numa viagem ao longo do tempo, cruzando autores tão diversos como Bach, Carlos Paredes ou Madredeus.

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