Custódia "extraordinária" de Santo Inácio de Bogotá brilha no Museu de Arte Antiga

La Lechuga, um tesouro barroco com quase 1.500 esmeraldas, permanecerá em Lisboa até 3 de Setembro.

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MIGUEL A. LOPES/LUSA

A Custódia da Igreja de Santo Inácio de Bogotá, na Colômbia, uma "peça extraordinária" do século XVIII, com quase 1.500 esmeraldas, e que levou sete anos a executar, estará exposta ao público a partir desta quarta-feira no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa.

A exposição em Lisboa deste tesouro mundial da arte barroca, de valor incalculável, é um "momento irrepetível", sublinhou o director do museu, António Filipe Pimentel, em declarações à agência Lusa.

Os incêndios que vitimaram pelo menos 64 pessoas em Pedrógão Grande e os atentados na Colômbia impediram a inauguração da exposição pelos presidentes dos dois países, um momento que o director espera que venha ainda a ser concretizado até ao início de Setembro, durante a permanência de La Lechuga no MNAA.

"Foi uma peça em que se investiu o máximo: o ouro, as esmeraldas, tornam-na única", diz o director do MNAA.  A abundância de esmeraldas dá-lhe "a cor verde intenso" que levou os colombianos a darem-lhe a alcunha de La Lechuga (a alface, em castelhano).

Ao todo, são 1.759 pedras preciosas encastradas numa base de ouro de 18 quilates sustentada por um anjo. As esmeraldas brilham ao lado de um topázio brasileiro, de pérolas de Curaçao e de ametistas da Índia, de diamantes africanos, de rubis do Ceilão (actual Sri Lanka) e de uma safira do Reino de Sião (actual Tailândia).

"Tudo isso faz desta obra uma síntese de culturas. A presença dela neste museu enche-nos de orgulho, já que apenas três museus do mundo irão beneficiar da possibilidade desta visita excepcional", comentou António Filipe Pimentel à Lusa, durante a apresentação à imprensa em que também marcaram presença os embaixadores de Portugal em Bogotá e a embaixadora da Colômbia em Lisboa. "Esta peça é uma espécie de bandeira nacional da Colômbia, é idêntica à importância que tem para os portugueses a Custódia de Belém", comparou o director do museu.

A peça, que sai da Colômbia apenas pela segunda vez (a primeira foi em 2015 e teve como destino o Museu do Prado, em Madrid), fica em Lisboa até 3 de Setembro, seguindo depois para o Museu do Louvre, em Paris, onde ficará de 19 de Setembro a 3 de Janeiro de 2018.

Para a inauguração da exposição, que inclui também uma escultura de Santo Inácio em tamanho natural, proveniente do Museu da Marinha, em Lisboa, estava prevista a presença do Presidente da Colômbia, Juan Manuel dos Santos, Nobel da Paz em 2016.

No entanto, devido ao cancelamento da agenda do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, devido aos incêndios no Centro do país, que provocaram já 64 mortos, o Presidente da Colômbia aceitou adiar a visita.

"Podia ser um momento para festejar, mas infelizmente não é devido às vítimas, quer em Portugal, quer nos atentados perpetrados na Colômbia", declarou o director do museu sobre o acto, que provocou três mortos em Bogotá e que levou ao cancelamento da visita prevista a Portugal para que o Presidente pudesse liderar as investigações.

Pimentel pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas dos dois países e sublinhou a importância de "estabelecer pontes na cultura", através de iniciativas como esta.

Por seu turno, a embaixadora da Colômbia em Lisboa, Carmenza Jaramillo, considerou uma "grande honra" ter conseguido trazer a obra de arte de Bogotá, "tão valiosa e importante para o país". "Sei que La Lechuga se sente tão bem em terras portuguesas como na Colômbia", acrescentou.

A Custódia da Igreja de Santo Inácio foi encomendada em 1700 pela Companhia de Jesus do então Novo Reino de Granada a José Galez, que a criou entre 1700 e 1707. Também conhecida como ostensório, a custódia é um objecto que serve para expor a hóstia consagrada em ocasiões religiosas solenes.

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