Curador da mostra de Miró em Serralves diz que colecção é um todo e deve ficar em Portugal

Ministro da Cultura mostrou-se agradado com a disponibilidade do presidente da Câmara do Porto para acolher o espólio do artista catalão.

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A colecção Miró foi desvendada, pela primeira vez, numa exposição em Londres realizada pela Christie's Suzanne Plunkett/ REUTERS

Robert Lubar Messeri, curador da exposição das obras de Joan Miró (1893-1983) que pertenceram ao Banco Português de Negócios (BPN) e actualmente estão na posse do Estado, já confirmada para ser inaugurada na Casa de Serralves no próximo dia 30 de Setembro, disse à agência Lusa que o conjunto das 85 peças deve ficar em Portugal, sem dispersão, e que merece ser mostrado em permanência.

Em respostas enviadas por correio electrónico, o especialista na obra de Miró e professor de História de Arte no campus de Madrid do Instituto de Belas Artes da Universidade de Nova Iorque sublinhou “não haver dúvida de que a colecção merece ser exposta permanentemente, numa instituição cultural portuguesa de alta categoria”.

Questionado sobre se concordava com a avaliação da colecção em 35 milhões de euros, que a leiloeira Christie’s estabeleceu como mínimo definido para um leilão que esteve agendado no início de 2014, mas que não chegou a ocorrer, Robert Messeri respondeu que “o valor económico da colecção é mais alto, mas que o valor cultural para Portugal ultrapassa os limites”.

“Tendo em conta que, com a Fundação Joan Miró, em Barcelona, e a Fundação Pilar e Joan Miró, em Palma de Maiorca, esta colecção forma um triângulo cultural na Península Ibérica, o seu valor é inestimável. Manter esta colecção como um conjunto tem um alto valor cultural, tanto para Portugal como para Espanha”, reafirmou o também director científico do grupo internacional de investigação Joan Miró.

O curador disse ainda à Lusa que as obras a serem expostas em Serralves no próximo Outono incluem “muitas, e muito destacadas” peças da carreira do artista catalão, que “demonstram as [suas] maiores preocupações artísticas”. “É uma colecção de qualidade muito alta, que nunca poderá voltar a ser construída no futuro. Diria que o conjunto faz sentido como um todo, sem ser enciclopédico. Dá-nos uma visão extremamente rica da trajectória artística de Miró”, acrescentou Messeri.

A colecção em causa, proveniente do antigo BPN, “inclui um total de 85 obras de Miró, do ano de 1924 até 1981”, nas quais se encontram “desenhos e outras obras sobre papel, pinturas (com suportes distintos)”, além de seis tapeçarias de 1973, uma escultura, colagens, uma obra da série Telas queimadas e várias pinturas murais.

A maioria da colecção estará exposta, “com excepção de umas quantas que não encaixam bem no tema da exposição, Joan Miró: Materialidade e Metamorfose", adianta o curador.

De acordo com a Fundação de Serralves, a mostra, que terá desenho arquitectónico de Álvaro Siza, vai incluir de 75 a 80 obras de Miró, na maioria desconhecidas do público.

Ministro afasta ideia de museu nacional

Entretanto, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, mostrou-se agradado com a posição manifestada, na segunda-feira, pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que assegurou que a cidade está interessada e tem condições para receber as obras de Joan Miró.

“Vemos com muito agrado e muita alegria, mas confesso que sem surpresa, a reacção positiva e entusiasmada [sobre os Mirós] do presidente da Câmara do Porto. Digo sem surpresa, não porque tivéssemos combinado previamente, mas porque não esperava outra coisa da cidade do Porto e do seu presidente”, disse Castro Mendes à Lusa, na terça-feira, em Idanha-a-Nova, quando participava nas comemorações dos dez anos do Geopark NaturTejo da Meseta Meridional – Geoparque Mundial da UNESCO.

“Agora vamos trabalhar seriamente para encontrar o espaço adequado para a exposição permanente que pretendemos dos Mirós”, acrescentou o ministro. Já sobre a questão – levantada por Rui Moreira – de se saber se o acolhimento da colecção Miró deverá ser feita num museu nacional ou municipal, Castro Mendes disse que não deverá ser um museu nacional. Caberá, contudo, ao Governo e à Câmara do Porto – explicitou – “encontrar um conceito, uma definição, um estatuto desse lugar de exposição permanente da colecção Miró”.

Questionado ainda sobre se a Fundação Serralves chegou ou não a ser opção para receber a exposição permanente dos Mirós, o ministro foi taxativo: “Nunca foi opção, nem para Serralves nem para o Estado, que Serralves ficasse com a exposição permanente”. “O espaço da Fundação de Serralves é necessário para outras coisas. A casa vai agora ser utilizada para a exposição temporária dos Mirós e vemos, com grande admiração, o trabalho notável e rigoroso que a fundação está a fazer na preparação desta exposição, que será assim mostrada, pela primeira vez, aos portugueses e a todos os visitantes”, concluiu.

Na sequência da entrevista que Luís Filipe Castro Mendes deu ao PÚBLICO, desafiando o Porto a acolher a colecção Miró, e da resposta, no início desta semana, de Rui Moreira reafirmando não só o interesse, mas a existência de várias possibilidades de localização para aquele espólio, a autarquia e técnicos do Ministério da Cultura iniciaram já os primeiros contactos para a identificação e escolha de um lugar para o efeito.

 

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